"O inimigo do meu inimigo é meu amigo", sintetiza o professor, lembrando que as próximas eleições dos EUA ainda são incertas quanto ao seu resultado e que, caso os republicanos vençam, a extrema-direita se fortalece lá e ao redor do mundo. Frear o que chama de "agenda alucinada da extrema-direita", portanto, é fundamental para os dois líderes.
O assédio para apoio à Ucrânia
"Vai ter um assédio dos EUA para que o Brasil se posicione a favor do Ocidente na guerra da Ucrânia, que é uma guerra por procuração contra a Rússia. Biden vai exigir que Lula não dê declarações ambíguas [sobre o conflito]. Esse assédio vai ser muito forte", analisa o pesquisador da USP. "Há um movimento de tentáculos transnacionais para engajar [quem é neutro na operação militar especial]."
"Ele não só consegue como vai fazer isso. Lula é um político muito experiente, tem um excelente assessor chamado Celso Amorim. Ou seja, ele está muito bem preparado para o que virá amanhã [10]. Ele vai propor a paz, e as relações do Brasil com a Rússia são fundamentais. Mais: Lula tem boas relações com [o presidente da Rússia, Vladimir] Putin, assim como Celso Amorim mantém com [o ministro das Relações Exteriores russo, Sergei] Lavrov. São, afinal, os criadores do BRICS [grupo que agrega os dois países, além de China, Índia e África do Sul]."
"Como diz Aristóteles, Lula é um animal político. Ele decidiu ir aos EUA somente após a posse, com a caneta presidencial na mão, empoderado como presidente da República, evitando, de tal maneira, uma tentativa de interferência dos EUA na escolha dos ministérios e nas diretrizes de políticas públicas. Mas não espere que a imprensa ocidental bata palmas", analisa.
Desgastar relações Brasil–China é meta dos EUA
"Em meio à guerra tecnológica contra a China, uma das coisas que Biden pode oferecer ao Brasil, que, segundo informações de bastidores, está na pauta, é uma reindustrialização de alta tecnologia do Brasil, inserindo o país na cadeia global pró-americana", aponta.
"Isso é muito importante, porque deve ser a parte mais áspera da conversa. Porque os EUA estão preocupados com o avanço das relações comerciais da China na América do Sul. E nada que os EUA prometem dá para acreditar. Com os chineses e os russos não há esse histórico, e tanto Lula quanto o Itamaraty sabem disso. Nessa viagem, Lula vai explorar a agenda de governo sem cair na agenda de Estado dos EUA."