Panorama internacional

Vladimir Putin, presidente da Rússia, fala com a imprensa sobre resultados da Cúpula do BRICS

Mais de 300 jornalistas se reuniram nesta quinta-feira (24), em Kazan, para uma coletiva com o presidente da Rússia, Vladimir Putin, sobre os resultados da Cúpula do BRICS, realizada na cidade russa entre a última terça-feira (22) e hoje.
Sputnik
A Rússia fez todo o possível para que os novos membros do BRICS se juntassem organicamente "à família" e isso deu certo, disse Putin.
O presidente russo declarou que todas as sessões e os eventos da 16ª Cúpula do BRICS em Kazan foram realizadas de maneira aberta e profissional, em uma atmosfera de compreensão mútua.
Segundo Putin, durante o encontro foi formulada uma lista com países que entrarão na categoria de parceiro do BRICS na próxima rodada de expansão do grupo.
Os países do BRICS se comprometeram a construir uma ordem mundial mais democrática e multipolar e fortalecer a parceria no setor financeiro, segundo ele.

"A cúpula aprovou a Declaração de Kazan do BRICS, que resumiu as discussões que ocorreram. Em nossa opinião, é um documento abrangente e conceitual com uma agenda positiva com vistas ao futuro. É importante que ele reafirme o compromisso de todos os nossos Estados com a construção de uma ordem mundial mais democrática, inclusiva e multipolar baseada no direito internacional e na Carta da ONU [Organização das Nações Unidas]", ressaltou.

'Que o Brasil seja o presidente'

Em particular, a Rússia propôs estender a presidência do Brasil no Novo Banco de Desenvolvimento (NBD) do BRICS, chefiado por Dilma Rousseff.

"A Rússia propôs estender a presidência brasileira desse banco e a da presidente do banco, a senhora [Dilma] Rousseff, tendo em mente que este ano o Brasil está presidindo o Grupo dos 20. No próximo ano, vai assumir de nós o bastão e liderar o BRICS", disse Putin.

Quando perguntado sobre o desenvolvimento de uma nova arquitetura de pagamentos, Putin afirmou que o foco atual do BRICS é fortalecer a transação das moedas nacionais de cada país e que não está nos planos criar uma moeda comum.
Tampouco está sendo pensada uma alternativa própria para o SWIFT, mas está sendo estimulado o uso de sistemas próprios, como o Sistema de Transferência de Mensagens Financeiras (SPFS, na sigla em russo).
Segundo o presidente russo, está sendo pensada a criação de uma estrutura organizacional mais sólida para diálogos do BRICS. Acima disso, disse Putin, cada país do BRICS é autossuficiente e deseja, sinceramente, fortalecer seus laços com o grupo.
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Crise na Ucrânia

Falando da crise ucraniana, Putin disse que todos os países-membros concordaram que o conflito deve terminar pacificamente e o mais rápido possível. Ele lembrou aos jornalistas presentes que a escalada na Ucrânia começou em 2014, quando um golpe de Estado apoiado pelos Estados Unidos ocorreu no país.
Nesse contexto, muitos países apoiam a iniciativa de paz do Brasil e da China sobre a solução da questão ucraniana. No entanto, Putin afirmou ser incapaz de precisar o quão provável é que a iniciativa sino-brasileira seja adotada pela Ucrânia.
A liderança de Kiev é muito irracional, sublinhou o presidente, já tendo abandonado a mesa de discussões em Istambul e, mais recentemente, recusando uma nova proposta de mediação feita pela Turquia.

"O início das negociações de paz levaria à necessidade de suspender a lei marcial e, imediatamente depois disso, as eleições presidenciais teriam de ser realizadas. Aparentemente, elas ainda não estão prontas", enfatizou o líder russo.

Por sua vez, o presidente Putin destacou que está preparado para considerar negociações que tenham como base as realidades que estão se desenvolvendo no campo de batalha.
Ao mesmo tempo, segundo ele, o Exército russo está agindo com confiança em todas as direções e está avançando em todas as zonas da linha de frente.
Na direção de Kursk, Putin sublinhou que há cerca de 2 mil soldados ucranianos cercados na província e que as Forças Armadas da Rússia estão no processo de eliminar esse agrupamento. Segundo o presidente, a Ucrânia perdeu 26 mil soldados no teatro de Kursk somente no último mês.
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Oriente Médio

Questionado sobre a crise no Oriente Médio entre Israel e seus vizinhos, Vladimir Putin destacou que sua posição é conhecida. O problema na região só pode ser resolvido "eliminando as causas".
"E a principal razão é a ausência de um Estado palestino de pleno direito. É necessário implementar todas as decisões do Conselho de Segurança nessa área."
Para o líder russo, é necessário "trabalhar com todos os atores" e não permitir em nenhum caso a escalada do conflito. "Inclusive, precisamos trabalhar com Israel, que reconhecidamente enfrentou um ato terrorista em outubro do ano passado."

"Na verdade, as minhas conversas à margem da Cúpula do BRICS mostram que ninguém na região quer que o conflito se expanda […]. Ninguém."

