"Não houve um 'grande momento', o que pode ser visto como positivo para a defesa, especialmente considerando que o risco era alto, dado o teor da delação do Mauro Cid", comentou à Sputnik Brasil. "Ele falou com bastante liberdade, sem interrupções ou perguntas mais difíceis, pôde desenvolver sua tese sem a alegação de cerceamento de defesa. Os interrogadores tiveram dificuldade de sair do roteiro e explorar as contradições, facilitando o seu desempenho."
"Embora estivesse claramente nervoso, ele foi preparado para o interrogatório […]. Tudo indica que foi uma estratégia muito bem pensada. Essa guinada discursiva busca despolitizar o processo, evitar atritos com o relator Alexandre de Moraes e demonstrar suposto arrependimento, respeito institucional, com uma pitada de ironia."
"Bolsonaro enfatizou que sempre jogou nas quatro linhas da Constituição e defendeu seu governo quase como uma plataforma eleitoral. Falou que aumentou o Bolsa Família, reduziu os problemas de segurança em 30%, esquecendo que era um período de pandemia. Então acredito que teve esse viés eleitoral, de se apresentar quase como um candidato e renovar vínculos com seus eleitores", disse.
"Ele tenta se apresentar como figura institucional, buscando preservar alguma margem de manobra para o futuro, inclusive eleitoral. Mas a resposta concreta do STF virá só após as alegações finais."
"Isso envia uma mensagem clara: a democracia brasileira, apesar de suas fragilidades, amadureceu o suficiente para reagir institucionalmente a ataques internos. E isso não é apenas uma resposta ao passado recente, mas uma construção de precedente para o futuro. O que está em jogo não é apenas a responsabilização penal de alguns indivíduos, mas o valor simbólico de reafirmar que nenhuma autoridade, por mais poderosa que seja, está acima da Constituição."