Embora Trump ainda não tenha assumido o cargo de novo presidente dos EUA, já está enviando sinais claros: os europeus devem se comprometer a elevar os gastos militares para 5% do PIB.
O objetivo é óbvio, que ele próprio já explicou: sob sua liderança, Washington não vai querer assumir a maior parte do orçamento da OTAN.
E essa mensagem é uma espécie de desafio.
De acordo com o sociólogo e escritor Aníbal Garzón, há uma correlação entre o orçamento de defesa inchado do Ocidente e a autoconsciência cada vez maior de um mundo alternativo e emergente liderado pelo grupo BRICS.
"Porque [...] uma grande parte do orçamento da OTAN visa países desse grupo: a Rússia, que qualificaram de ameaça, e a China, que descreveram como desafio", diz Garzón, autor do ensaio "BRICS: a transição para uma ordem mundial alternativa".
O especialista destaca que a OTAN e o Ocidente coletivo têm receio do fortalecimento da cooperação Sul-Sul, que é uma ordem de relações internacionais e geoeconômicas inspirada pelos países do BRICS.
"Isso ocorre apesar do fato de a associação não ser um bloco militar. Mas o Ocidente vê uma ameaça à sua hegemonia, daí o compromisso dos EUA em militarizar a UE e o fato de que a UE está se tornando um peão em um confronto com a Rússia e a China", lamentou Garzón.
Ele acredita que, com Trump, uma OTAN com um orçamento mais robusto "será preocupante" e poderá abrir caminho para a criação de situações de confronto "direto ou indireto" em quatro áreas de "desestabilização": Rússia, Oriente Médio, China e América Latina.
Em sua opinião, o histórico da organização não convida ao otimismo.
"Acumula crimes de guerra nas últimas décadas, sem limites. Por exemplo, na Iugoslávia, na Líbia e no Afeganistão", enfatiza.
E, apesar desse histórico, a UE "aposta nas políticas de militarização da OTAN e não na coexistência com outros países".