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Vice-presidente do Banco dos BRICS: Disputa política contaminou a mídia brasileira

ENTREVISTA COM PAULO NOGUEIRA BATISTA 2 DE 14-10- 15
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Em entrevista exclusiva à Sputnik, o vice-presidente pelo Brasil do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco dos BRICS, Paulo Nogueira Batista Jr., fala da onda de pessimismo que domina a grande mídia e as redes sociais brasileiras.

Paulo Nogueira Batista Jr. comenta tópicos do seu artigo “Carga Negativa”, publicado no jornal “O Globo”. No artigo, ele diz detectar uma onda de pessimismo no país, que percebe em comentários nas redes sociais e nas publicações da grande imprensa brasileira. Para ele, os brasileiros têm razões para estar preocupados com a situação política e com os rumos da economia, mas os fatos negativos têm sido potencializados, e os positivos, minimizados.

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Ainda na entrevista concedida à Sputnik, Paulo Nogueira Batista Jr. refuta as comparações entre as situações econômicas do Brasil e da Grécia. Para o economista, que antes de assumir a vice-presidência do Banco dos BRICS foi diretor do FMI – Fundo Monetário Internacional para o Brasil e mais 10 países, não há termo de comparação entre as situações brasileira e grega, pois são completamente distintas.

Finalmente, Paulo Nogueira Batista Jr. informa em sua entrevista que o Novo Banco de Desenvolvimento iniciará as suas operações de crédito em abril de 2016, de acordo com a meta do presidente do órgão, o financista indiano Kundapur Vaman Kamath.

A seguir, a entrevista com o vice-presidente do Banco dos BRICS, diretamente de Xangai.

Sputnik: Vamos falar do pessimismo que o senhor detectou no povo brasileiro e comentou em seu artigo 'Carga Negativa'. Os brasileiros estão excessivamente pessimistas?

Paulo Nogueira Batista Júnior: Eu não quis dizer neste artigo que eu achava que o povo brasileiro propriamente estava pessimista. Ao passar recentemente pelo Brasil eu tive essa impressão, de que havia uma onda de pessimismo na imprensa, na mídia, nas redes sociais, e é mais a isso que me refiro. Em parte isso é decorrente de uma conjuntura política muito adversa, uma disputa política que contaminou praticamente toda a comunicação social no Brasil. O povo está passando por uma situação difícil porque a economia está em recessão, o desemprego aumentando, mas eu vejo que há um elemento subjetivo dessa crise, de pessimismo, que é em parte produto disso que ocorre no nível da imprensa, da mídia e das redes sociais.

S: Diante do quadro político e econômico os brasileiros estão pessimistas ou preocupados com o que poderá acontecer no país?

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PNBJ: Há uma preocupação geral no Brasil e em relação ao Brasil também no exterior, porque há uma combinação de dificuldades econômicas com dificuldades políticas. Eu diria que há uma preocupação, sim, mas também existem alguns exageros de percepção. Por exemplo: aspectos positivos da situação talvez não recebam o destaque devido. É verdade que a situação econômica é difícil; é verdade que certos aspectos da problemática econômica brasileira foram corrigidos em parte, no passado recente; a vulnerabilidade externa, que era crescente, está sendo diminuída pela depreciação cambial, essa mesma depreciação cambial que diminui o desequilíbrio externo e a vulnerabilidade externa da economia, a estimular a geração de produção no setor que compete com importações. Não há dúvida de que o quadro é difícil, mas nem tudo o que está acontecendo é negativo.

S: O senhor entende que está havendo um exagero no quadro que está sendo mostrado à opinião pública?

PNBJ: É difícil generalizar, teria que ser mais preciso, mas, de uma maneira geral, acho que os aspectos positivos são subestimados e os negativos são exacerbados. É a minha percepção, talvez equivocada, de quem está vendo a coisa de longe. Eu entendo perfeitamente que há uma insatisfação, que há um sentimento de frustração com a falta de crescimento, com a queda no nível de emprego, com o aumento da taxa de desemprego. Apenas eu acho que o potencial da economia brasileira existe e deve ser aproveitado, e para que possa haver aproveitamento desse potencial é preciso que não se exacerbe uma crise de confiança que só vai aprofundar as dificuldades da economia.

S: Em seu artigo o senhor critica os que anteveem para o Brasil uma situação econômica similar à da Grécia. Por que não há termos de comparação entre Brasil e Grécia?

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PNBJ: Já vi artigos, entrevistas, de que nós estamos no mesmo caminho da Grécia, e quando eu fui diretor-executivo do FMI pelo Brasil e mais 10 países, durante 8 anos, acompanhei de perto a situação da Grécia. Absolutamente nada a ver. O descalabro fiscal na Grécia, nos anos que antecederam a crise, não tem nem termos de comparação com o que aconteceu no Brasil, que teve problemas na área fiscal e está corrigindo. O que houve no caso da Grécia foi um monumental desequilíbrio fiscal, acompanhado de uma enorme manipulação estatística que não tem precedente nenhum em casos que eu conheça. Quem fala que estamos como a Grécia não sabe do que está falando.

S: A Grécia vive uma situação de hiperendividamento, consta que sua dívida é de três vezes o valor de seu Produto Interno Bruto, o que não é a situação do Brasil.

PNBJ: Não, a dívida é muito maior em proporção ao tamanho da economia, e os antecedentes da política grega no período que precedeu a crise foram muito piores. Não é à toa que a Grécia está numa situação tão difícil. Não é apenas a troika, os erros da troika, foram também as políticas altamente irresponsáveis que a Grécia adotou no período anterior à crise internacional.

S: Vamos falar do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do BRICS, órgão do qual o senhor é vice-presidente para o Brasil. Como estão os preparativos para o início efetivo das operações do Banco?

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PNBJ: O Banco está progredindo, já houve a primeira reunião do Conselho de Governadores e já vai haver a segunda reunião da Diretoria. Estamos trabalhando aqui em Xangai, com uma equipe já constituída e que está sendo ampliada. Assinamos um memorando de entendimento, um acordo de cooperação entre o Novo Banco de Desenvolvimento e o BNDES, o presidente indiano anunciou que quer fazer as primeiras operações de empréstimo em abril do ano que vem, e a expectativa é de que os cinco fundadores do BRICS participem dessa primeira leva de projetos. O Brasil está trabalhando, assim como os outros, para apresentar alguns projetos dos quais o Novo Banco de Desenvolvimento possa participar. Está indo bem. Está no começo, é um processo difícil, cheio de desafios, mas está deslanchando.

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