Em 16 de maio foi noticiado que tanto Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, como Luiz Inácio Lula da Silva, do Brasil, não compareceriam ao encontro que se realizará em 15 e 16 de junho de 2024 em Burgenstock, Suíça. O porta-voz de Ramaphosa argumentou que "os processos constitucionais pós-eleitorais que exigirão sua presença" na África do Sul, e fontes diplomáticas citadas pela mídia brasileira informaram que a presença de Lula na cúpula não tem sentido porque a Rússia foi excluída.
"Uma reunião desta natureza onde não está um dos principais atores neste fenômeno internacional, de pouco vai servir; praticamente seria um comparecimento para dar um impulso à posição ucraniana e não haveria a outra parte que negociasse a possibilidade de uma solução para o conflito", disse à Sputnik o professor Alejandro Martínez Serrano, professor de Relações Internacionais na Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM) e na Universidade La Salle.
Tanto o especialista como a doutora em estudos latino-americanos pela UNAM Claudia Serrano, concordaram ainda que a pertença da Rússia, Brasil e África do Sul ao grupo do BRICS permitem impulsionar em conjunto a abordagem de outras visões para a resolução do conflito.
"Tanto a África do Sul como o Brasil têm estado aprofundando ou reforçando uma série de reuniões político-diplomáticas, bem como de âmbito econômico, na qual puseram o dedo na ferida sobre a necessidade de consolidar um sistema multipolar", observou a doutora Serrano.
Em relação à cúpula na Suíça, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, salientou que o processo de negociação sobre a Ucrânia não tem sentido sem a participação da Rússia.
O professor Martínez Serrano insistiu ainda que, sem a presença de todas as partes envolvidas, na cúpula só se daria "aprovação" à Ucrânia e condenação da parte russa.
O que esperar da cúpula?
Os analistas consultados pela Sputnik consideram que tanto a exclusão da Rússia como os desafios inerentes à complexidade do conflito criam uma série de obstáculos para que a cúpula cumpra os objetivos delineados.
"Me parece que o caminho para poder consolidá-lo [o processo de paz] é muito complicado, porque muitos deles [os países participantes] estiveram nestas mesas de diálogo, mas já quando chega o momento da resolução final, normalmente ficam poucos, que seguem sendo os mesmos que estão liderando este enquadramento da paz desde o Ocidente, ou priorizando as visões desde o Ocidente", considerou a doutora Serrano.
A respeito disso, a especialista lembrou que, na Cúpula das Américas em junho de 2022, os Estados Unidos pressionaram os países da América Latina e Caribe a apoiar a causa ucraniana, porém, tiveram pouco sucesso.
Paz ou escalada de conflito?
Ao mesmo tempo da convocação da Suíça para a cúpula sobre a Ucrânia, Emmanuel Macron, presidente da França, declarou recentemente que "se a Rússia for longe demais, todos os europeus devem estar prontos para agir, para dissuadi-la".
Além disso, Macron afirmou no final de fevereiro que havia discutido com os líderes de alguns países-membros da OTAN, entre eles a Alemanha, a Dinamarca, os Países Baixos, a Polônia e o Reino Unido, o possível envio de militares à Ucrânia, mas não se conseguiu um consenso.
Martínez Serrano considerou que o discurso de Macron tem mais matizes eleitorais do que de uma verdadeira intenção de participar do conflito: "Não creio que o presidente francês tenha a coragem de realizar uma operação militar desta natureza".