Panorama internacional

Turquia no BRICS será 'oficialização de parceria e amizade cada vez maior' com Rússia, diz analista

As recentes movimentações da Turquia para integrar o BRICS revelam o estreitamento das relações do país com a Rússia, bem como as ambições turcas de encontrar parceiros que atendam às suas necessidades, avaliam especialistas ouvidos pela Sputnik Brasil.
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"O que é o BRICS na fila do pão? Só é uma oficialização, cada vez maior, desta parceria, desta amizade entre os dois países [Turquia e Rússia]", opina a professora de relações internacionais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Dominique Marques.

Em entrevista do episódio do Mundioka que foi ao ar nesta segunda-feira (24), ela mencionou o gasoduto russo-turco TurkStream como exemplo de sucesso dessa parceria, que só se expande.
O jornalista, professor e doutor em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), com ênfase em relações internacionais e geopolítica, Fábio Metzger aponta que o BRICS representa para a Turquia uma oportunidade de diversificar suas alianças econômicas e ampliar sua influência global.
Em declarações ao podcast diário da Sputnik Brasil, ele pondera que Rússia e China apresentam as principais peças de interesse no jogo geopolítico turco.

"Quais vantagens ela [Turquia] poderia ter? Por exemplo, um incremento enorme no comércio exterior com a China, um aumento enorme no comércio da indústria militar com a Rússia", elenca ele. "A China e o […] BRICS podem dar […] algumas isenções de impostos, preferências no comércio exterior que possam beneficiar a Turquia e possam aumentar o volume de comércio."

Há alguns meses, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, tem declarado a intenção de entrar para o grupo, e na semana passada, em reunião com o brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva à margem da cúpula do G7 na Itália, Erdogan pediu o apoio do Brasil para que seu país passe a integrar o BRICS.
Os analistas concordam que a entrada no grupo não significa um rompimento da Turquia com o Ocidente. Entretanto, para Marques, as tentativas ocidentais de restringir as possibilidades de a Turquia ser um ator relevante regional e global impulsionaram o país a buscar outras parcerias.

"Os países do BRICS se reúnem porque são potências, são países com grande crescimento, mas são países que, se a gente considerar dentro da análise das relações internacionais, […] a gente chama de revisionistas, não querem mais que o poder do mundo esteja na mão de cinco ali", comenta ela.

A catedrática lembrou que desde a Primeira Guerra Mundial a Turquia, então parte do Império Otomano, é considerada uma ameaça por parte de algumas nações europeias.

"Quando algum outro país vem e ameaça os interesses dos europeus, 'Ah, não, você está sendo invasivo, você está sendo perigoso, você está sendo violento, isso aqui não é do meu interesse'."

Ela citou episódios da descoberta de gás no Chipre e de disputas sobre reservas energéticas no mar Mediterrâneo nos últimos anos, em que o Ocidente assumiu posições contrárias aos interesses turcos.
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Turquia e OTAN

Os especialistas entrevistados avaliam que o BRICS ganharia ainda mais relevância com a Turquia como integrante, devido à sua localização e por ser membro da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
A entrada da Turquia na OTAN, no passado, segundo Marques, foi orquestrada pelos países-membros para impedir o avanço soviético e neutralizar disputas com a Grécia sobre questões como o local onde começam e terminam suas plataformas continentais, os recursos energéticos, os voos sobre o mar Egeu e a ilha etnicamente dividida do Chipre.
Aa sanções norte-americanas são exemplos dessas tentativas de "podar" a Turquia, defende ela.

"Quando os Estados Unidos precisam da Turquia, a Turquia tem que estar ali para ajudar. Mas quando é algum interesse turco, como, por exemplo, a questão do Chipre, eles podam a Turquia e dizem que aquilo ali é contra os direitos humanos, ou que é invasão", comenta ela. "A Turquia passa por uma crise econômica muito forte, agravada pelas sanções dos EUA, que acontecem principalmente quando a Turquia tenta assumir algum papel ali mais soberano."

A religião e possíveis violações de direitos humanos e da democracia, destaca ela, são motivos de sanções e críticas apenas como desculpa, do contrário os Estados Unidos não teriam relações tão frutíferas com outros países.

O BRICS

Do ponto de vista geopolítico, os entrevistados ressaltam que a Turquia está localizada em uma região de passagem estratégica, com capacidade de expansão de poder a nível global por conectar Oriente, Ocidente, Norte e Sul, rotas marítimas de comércio importantes.

"A Turquia não é grande produtor de commodities, mas é produtor industrial e é um acesso privilegiado ao Mediterrâneo", comenta o jornalista.

Inicialmente composto por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em 2023, o grupo convidou a Arábia Saudita, o Egito, os Emirados Árabes Unidos, a Etiópia e o Irã a aderirem. Esses países tornaram-se membros plenos a partir de 1º de janeiro de 2024.
O grupo BRICS representa mais de 42% da população mundial, 30% do território do planeta, 23% do PIB global e 18% do comércio internacional.
O grupo afirma que suas principais missões são a cooperação internacional, o desenvolvimento sustentável e a construção de uma ordem multipolar justa e de uma governança global inclusiva, em prol dos países em desenvolvimento.
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