Panorama internacional

G20: há grande fissura entre Norte e Sul, e o Norte Global não está disposto a ceder, diz analista

Na reta final, antes da Cúpula dos Líderes do G20, o Brasil encerrou, ontem (24), em Washington, a última reunião da Trilha de Finanças presidida pelo país. Para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, sensação é de dever cumprido. Para analista, propostas do Brasil e de outros países do Sul Global tendem a encontrar resistência do Norte na cúpula.
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"O Brasil está muito satisfeito com os resultados dos dois comunicados aprovados por consenso, como de costume, que refletem nossas intenções, anunciadas no final de 2023, quando assumimos a presidência do grupo", disse o ministro, coordenador da Trilha de Finanças do fórum junto com o Banco Central do Brasil.

Neste último encontro, o país anunciou a Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP, na sigla em inglês). O mecanismo tem como objetivo facilitar investimentos internacionais que apoiem projetos estratégicos para o desenvolvimento sustentável do país, com foco na transição ecológica e no combate à mudança do clima — uma das prioridades brasileiras durante sua presidência do G20.
Além disso, o Brasil conseguiu avançar em outras pautas de sua agenda, como a Aliança Global Contra a Fome, obtendo consenso no grupo pelo combate às desigualdades; também no avanço do debate sobre reformulação dos Bancos Multilaterais de Desenvolvimento (MDBs), assegurando que estejam mais preparados para enfrentar desafios globais, especialmente nos países de baixa e média renda.
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No contexto do combate à desigualdade, uma das pautas encampadas pelo Brasil foi a ambiciosa proposta de taxação dos super-ricos, o que pode gerar arrecadação de até US$ 250 bilhões (R$ 1,42 trilhão) por ano, segundo o governo. O último comunicado publicado pela trilha prevê mais cooperação entre os países, a fim de garantir que "indivíduos de altíssimo patrimônio sejam efetivamente tributados".
Para Bruno de Conti, professor do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a pauta é quase irrefutável, haja vista o aumento da desigualdade social nos últimos anos. "Não é uma panaceia", ele ressalta, mas tem um efeito importante, inclusive de caráter simbólico.
O especialista também aponta que as propostas discutidas estão sobre a mesa, mas a implementação dos acordos firmados no âmbito do grupo é outra questão.

"O G20 não tem, digamos, um mandato, a possibilidade de enforcement. A maioria das declarações são feitas, assinadas, com graus maiores ou menores de compromisso, mas depois os governos nacionais têm que adotar, e aí a gente não sabe o que acontece. Há trocas de governo, enfim. Tudo fica no campo dos compromissos", explica.

Discussões em Kazan podem impactar a cúpula do G20?

Enquanto Haddad se reunia com seus pares no último evento da Trilha das Finanças do G20, acontecia em Kazan a 16ª Cúpula do BRICS, a primeira desde que o bloco foi ampliado.
De Conti afirma ser evidente que os países do BRICS tentam aumentar a representatividade do Sul Global, porém acendem reações do outro lado.

"É um momento tenso, do ponto de vista da geopolítica global. Não nos enganemos. […] Existe uma fissura grande entre certas demandas do Sul Global e do Norte Global, e o Norte Global não está disposto a ceder."

Como exemplo da afirmação, o analista cita a proposta do BRICS em fomentar transações comerciais com pagamento a partir das moedas nacionais, em claro detrimento ao dólar.
"Os Estados Unidos estão reagindo", afirma, quanto à proposta do BRICS, citando que a atual secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, já ponderou ser má ideia uma moeda do BRICS, e o próprio ex-presidente Donald Trump prometeu sanções aos países que fizerem esforços para a desdolarização.
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No âmbito de uma reunião dessa magnitude, "o que fica são os consensos", destaca. Porém, com tantas fricções, "muita coisa vai ficando pelo caminho", avalia.
A Cúpula de Líderes do G20 acontece nos dias 18 e 19 de novembro de 2024, no Rio de Janeiro, com a presença das lideranças dos 19 países-membros, mais a União Africana e a União Europeia.
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