Brasil é exemplo do poder do futuro na época da pós-modernidade e monarquia, segundo filósofo Dugin

Este artigo é o último de um ciclo que revela a opinião do famoso filósofo russo Aleksandr Dugin sobre o caminho e o futuro da época em que vivemos e em que vamos viver.
Sputnik
Nesse contexto, o monarquismo assume um significado especial. Não em retrospecto, mas em perspectiva – o monarquismo do futuro. A democracia liberal e a era da República se esgotaram globalmente. As tentativas de construir uma República mundial fracassaram completamente. Em janeiro de 2025, o selo será finalmente colocado sob esse fracasso.
Mas o que virá depois? Quais parâmetros corresponderão à era pós-liberal? Essa questão permanece completamente em aberto. Mas a simples ideia de que todo o conteúdo da Modernidade europeia – ciência, cultura, política, tecnologia, sociedade, valores, etc. – foi apenas um episódio, que levou a um final vergonhoso e patético, mostra o quão inesperado será esse futuro pós-liberal após o fim do momento liberal.
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Hegel nos dá uma pista. Será a era das monarquias. E há sinais claros de que sua filosofia completa (não truncada, como a dos liberais e marxistas) é mais do que presciente e sólida.
A Rússia moderna, que ainda é formalmente uma democracia liberal, mas já apostou nos valores tradicionais, é, de fato, tecnicamente uma monarquia. Um líder nacional, a inamovibilidade do poder supremo e a confiança em fundamentos espirituais, identidade e tradição já são pré-requisitos para uma transição monárquica – não formal, mas substantiva. Além disso, não estamos falando apenas de monarquia, mas do Império do Espírito, da restauração do status do Catechon, da Terceira Roma, a capital da civilização ortodoxa. Aqui também, do ponto de vista histórico e geopolítico, inclui-se o legado de Genghis Khan. O fim da história será russo, ou ainda não existirá. De qualquer forma, o momento liberal na política russa já passou irrevogavelmente, e a pré-modernidade russa se tornará cada vez mais relevante.
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Outras Estados-Civilizações estão se movendo gradualmente na mesma direção. As características do Devaraja ou Chakravartin, o monarca sagrado, são cada vez mais visíveis no líder indiano Narendra Modi. Ele se assemelha cada vez mais claramente aos traços do décimo avatar, Kalkin, que veio para pôr fim à Idade das Trevas, a era da decadência e da degeneração, o que está precisamente de acordo com o momento liberal que Modi é chamado a superar em sua luta para recuperar o Hindutva, a profunda identidade indiana. Do primeiro avatar ao décimo – novamente, como o alfa e o ômega de Hegel.
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A China formalmente comunista sob o comando de Xi Jinping está cada vez mais exibindo características do tradicional Império Confucionista Chinês. E o próprio líder está se fundindo cada vez mais com o arquétipo do Imperador Amarelo. A China moderna tem todos os motivos para se aproximar do status de um Império do Espírito hegeliano. E o marxismo pode ser muito útil aqui, só precisamos dar um passo e complementar a versão marxista truncada e, portanto, contraditória da leitura de Hegel até a sua completude. No início havia Deus (digamos, Pangu). No final, haverá Tianxia (天下), a doutrina do eterno e sagrado Império Celestial.
O mundo islâmico também precisa de integração. O Califado de Bagdá 2.0 pode ser um ponto de referência, pois foi na era Abássida (750 - 1258 d. C.) que tanto a civilização islâmica quanto o Estado islâmico atingiram seu auge.
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É perfeitamente possível supor a criação tanto do Império Africano quanto do latino-americano. Não é por acaso que a América Latina está representada no BRICS pelo Brasil, o único território colonial da história que, por um certo período de tempo, tornou-se não uma periferia, mas o centro, a capital do Império Português.
Por fim, por que não considerar uma reviravolta aparentemente paradoxal na política norte-americana? O filósofo político americano Curtis Yarvin há muito tempo fala sobre a necessidade de uma monarquia nos Estados Unidos. Até muito recentemente, ele era considerado uma figura extravagante e marginal. Mas, depois, descobriu-se que suas ideias têm uma forte influência sobre o futuro vice-presidente dos Estados Unidos, J.D. Vance. Por que é que Donald Trump não seria monarca? Donald, o Primeiro. Há também Donald Trump Jr., um jovem notável, Barron Trump.
Em um mundo pós-liberal, tudo é possível. Até mesmo uma virada monárquica.
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Futuro aberto

O próprio termo "momento liberal", se pensarmos em seu conteúdo, tem um enorme potencial revolucionário no campo do pensamento político. O que se pensava ser o destino, a inevitabilidade, a lei de ferro da história, acaba sendo apenas um padrão em uma tela mais ampla e mais rica. Isso significa que a humanidade tem uma liberdade infinita de imaginação política – agora tudo é possível. Um retorno ao passado, inclusive à antiguidade remota, à restauração de reinos sagrados, incluindo os imaginários, a descoberta de novos caminhos não percorridos, a escavação de identidades esquecidas e a livre criação de novas identidades. Basta esquecer o liberalismo e seus dogmas, e o mundo já está mudando de forma irreversível.
Em vez da desgraça inevitável das pessoas sendo substituídas por máquinas (Singularidade), do apocalipse tecnológico e do Armagedom nuclear garantido, horizontes desconhecidos se abrem diante de nós. A partir desse ponto, podemos ir em qualquer direção – a ditadura do determinismo histórico foi derrubada. A pluralidade dos tempos começa. E Hegel, com seu Império do Espírito e o estabelecimento de um novo tipo de monarquia, é apenas uma das possibilidades. Uma perspectiva atraente, mas não a única. Certamente, entre a diversidade das civilizações humanas, haverá outras maneiras de superar o momento liberal.
As opiniões expressas neste artigo podem não coincidir com as da redação.
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