Michel, chefe do mais alto órgão político da UE, composto pelos líderes dos Estados-membros do bloco, deu uma entrevista ao jornal britânico Financial Times, antes de deixar seu cargo no final de novembro.
O principal foco da entrevista foi a 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, realizada de 22 a 24 de outubro com a participação de 41 países de todo o mundo, além da Rússia.
"A participação de nações parceiras da UE em uma cúpula na Rússia, organizada por Vladimir Putin, é uma mensagem para que Bruxelas pare de 'dar lições' a outras partes do mundo", disse Michel.
A UE precisa demonstrar mais respeito pelos países em desenvolvimento com os quais o bloco assinou acordos de cooperação estratégica, comercial e política, acredita o presidente do Conselho Europeu.
Em sua opinião, é necessário agir dessa forma se a UE quiser combater os esforços da Rússia e da China para expandir sua influência na América Latina, na África e no Sudeste Asiático.
Ele ressaltou que os países do bloco europeu não se esforçam para entender por que as visões do mundo não ocidental diferem das deles.
"Quando vocês, europeus, vêm ao meu país [...] deixam lições. Quando os chineses vêm, eles deixam infraestrutura", lembrou Michel as palavras que um líder africano lhes disse.
Michel aconselhou a UE a adotar uma nova abordagem para se relacionar com esses países.
Cúpula em Kazan culminou presidência russa
O BRICS é uma associação interestatal criada em 2006. A Rússia assumiu a presidência do BRICS em 1º de janeiro de 2024. Em 2025, a presidência vai passar da Rússia para o Brasil.
O ano começou com a entrada de novos membros na associação: além da Rússia, Brasil, Índia, China e África do Sul, o BRICS agora inclui o Egito, Etiópia, Irã, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
A 16ª Cúpula do BRICS em Kazan, com a participação de representantes de 36 países e seis organizações internacionais, foi realizada de 22 a 24 de outubro.
O Brasil foi representado pelo ministro das Relações Exteriores Mauro Vieira, pois o chefe de Estado Lula da Silva teve que cancelar sua viagem um dia antes devido a um acidente doméstico.
A cúpula foi o evento final da presidência russa da associação, e foi realizada sob o lema de fortalecer o multilateralismo para o desenvolvimento global equitativo e a segurança.