"Algumas questões precisam ser colocadas em pauta como forma de convencimento desse grupo, que ainda tem uma resistência em trabalhar com sustentabilidade dentro da produção agropecuária. [...] Obviamente estamos no sistema capitalista, ninguém quer perder dinheiro. Então eles precisam fazer a abordagem mostrando que é economicamente viável fazer uma produção sustentável. Não só é viável como se consegue ter os selos, certificações que vão dar direito a aumentar o preço do produto [para vendas ao exterior]. Ter uma incrementação no preço do produto final, que é exatamente o que o capitalismo busca. Na verdade é ganha-ganha: se aumenta a longevidade da sua área e se consegue ganhar no produto final em função da qualidade e de tipos de mercado internacional que você pode acessar. A abordagem precisa ter sentido", explica.
"O processo de degradação leva ao empobrecimento do solo, e fazer a recuperação dessas pastagens traz ao enriquecimento e melhoria da qualidade desse solo, principalmente quando a gente fala de recuperação de pastagem", observa. "Quando se faz recuperação de uma área degradada (e as pastagens são um tipo de área degradada), há uma recuperação de serviços ecossistêmicos. Ou seja: qualidade do solo, qualidade do ar, qualidade e quantidade de água, dependendo de onde são essas áreas. O meio ambiente não tem uma resposta única para as ações que a gente faça, vai variar de local para local. Mas o que a gente espera é um retorno dos serviços ecossistêmicos. Então [se espera] recuperar fertilidade do solo, recuperar atividade microbiológica desses solos, recuperar a porosidade do solo — que é o espaço que esse solo tem para as raízes se desenvolverem", detalhou.
Desafios de conciliação de Lula com o agro
"Reaproximar[-se] do agronegócio é essencial. Lula precisa se reaproximar do agronegócio porque efetivamente é o que mais movimenta a nossa economia. Não tem muito para onde correr. Se ele conseguir efetivamente convencer o setor agropecuário, a investir nessa questão de recuperação de áreas degradadas, eu acho que o retorno econômico para o setor vai ser ainda maior."
"Acho que a questão do Lula é investir nessa reaproximação do agronegócio essencial para que ele consiga executar todas as propostas que ele tem, tanto para a área de meio ambiente quanto para a área de exportação e importação, cujo setor também envolve a questão agropecuária. Todos os mercados hoje exigem um comportamento mais sustentável na produção agropecuária de uma forma geral para liberar acesso aos mercados."
Como seria a recuperação dos solos?
"Eu acredito que nesses casos [de recuperação de pastagens] vai se trabalhar mais com a parte biológica do solo. Cada região, cada tipo de solo vai demandar um tratamento diferente para recuperação. As técnicas envolvem basicamente recuperar a parte microbiológica do solo. O que é essa microbiologia do solo? Todos os organismos que vão caracterizar a saúde do solo. Então tem bactérias, tem fungos, tem nematoides. Então a gente vai ter ali toda uma população de organismos microscópicos e macroscópicos, minhocas que vão promover a aeração, que vão promover degradação de matéria orgânica, decomposição de matéria, que vão promover ciclagem de nutrientes."
"Ora milho, ora feijão. Sempre fazer uma alternância dessas culturas, porque nessas alternâncias de cultura a gente preserva a qualidade do solo. Ou seja, sistemas de agroflorestas, manejo florestal, colocar uma variabilidade, promover uma biodiversidade. Há formas de fazer um manejo em que você tem produção de alimentos com produção animal e você tem um ganha-ganha. [...] Quando a gente trabalha o processo de recuperação e opta por um sistema agrofloresta, a gente tem redução das emissões de carbono, conservação do solo e promoção da biodiversidade, porque atrai os sistemas polinizadores", finaliza.