De acordo com o Financial Times (FT), economistas afirmam que o aumento dos custos de transporte marítimo pode impactar a inflação e abrandar o ritmo dos cortes nas taxas de juro na Europa, algo subestimado por investidores e políticos. Como resultado, o custo acabará por ser repassado aos consumidores.
Embora em princípio os decisores políticos estejam otimistas quanto ao aumento dos preços dos bens, a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, considerou em meados de julho que o agravamento das tensões geopolíticas constitui um risco para a inflação, uma vez que poderia "aumentar os preços da energia e dos fretes no curto prazo."
Alguns economistas também deram o alarme. Assim, os analistas do banco de investimento Nomura veem poucas perspectivas imediatas de diminuição dos custos de transporte, dadas as atuais tensões no mar Vermelho, possíveis ataques nos portos dos EUA e da Alemanha, bem como os baixos níveis de água no canal do Panamá, relata o FT.
De acordo com o economista da Nomura, Andrzej Szczepaniak, os custos dos transportes poderão acrescentar entre 0,3% e 0,4% à inflação do Reino Unido e da zona do euro até ao final de 2025, mesmo que se estabilizem nos níveis atuais e depois diminuam gradualmente. Neste contexto, Szczepaniak sugeriu que as empresas estão mais propensas a repassar esses custos aos consumidores. A sua opinião é partilhada pelo economista-chefe da Fitch Ratings, Brian Coulton, que espera um efeito semelhante e acredita que os investidores não estão prestando atenção suficiente ao risco de os bancos centrais terem de adiar os cortes nas taxas de juro.
"Os agentes de mercado ficaram bastante calmos com a estabilização dos preços das commodities.[...] Penso que [os atrasos nos cortes das taxas de juros] são uma importante 'mosca na sopa' dessa narrativa", argumentou.
Por outro lado, Claus Vistesen, da consultora Pantheon Macroeconomics, garante que não há dúvidas de que, se continuar, o aumento dos custos de transporte "se refletirá em algum momento nos preços ao consumidor", mas só depois de acabarem os sinais de alerta em pesquisas e nos preços à saída da fábrica, que não incluem impostos.
No entanto, Simon French, economista-chefe do banco de investimento Panmure Liberum, prevê que mesmo uma recuperação relativamente pequena nos preços dos bens poderá ser motivo de preocupação para os bancos centrais e um possível freio à flexibilização monetária.
"Os bancos centrais estabeleceram um caminho de flexibilização que se baseia na inflação moderada dos bens. [...] As taxas de frete nos níveis atuais podem inviabilizar isso. O mercado ainda não assimilou", concluiu o especialista à FT.