Para Fabiano Mielniczuk, ex-coordenador do BRICS Policy Center da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e professor de Relações Internacionais da Escola Superior de Propaganda e Marketing do Rio Grande do Sul e do Audiplo (curso preparatório para as provas de acesso ao Ministério das Relações Exteriores do Brasil), estas pressões e o fato de o G7 estar buscando projeção através de uma agenda que contempla a defesa de questões ecológicas evidencia o que, segundo ele, muitos analistas vêm observando há tempos: “Do ponto de vista internacional, o G7 está cada vez menos relevante”, diz Mielniczuk.
O professor detalha a sua opinião: “A realização da cúpula do G7 na Alemanha foi um evento bastante esperado pela comunidade internacional, principalmente para perceber se haveria ou não manifestação pública de uma cisão entre os países europeus e os Estados Unidos em relação à crise da Ucrânia. Ao que tudo indica formalmente, os países do G7 foram unânimes em condenar o que eles veem ainda como sendo o envolvimento da Rússia nos problemas no Leste da Ucrânia. Inclusive, subiram um pouco o tom, ameaçando com novas sanções caso os Acordos de Minsk não sejam implementados. Vale lembrar que, por seu lado, a Rússia também defende a implementação dos Acordos. E aí nós começamos a perceber que, por trás de uma boa narrativa dos europeus junto com os norte-americanos e com as economias mais desenvolvidas, nós temos um espaço vazio que foi preenchido pela proposição da Angela Merkel. A proposta de que os países do G7 avancem uma agenda de mudar suas economias para serem menos dependentes em hidrocarbonetos, à base de petróleo e derivados, e passem a ser economias mais renováveis, baseadas no que é conhecido atualmente nas negociações ambientais internacionais como economia verde, com fontes renováveis, e a estabelecer metas de redução da emissão de gases poluentes que podem aumentar a temperatura na atmosfera. E que estabeleçam também metas de doação de recursos para países em desenvolvimento chegarem a este objetivo. Então, nós vemos uma espécie de unanimidade em relação à condenação à Rússia, obviamente necessária para reforçar o papel da Rússia como não membro do encontro.”
Observa Fabiano Mielniczuk: “Após a reintegração da Crimeia, como resultado de um referendo realizado na região em 16 de março de 2014, a Rússia foi excluída do grupo, que decidiu assumir uma dinâmica mais ambiental, preparando a COP21, Convenção Quadro Sobre Mudanças Climáticas das Nações Unidas que vai ser realizada em Paris no final deste ano.”
O professor prossegue afirmando que a decisão de excluir a Rússia do grupo foi uma atitude forte dos países do G7, que viram na incorporação da Crimeia um desrespeito da Federação Russa ao Direito Internacional. Diz Fabiano Mielniczuk: “Estes dois aspectos – a condenação da Rússia e o preenchimento da agenda política do G7 com preocupações ambientais – mostram, de certo modo, algo que vários analistas políticos e econômicos vêm comentando há bastante tempo, que o G7 é cada vez menos importante na política internacional. Os acordos ambientais já vêm sendo negociados nas conferências entre as partes da Convenção Quadro de Mudanças Climáticas das Nações Unidas, e desde 2009 há documentos ratificando compromissos com o controle ambiental. Portanto, nessa frente, não há nada de novo.”
O Professor Mielniczuk também não identifica novidade alguma em relação à postura do G7 ante a Ucrânia e a Rússia: “Além de não haver nada de novo, não houve nenhuma medida concreta no sentido de apontar para novas sanções em relação à Rússia. Houve, sim, uma postura de reforçar a necessidade do cumprimento dos Acordos de Minsk. Só que não há nenhuma menção, por exemplo, aos momentos nos quais os Acordos de Minsk são desrespeitados pelo próprio governo ucraniano, o que tira um pouco da legitimidade dessas declarações. Vale lembrar que a ideia do G7 surgiu na década de 70, quando, depois da crise do petróleo e com a Guerra do Yom Kippur em 1973, as principais economias do mundo se uniram para pensar no que fazer para desenvolver suas economias, sair da crise e diminuir a dependência em relação aos produtores de petróleo. Essa ideia foi do então presidente da França, Giscard d'Estaing, e houve o famoso Encontro de Rambouillet, um palácio francês, envolvendo as seis economias mais importantes do mundo capitalista da época. Em 1976, o Canadá se incorporou a esse encontro, e passou a existir o famoso grupo G7. Este grupo foi cada vez mais visto nos anos 70 e 80 como uma reunião de países ricos que imporiam uma agenda política aos países em desenvolvimento, e aos poucos isso foi minando a credibilidade do G7, ao ponto de, no final dos anos 90, surgir o G20, formado pelos ministros das Finanças das 20 economias mais desenvolvidas e que começou a discutir os problemas da economia internacional, percebendo a importância dos países emergentes como China, Índia, Brasil, África do Sul e muitos outros.”