Já em relação ao Irã, que participou pela primeira vez da Cúpula do BRICS, Putin disse estar em contato com a liderança do país para evitar a intensificação do conflito.
Sobre a Arábia Saudita, o presidente russo expressou seu desejo pelo aprofundamento da relação entre os dois países e destacou a presença dos representantes do país nos trabalhos realizados durante a cúpula.
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Rússia está isolada?

Putin chamou de mentira as declarações de que ele supostamente se recusa a ter contato com parceiros ocidentais, mas lembrou que os países do Ocidente queriam reduzir a Rússia a um "Estado secundário que realiza exclusivamente a função de 'apêndice' de matéria-prima".

"Recebemos diferentes sinais de parceiros ocidentais sobre possíveis contatos. Não nos fechamos a esses contatos", disse Putin.

O presidente disse que a Rússia está ciente da situação ao seu redor e não quer transferir todos os seus problemas para as instituições, cujo desenvolvimento é estimulado. Ele assegurou que Moscou vai lidar com seus problemas por conta própria.

"Pode-se ameaçar qualquer um, mas é inútil ameaçar a Rússia, porque isso só nos anima", afirmou.

Conforme foi dito, o BRICS não é um formato fechado, mas está aberto a todos os que compartilham seus valores. A Rússia, disse o presidente russo, sente o apoio dos parceiros do BRICS, que não termina com a conclusão da cúpula.
Putin ainda destacou que desde que a Europa parou de comprar gás russo, sua economia entrou em recessão, enquanto a Rússia viu seu produto interno bruto (PIB) crescer 3,59% em 2023, e prevê um crescimento de 4% neste ano.
"Os países ocidentais e europeus abandonaram as nossas fontes de energia, mas nós não nos recusamos [a entregá-los]."
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Relações com a RPDC

Perguntado se a República Popular Democrática da Coreia estaria ajudando a Rússia em sua operação especial com tropas, Putin afirmou que, embora tenham assinado um tratado de cooperação estratégica, a execução do Artigo 4º, que trata de auxílio militar em caso de conflito armado, ainda não foi discutida com a República Popular Democrática da Coreia.
Ainda assim, o presidente disse que Moscou não duvida "de forma alguma que a liderança norte-coreana leve a sério os nossos acordos".
Vale lembrar que a Rússia possui uma população considerável de cidadãos coreanos, muitos dos quais fugiram durante a ocupação japonesa durante a Segunda Guerra Mundial.

Um novo futuro para a África

Ao perguntar se a Rússia planeja expandir seu papel na África para além do combate ao terrorismo na região do Sahel, Putin afirmou a uma jornalista africana que a África e a Ásia são pontos focais do BRICS, uma vez que experimentarão grande crescimento econômico e populacional nos próximos anos.
"Tudo isso, assim como uma série de outros fatores, indicam que o ritmo de crescimento e o acúmulo de capital vão ocorrer; já está ocorrendo. Tudo isso indica que uma atenção especial deve ser dada a essas regiões do mundo."
Nesse sentido, a atuação do Ocidente na África não tem se adaptado à nova importância geopolítica dessas regiões. As nações ocidentais, diz Putin, "estão impondo ferramentas do neocolonialismo ao forçá-los a depender novamente de tecnologias e empréstimos".

Venezuela no BRICS

O presidente russo destacou que as posições da Rússia e do Brasil se contradizem no que tange a entrada da Venezuela no BRICS. Putin lembrou que o país recém passou por eleições conturbadas, nas quais o opositor se declarou vencedor do pleito.
Contudo, a entrada da Venezuela no BRICS só acontecerá com o consenso de todos os países, destacou Putin. "Queremos que o Brasil e a Venezuela, em uma discussão bilateral, resolvam suas relações."

"Eu conheço o presidente Lula como um homem muito decente e honesto. E tenho certeza de que, exatamente a partir dessas posições, de uma posição de natureza objetiva, ele abordará essa situação."

Rússia e EUA

Questionado por um jornalista norte-americano, Putin disse que as acusações de interferir nas eleições dos Estados Unidos não são verdadeiras. "O próprio Trump foi acusado de ter conexões com a Rússia e, depois de investigações por autoridades dos EUA, foi concluído que isso era besteira."
Putin destacou também que quem quiser encontrar prova de uma interferência, basta olhar para Kiev e sua incursão em Kursk.

"Querem a todo custo mostrar à atual administração e aos eleitores da atual administração que os seus investimentos na Ucrânia não foram em vão."

Por outro lado, o mesmo jornalista disse que o ex-presidente Donald Trump havia dito que bombardearia o centro de Moscou como forma de estimular o fim do conflito na Ucrânia. Em resposta, Putin disse que não se lembra dessa fala de Trump, mas lembrou que os candidatos estão na reta final de suas campanhas e que, por isso, não se deve levar tais falas tão a sério.
"O que o senhor Trump disse recentemente, o que ouvi — ele falou sobre o desejo de fazer tudo para acabar com o conflito na Ucrânia —, parece-me que ele disse isso com sinceridade."
Quanto à relação dos dois países, Putin disse que o estado das relações entre ambos dependerá da parte norte-americana.

"Se os EUA estiverem abertos à construção de relações normais com a Rússia, faremos o mesmo. Se eles não quiserem, então não façam. Mas essa é a escolha da futura administração."

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