Vamos primeiro destacar a questão-chave da entrevista, relacionada com a entrada de Kosovo à Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO na sigla em inglês).
Sputnik: A Sérvia sucessivamente preveniu a entrada de Kosovo à UNESCO, mas os sérvios sentem duplas emoções: por um lado são orgulhosos, e do outro – a inquietação porque todos sabem que a decisão não é final. Mesmo assim, pela primeira vez em muitos anos uma organização internacional tomou a decisão a favor da Sérvia. O que isso significa? Será que os países-líderes mundiais falharam em realizar os seus planos? Será que o país se tornou mais forte?
Aleksandar Vucic: A Sérvia conseguiu proteger algo do seu, e mesmo que poucos opinam que o país é muito forte, é o fato certo que jogadores poderosos tentaram ajudar Prishtina. Uns países enviaram seus altos representantes à Paris para participar da conferência geral da UNESCO e juntaram representantes de vários países tentando pressioná-las. É por isso também que muitos deles tomaram a decisão no último instante. Por exemplo, o Tajiquistão, com a representante da qual a Sputnik tinha falado momentos antes da reunião, e que tinha admitido que pretendesse votar contra a participação de Kosovo na UNESCO, mas acabou por não chegar à reunião.
Outros exemplos até não devem ser mencionados porque os representantes de Estados africanos e asiáticos admitiram inequivocamente que eles foram pressionados no tal tom que queriam fechar as orelhas e não ouvir.
Não vou mencionar como cada país lamentou que Kosovo não tinha entrado no UNESCO, bem como sobre a campanha histérica de abuso de Pristina. Tentamos não reagir. É melhor sorrir ligeiramente mesmo e continuar a defender o diálogo e a normalização das relações. Mas nós já não fazemos de conta que não compreendemos quem faz o quê. A Sérvia é um país pequeno, mas guarda zelosamente a sua independência e liberdade. E, apesar da pressão crescente, incluindo através da mídia e várias organizações e projetos, vamos continuar a aderir a esta política. Estou convencido de que seremos capazes de permanecer neste caminho.
O premiê também comentou a opinião de que os acontecimentos recentes em Paris foram mais um sinal de grandes mudanças no mundo, que já não continua unipolar. A democracia norte-americana já não é a única que decide o futuro do mundo, e neste contexto Vucic disse:
“Seis países muçulmanos votaram contra a entrada de Kosovo à UNESCO e muitos países se abstiveram, o que significa que Estados começam proteger a sua soberania e o seu futuro. As pessoas compreenderam que têm o direito de voto. Provavelmente, é a melhor definição do que aconteceu”.
Na política externa a Sérvia continua com uma linha equilibrada e já por muitos anos admite a liderança de quatros lados no mundo – EUA, China, Rússia e União Europeia.
O premiê explica a posição oficial do seu país a Sputnik, dizendo:
“Queremos ser o membro da UE, é a nossa política oficial, queremos ser a parte desta sociedade. Mas tenho que dizer que o governo da Sérvia, enquanto encabeçado por mim, não introduzirá sanções contra a Rússia, e manterá as boas relações com o presidente e o governo russos”.
A íntegra da conversa entre o premiê sérvio e o presidente russo continua não divulgada, só sabemos que os políticos discutiram a situação nos Balcãs. Até a situação desenvolve só podemos analisar os números de encontros de vários políticos russos e sérvios, e esperar pacientemente.
A próxima reunião que apresenta interesse de que Vucic mesmo lembrou durante a entrevista à Sputnik, é a do político russo Dmitry Rogozin, para Bélgrado em janeiro de 2016.