Panorama internacional

Especialista: 'América Latina precisa se aproximar do BRICS diante dos ataques dos EUA'

A América Latina precisa estreitar laços com a aliança comercial BRICS diante dos ataques e hostilidades do presidente dos EUA, Donald Trump, em questões tarifárias, disse o cientista político colombiano Carlos Sierra em entrevista à Sputnik.
Sputnik

"Precisamos nos transformar economicamente para termos novos aliados [nessa área] e neutralizar quaisquer sanções ou ações que possam vir. A América Latina precisa se aproximar do BRICS diante dos ataques dos EUA", disse ele.

O especialista destaca que os laços com a China e a Rússia são os mais relevantes dentro do grupo BRICS, devido ao seu peso na organização. Ele argumenta que, se os EUA impuserem tarifas de 25% sobre seus produtos, a América Latina deve promover a substituição de importações com Pequim e Moscou, tornando a reaproximação com o BRICS essencial.
O comércio de bens entre a China e a América Latina ultrapassou US$ 480 bilhões (cerca de R$ 2,8 bilhões) em 2023, com Brasil, Chile e Peru sendo os principais parceiros. As relações comerciais da Rússia com a América Latina também cresceram, atingindo mais de US$ 10 bilhões (mais de R$ 58,9 bilhões) no ano passado.
A unidade latino-americana pode começar na reunião extraordinária da CELAC, convocada pelo presidente colombiano Gustavo Petro, para buscar solidariedade e um roteiro para a região após as ameaças de Trump. Sierra enfatiza a necessidade de negociar com dignidade e força, com uma identidade clara da América Latina.
Em 26 de janeiro de 2025, os EUA impuseram tarifas de 25% sobre produtos colombianos e suspenderam procedimentos de visto, em resposta à recusa da Colômbia em aceitar voos com migrantes irregulares. O presidente colombiano respondeu com tarifas equivalentes e críticas ao neocolonialismo dos EUA. Posteriormente, ambos os países chegaram a um acordo e suspenderam as tarifas.
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Tópicos que não devem ser esquecidos

Sierra, que também é membro do partido Colômbia Humana, explica que um dos temas que deve constar não só da reunião extraordinária da CELAC, mas também da agenda latino-americana, é desenvolver uma visão regional sobre o narcotráfico, com o objetivo de chegar a acordos para combater esse fenômeno, que os EUA apontaram como um dos aspectos difíceis de sua relação com o México, por exemplo.

"É essencial chegar a acordos e, mais do que isso, é necessário um trabalho militar, judicial, investigativo e político conjunto para contrariá-lo [...]. Trump é um foco que nos permite olhar para nós mesmos e começar a construir políticas públicas contra isso [o narcotráfico], por uma questão de diplomacia, principalmente porque os EUA estão muito mais agressivos do que nunca e a direita internacional espera um Plano Condor 2", afirma o especialista político.

Sierra destacou que, apesar do pessimismo gerado pelas medidas de Trump, este é o momento ideal para consolidar a unidade dos países latino-americanos. Ele enfatizou a importância de reativar a integração latino-americana, que foi interrompida por rupturas no Chile e na Argentina.
A presidente mexicana Claudia Sheinbaum, em sua coletiva de imprensa de segunda-feira (27), reforçou a busca por uma relação respeitosa com o resto da região, defendendo a soberania de cada país e o respeito entre nações. Ela destacou a importância de manter um relacionamento respeitoso com a América Latina.
O México, ameaçado com tarifas de 25% sobre seus produtos devido à migração irregular, é um exemplo da necessidade de unidade regional. Outros países sob o escrutínio de Trump incluem China, Rússia e Canadá, por questões que vão desde a operação militar especial na Ucrânia até o poder comercial no mercado global.
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Como o mundo vê a Colômbia e a América Latina

Após a posição de Petro no fim de semana, os olhos do mundo se voltaram para a Colômbia. Palavras dedicadas a Trump, como "eu não aperto a mão de traficantes de escravos brancos", repercutiram não apenas na rede social X, onde o chefe de Estado escreveu sua mensagem, mas também dentro e fora do país sul-americano.
Prova disso foi a resposta dada por seu colega venezuelano Nicolás Maduro, que apoiou o político colombiano.

"A posição de Petro é digna de uma perspectiva latino-americana, inclusive bolivariana, que luta pelos interesses dos colombianos, especialmente daqueles que estavam sendo deportados sem os devidos protocolos [...]. [O presidente colombiano] não só se tornou uma referência latino-americana, senão global", acredita Sierra.

Esse é o mesmo aspecto que a América Latina deve levar em conta para avançar contra os ataques de Trump, ou seja, "nunca se deve se ajoelhar, porque isso nunca será uma vantagem na hora de negociar", acrescentou.
Sierra conclui que é fundamental não deixar de lado alianças econômicas e comerciais estratégicas, especialmente se as tarifas dos EUA se tornarem realidade.
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