"São pautas que são importantes para caminhar o planejamento da cooperação desses dois países que firmaram a parceria estratégica em 1993 e que aprofundaram essa questão em 2012, quando ocorreu aqui no Brasil a Rio+20 [Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável]. A gente pode fazer menção […] à cooperação em nível comercial, à superação de barreiras comerciais, à parte de licenciamento de frigoríficos ou a todas as questões fitossanitárias", exemplifica o especialista.
Qual é a relação que existe entre a China e o Brasil?
"É o caso das obras do novo Programa de Aceleração do Crescimento [PAC], em que o governo traça diversas diretrizes e que poderiam depender muito, por exemplo, da parceria com os chineses. Também há a questão da energia limpa e a própria reindustrialização brasileira, que é uma questão bastante polêmica, principalmente com relação aos carros elétricos pelos norte-americanos. Essa é uma temática significativa que pode caminhar aqui não só na produção dos veículos, mas no desenvolvimento de baterias, inclusive com a própria exploração em larga escala das reservas de lítio no Brasil ou de outros minerais críticos", resume.
"O Brasil tem programas e acordos de cooperação com a China na área espacial, de tecnologia da informação e comunicação, biotecnologia, nanotecnologia, astronomia, ciências agrárias, parques tecnológicos, Antártica, educação e cultura, esportes e defesa", argumenta, ao pontuar ainda o setor do agronegócio, com a ampliação de frigoríficos para a venda de carne no país, que pode dobrar o volume das exportações brasileiras para o país asiático.
Qual o motivo da tensão entre EUA e China?
"O único consenso bipartidário que existe hoje nos Estados Unidos é contra a China. É a adoção de todas essas medidas. E dentro dessa fluidez do cenário internacional, a gente deveria esperar o que poderia ser a eleição de Donald Trump, porque seria, de fato, um divisor de águas, e isso poderia ter um impacto maior na relação entre o Brasil e a China do que atualmente se coloca […]. Algo que seria desejável para o Brasil, mas a pressão norte-americana é muito forte, por exemplo a assinatura do memorando de entendimento do Belt and Road [Iniciativa Cinturão e Rota]. Poderia ser anunciado pelo Xi Jinping, mas a gente sabe que esse é um tema que é bastante sensível", declarou.
Relações estremecidas entre China e Argentina podem beneficiar o Brasil
"Então acho que o que poderia ocorrer com a política que considero desastrada do governo atual na Argentina é que alguns desses investimentos acabem sendo deslocados aqui do Brasil. E, de novo, a gente deveria prestar atenção no tamanho das oportunidades que o Brasil pode criar, por exemplo para investimento chinês em infraestrutura. Nós temos a questão do PAC, que é uma carteira de projetos muito grande, que não envolve apenas estradas, ferrovias, mas também a própria urbanização. A crise no Rio Grande do Sul, a crise climática impactou as cidades fundamentalmente, a forma como as cidades são construídas. E você tem no novo PAC um capítulo que vai colocar as cidades mais resilientes. E a China tem muita expertise nessa área e poderia utilizá-la [no país]", pontua.
Chamar a atenção da comunidade internacional
"É uma resposta à conferência de mais de 50 países [que acontece em junho] para a qual a Rússia não foi convidada. Então é muito difícil imaginar que dê para fazer uma reunião sobre paz na Ucrânia sem ter como contrapartida a presença da opinião russa nessas discussões. E vale lembrar que no começo do ano passado, logo após o Lula assumir, ele já defendia uma negociação de paz e recusou, por exemplo, vender ou repassar tanques ou munições de tanques alemães do tipo Leopard", enfatizou Cordeiro.