O especialista destacou ainda que Trump tenta forçar o pequeno país, por meio do medo e da chantagem, a ceder aos EUA o
controle do canal do Panamá, que liga os oceanos Atlântico e Pacífico. Desde dezembro de 1999, a estrutura é gerida localmente por conta dos Tratados Torrijos-Carter.
Os acordos, assinados em 7 de setembro de 1977 pelos presidentes Omar Torrijos e Jimmy Carter, garantiram também a devolução da faixa de território ao longo da via, então ocupada pelos EUA desde 1904, e a retirada das 14 bases militares que o país norte-americano mantinha na antiga Zona do Canal do Panamá.
Para Rivera,
Trump representa interesses que desejam não apenas retomar o controle do canal, mas também
reinstalar a presença militar no Panamá, começando pela província de Darién, na fronteira com a Colômbia.
O presidente panamenho, José Raúl Mulino, já ofereceu um aeroporto na região à Força Aérea dos EUA para ser usado como escala para a deportação de migrantes não panamenhos. A decisão foi anunciada em 3 de fevereiro, após visita do
secretário de Estado dos EUA, Marco Rubio.
"Hoje querem uma base, mas não apenas para a questão migratória. Querem uma base que possa, potencialmente, ser usada para atacar outros países", alertou Rivera, que é ex-embaixador do Panamá em Cuba e Nicarágua.
Além disso, o especialista afirmou que teme que os EUA planejem, no futuro, dar ao canal do Panamá um uso militar. "Sempre usaram o canal para a sua estratégia geopolítica e geoestratégica de dominação. Um ponto tão singularmente estratégico, onde um navio pode atravessar do Atlântico ao Pacífico, e vice-versa, em menos de oito horas."
O ex-ministro do Trabalho e Desenvolvimento Social sugeriu que
Washington se prepara para um confronto com um país asiático e, nesse contexto, precisa novamente de um "canal para a guerra, não um canal para a paz e o comércio, mas para a mobilização rápida de suas forças militares".
No início do mês, o Departamento de Estado dos EUA chegou a anunciar que navios norte-americanos teriam passagem gratuita pelo canal, informação negada no mesmo dia pelo presidente panamenho.
Rivera também apontou que a administração de Trump busca revogar concessões do Panamá a empresas chinesas, especialmente em portos estratégicos nas entradas do canal. Após sua visita ao país, neste mês, Marco Rubio declarou na rede social X que Washington não tolerará um suposto "controle" chinês sobre as operações no canal.
Para Rivera, as alegações de Trump e seus aliados carecem de lógica, já que a China, depois dos EUA, é o segundo maior usuário do canal. "A China
não está envolvida em guerras. Seu desenvolvimento econômico e potencial financeiro se devem, entre outras coisas, ao fato de que não entra em conflitos militares há 50 anos", afirmou o diplomata.
O especialista destacou também que "os recursos que os EUA gastam em guerras e com seus aliados são proporcionalmente os que a China investiu no desenvolvimento, beneficiando não apenas o comércio, mas também as condições sociais do seu povo".
Ativo há seis décadas nos movimentos patrióticos do Panamá, Rivera alertou que o mundo atravessa um período difícil devido à política agressiva de Trump, que não poupa nem mesmo aliados, como demonstram suas tentativas de se apropriar da Groenlândia e os atritos com o Canadá.
Por fim, o especialista afirmou que a resistência às pressões norte-americanas é compartilhada pela maioria dos panamenhos. "O Panamá é um país pequeno, mas tem dignidade, honra e orgulho nacional. Por isso é hora de reafirmarmos nossos princípios: uma única bandeira, um único território. Tenho certeza de que nosso povo saberá se posicionar", concluiu.