A população da Argentina sairá de casa no próximo domingo (26) para participar das eleições legislativas do país. Apesar de ainda ter mais de dois anos de mandato pela frente, o presidente Javier Milei acompanhará o pleito com atenção, já que a disputa elegerá 127 deputados e 24 senadores, isto é, metade da Câmara e um terço do Senado.
Sem o amplo apoio dos parlamentares, o governo pode enfrentar boicotes de propostas no Congresso da Nação, restando ao líder argentino navegar no mar revolto da economia sem o controle do leme.
Diante de enorme pressão e com a governabilidade em cheque, a Sputnik Brasil preparou uma lista de escândalos do mandato de Milei que podem ser decisivos na escolha dos eleitores do país.
O presidente da Argentina, Javier Milei, ouve durante uma reunião com o presidente Donald Trump na Sala do Gabinete da Casa Branca, 14 de outubro de 2025, em Washington
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Polêmica das criptomoedas
Em fevereiro deste ano, Milei usou as redes sociais para divulgar um projeto de criptomoeda que prometia "incentivar o crescimento da economia argentina financiando pequenas empresas e empreendimentos argentinos", chamado Viva La Libertad Project.
Poucas horas depois, o presidente voltou a afirmar, dessa vez ao portal financeiro Bloomberg Línea, que apoiava a iniciativa. O empreendimento tinha como base a criptomoeda $LIBRA na blockchain Solana. Com o endosso de Milei, a moeda rapidamente se valorizou, ultrapassando US$ 5 (R$ 28,50 na cotação da época).
Com a mesma velocidade, no entanto, o peso da moeda veio abaixo, em um golpe financeiro conhecido e muito praticado no mercado de criptoativos, o Rug Pull, no qual o valor de um ativo é inflado para que grandes detentores possam lucrar com a venda.
Especialistas em finanças digitais apontam que até 80% do estoque de $LIBRA estava nas mãos de poucos indivíduos, com apenas um usuário possuindo cerca de 50% de todas as $LIBRA existentes. Com a alta demanda trazida por Milei, eles aproveitaram para vender toda carteira, levando o preço a centavos de dólar.
A capitalização de mercado da moeda chegou a quase US$ 4 bilhões (R$ 23 bilhões na cotação da época) nas quatro horas entre o anúncio e o golpe, com uma movimentação equivalente a US$ 1,5 bilhões (R$ 8,5 bilhões na cotação da época). O esquema viu 44 mil pessoas, em sua grande maioria argentinos, perderem pelo menos US$ 87 milhões (R$ 498 milhões na cotação da época).
Em abril, a Câmara dos Deputados da Argentina aprovou a criação de uma comissão investigadora para apurar as condutas de Milei deste escândalo. Todavia, a oposição só conseguiu instalar, de fato, a apuração em agosto, devido a manobras governistas para evitar a averiguação.
Javier Milei fue recibido a pedradas
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Suspeita de corrupção da irmã de Milei
A secretária-geral da Presidência e irmã de Javier, Karina Milei, é suspeita de liderar um esquema de corrupção que envolve uma das maiores empresas farmacêuticas do mercado argentino, que contém uma série de contratos com a administração federal.
Áudios atribuídos ao ex-diretor da Agência Nacional de Incapacidade (Andis) Diego Spagnuolo, que vazaram no fim de agosto, relatam a cobrança de propinas em contratos com a Drogaria Suizo Argentina.
"Do que eles cobram pelos remédios, você tem que colocar 8% (...) é uma enorme variedade de negócios que existem", diz o ex-chefe da Andis em um dos áudios. "Eu tenho todos os WhatsApps de Karina. Ela recebe 3%", diz um dos trechos da gravação divulgados pela imprensa local
Os 3% renderiam entre US$ 500 mil (R$ 2,7 milhões) a US$ 800 mil (R$ 4,3 milhões) por mês para o esquema. As gravações também mencionam a participação do assessor de Karina, Eduardo "Lule" Menem.
Dias após o surgimento do escândalo, Javier e Karina foram alvos de pedradas em uma carreata na periferia sul de Buenos Aires. O presidente estava em uma caminhonete com a irmã e o político José Luis Espert, quando vários objetos começaram a ser arremessados contra o comboio. À época, segundo a assessoria de comunicação do governo, ninguém se feriu.
Aliado-chave é suspeito de vínculo com suposto narco-traficante
Espert, presente no episódio do apedrejamento, renunciou à candidatura a deputado nacional no início deste mês após admitir ter viajado repetidamente no avião particular de Federico Machado, acusado de tráfico de drogas nos Estados Unidos e cuja extradição foi concedida em 7 de outubro.
A investigação, conduzida pelo jornalista Sebastián Lacunza para o ElDiarioAr, revelou que uma empresa ligada a Machado transferiu US$ 200.000 (cerca de R$ 1,07 milhão) para a conta de Espert no banco norte-americano Morgan Stanley, como parte de um acordo financeiro mais amplo. Embora o congressista tenha negado qualquer vínculo, os registros encontrados o forçaram a reconhecer a ligação e, em seguida, renunciar à campanha eleitoral.
Coincidência ou não, o presidente compartilha advogado com Machado. Francisco Oneto, que representa o suposto narcotraficante na Justiça argentina, é o advogado de defesa de Milei em casos como o da criptomoeda $LIBRA.
Oneto também havia sido indicado pelo próprio Milei como candidato a vice-governador de Buenos Aires pelo partido La Libertad Avanza nas eleições de 2023.