Na primeira parte de seu discurso Lula agradeceu aos membros do BRICS pelo apoio que prestaram à presidência do Brasil no Grupo dos 20 (G20) e ressaltou a importância de fazer aderir o maior número possível de países à Aliança Global contra a Fome e a Pobreza.
Abordagem às mudanças climáticas
As políticas sociais que os países do BRICS já implementaram podem servir de exemplo para o resto do mundo, disse o presidente.
O presidente brasileiro disse que o BRICS é um ator incontornável na questão das mudanças climáticas. Ele afirmou que não há dúvidas que a situação atual com o clima é um resultado das atividades dos países ricos que está afligindo todos hoje em dia.
"É preciso ir além dos 100 bilhões anuais prometidos e não cumpridos e fornecer medidas de monitoramento dos compromissos assumidos", declarou.
Lula enfatizou que os países em desenvolvimento devem desempenhar seu papel na limitação do aumento da temperatura global a um grau e meio.
Política do Brasil na sua presidência do BRICS
O Brasil pretende seguir a linha do bloco em lutar por um mundo multipolar e por relações menos assimétricas entre os países durante sua presidência em 2025.
O lema da presidência brasileira será: "Fortalecendo a Cooperação do Sul Global para uma Governança mais Inclusiva e Sustentável".
Lula afirmou que o plano vai abordar os problemas de acesso à medicina e desenvolvimento da inteligência artificial (IA), acrescentando que os governos precisam reforçar suas capacidades tecnológicas.
O presidente admitiu a importância dos países-membros da associação no crescimento econômico global nas últimas décadas.
"Juntos, somos mais de 3,6 bilhões de pessoas, que integram mercados dinâmicos com elevada mobilidade social. Representamos 36% do PIB global por paridade de poder de compra. Contamos com 72% das terras raras do planeta, 75% do manganês e 50% do grafite. Entretanto, os fluxos financeiros continuam seguindo para nações ricas", destacou.
Ele indicou que as importações do Brasil para os Estados-membros do BRICS aumentaram 12 vezes desde 2003, enquanto o grupo representa quase um terço de todas as importações brasileiras.
Lula também notou que o Novo Banco de Desenvolvimento, liderado por Dilma Rousseff, contribuiu muito durante seus dez anos de existência para projetos dos países participantes.
À situação em que os países em desenvolvimento alimentam financeiramente o mundo desenvolvido Lula chamou de "um Plano Marshall às avessas", se referindo ao plano desenvolvido pelos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial para ajudar a Europa ocidental a recuperar suas economias arruinadas.
"As iniciativas e instituições do BRICS rompem com essa lógica."
Tocando a questão de desdolarização nos pagamentos internacionais e dentro do BRICS, o presidente brasileiro opinou que o objetivo principal é refletir a ordem multipolar que querem alcançar no sistema financeiro global.
Segundo ele, essa questão precisa de ser abordada cautelosamente, mas já não pode ser mais adiada.
Solução de crises mundiais
Lula apelou para não dividirem o mundo em países amigos e inimigos, sublinhando que os países mais vulneráveis, que estão enfrentando problemas de saúde, economia e alimentação, não querem enfrentar esse cenário mundial.
"No momento em que enfrentamos duas guerras com potencial de se tornarem globais, é fundamental resgatar nossa capacidade de trabalhar juntos em prol de objetivos comuns", concluiu.
Cúpula como culminação da presidência russa no BRICS
O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o Brasil.
O ano começou com a entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, iniciou em 22 de outubro.
A cúpula é o evento final da presidência russa na associação, e é realizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a segurança.