Por que o Pentágono injetou US$ 756 milhões em mísseis hipersônicos que não voam?

O Exército dos EUA concedeu à Lockheed Martin outros US$ 756 milhões (cerca de R$ 3,8 bilhões) para seu programa de mísseis hipersônicos Dark Eagle (Águia Negra), para o fornecimento de equipamento para baterias, logística não especificada, sistemas e suporte de engenharia de software. A Sputnik explica o investimento.
Sputnik
O Exército dos EUA tem prometido a implantação de seu sistema terrestre de arma hipersônica de longo alcance (LRHW, na sigla em inglês) desde 2021, com o sistema sendo apresentado como o primeiro míssil hipersônico quase operacional do Pentágono em meio a atrasos no desenvolvimento e cancelamentos que assolam quase uma dúzia de projetos semelhantes para o Exército, Força Aérea, Marinha e Agência de Projetos de Pesquisa Avançada de Defesa (DARPA, na sigla em inglês).
Em desenvolvimento desde 2017, espera-se que os mísseis lançados por caminhão, no valor de US$ 41 milhões (cerca de R$ 210,8 milhões) cada, do LRHW sejam capazes de acelerar até Mach 17 (17 vezes a velocidade do som) e possuam um alcance operacional de 3.000 quilômetros. O sistema usa a munição comum All Up Round (AUR), também usada no programa de ataque de alerta convencional (CPS, na sigla em inglês) da Marinha.
Mas, tal como os outros esforços de mísseis hipersônicos dos EUA até a data, o Dark Eagle se tornou uma espécie de "águia duvidosa" após uma série de problemas de testes. O Escritório de Pesquisa do Congresso contabilizou pelo menos cinco falhas até o momento:
Em outubro de 2021, um teste de LRHW falhou quando o corpo de planagem hipersônica comum (C-HGB, na sigla em inglês) não se separou.
Em junho de 2022, o sistema completo de mísseis LRHW sofreu outra falha no teste. Um teste de LRHW programado foi cancelado em outubro de 2022 para "avaliar a causa raiz" da falha de junho de 2022.
Em março de 2023, um lançamento de teste programado da Estação da Força Espacial de Cabo Canaveral, na Flórida, foi cancelado.
Um segundo teste planejado no Cabo Canaveral foi cancelado em setembro de 2023, seguido por uma declaração do Exército de que não seria capaz de cumprir a meta de implantar o Dark Eagle no atual ano fiscal.
Uma revisão de novembro de 2023 feita por executivos de aquisições do Exército e da Marinha atribuiu os atrasos a "problemas" não especificados com o lançador fabricado pela Lockheed e disse que os problemas levariam "meses" para serem resolvidos.
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O fraco histórico dos programas de mísseis hipersônicos dos EUA até a data tem sido surpreendente, dadas as dezenas de bilhões de dólares em financiamento de pesquisa e desenvolvimento generosamente distribuídos pelo Congresso em orçamentos anuais de defesa — que normalmente ultrapassam os gastos de defesa de todos os principais adversários de Washington combinados.
No mês passado, o observador veterano de defesa russo, especialista em mísseis, Dmitry Drozdenko disse à Sputnik que a razão pela qual as armas hipersônicas são tão difíceis de desenvolver não se resume à capacidade de acelerar veículos a velocidades hipersônicas (o que tem sido possível desde praticamente o início da era dos mísseis), mas criar materiais que possam suportar as temperaturas ultraelevadas que os mísseis hipersônicos encontram durante o voo — quando são cobertos por nuvens de plasma. A URSS estava muito à frente dos EUA no estudo da física do plasma durante a Guerra Fria e a Rússia herdou este conhecimento inestimável para utilizá-lo e colocá-lo em campo implantando os primeiros mísseis hipersônicos do mundo.
"As tecnologias são desenvolvidas por pessoas", explicou Drozdenko. "O dinheiro é um meio para desenvolver uma tecnologia, mas pode acontecer que uma tecnologia seja criada com um montante mínimo de fundos. Pode acontecer que você tenha muito dinheiro, mas a tecnologia não funcione. Portanto, dinheiro não é o principal aqui. O principal são as pessoas e ter o conhecimento acadêmico adequado", disse o observador.
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