Turquia e Estado Islâmico
Muallem começou a reunião dizendo que a Síria considera o incidente com o Su-24 russo como uma agressão à sua soberania, e frisando que até agora a Turquia ainda não conseguiu apresentar explicações plausíveis sobre esse tema.
Ele disse que ao longo dos últimos cinco anos a Síria vem sofrendo com as agressões da Turquia, bem como com o seu apoio ao Estado Islâmico e outros grupos terroristas, já que Ancara faz isso por motivos ideológicos, por considerá-los como uma espécie de prolongamento do Império Otomano.
Para Muallem, o ataque ao avião russo foi provocado pelo fato de a aviação da Rússia ter destruído mais de 1000 cisternas de petróleo oriundas de territórios controlados pelo EI.
Lavrov, por sua vez, disse que a Turquia certamente ficou preocupada após a aviação russa ter começado a bombardear na Síria as caravanas terroristas com petróleo roubado.
"Certamente, dificilmente se trata de uma mera coincidência o fato de os nossos vizinhos turcos terem começado a se portar de forma bastante irritada, para o dizer o mínimo" – disse o chanceler russo.
Ele disse ainda que a preocupação de Ancara em manter cuidadosamente em sigilo as informações sobre seus negócios clandestinos é igualmente comprovada pela recente prisão de dois jornalistas turcos por estes terem escrito uma matéria denunciando as remessas ilegais de armas para o EI a partir do território da Turquia.
Estado Islâmico e comércio ilegal de petróleo
Durante o encontro, Lavrov anunciou que a Rússia propôs ao secretário-geral da ONU preparar um relatório sobre quem coopera e apoio a indústria petrolífera ilegal do Estado Islâmico.
"Apresentamos propostas concretas ao Conselho de Sergurança da ONU para encarregar o secretário-geral da ONU de preparar um relatório, no decorrer de duas semanas, reunindo todas as informações relativas a quem apoia a indústria petrolífera ilegal promovida pelo EI" – disse Lavrov.
"Espero que os colegas norte-americanos nos apoiem e que tal resolução seja aprovada" – disse Lavrov.
O chanceler russo lembrou ainda que este tema foi levantado no Conselho de Segurança da ONU justamente pela Rússia, tendo sido aprovada, por iniciativa russa, uma resolução proibindo o comércio com quaisquer organizações ou estruturas presentes em territórios ocupados pelo EI.
Futuro da Síria pertence ao povo sírio
Comentando o fato de muitos países buscarem a saída do presidente Bashar Assad do poder, Lavrov declarou que, segundo os princípios da própria democracia, o povo sírio deve ter exclusividade total para escolher quem irá governar o seu país.
"Por definição, nenhuma comissão estrangeira de seleção de candidatos para o governo sírio pode existir" – disse Lavrov.
Turquia e seu direito à exclusividade
Criticando a postura da Turquia diante do incidente com o avião militar russo Su-24, abatido no início dessa semana pela Força Aérea turca sobre o território da Síria, Lavrov citou algumas recentes declarações do presidente turco Erdogan, denunciando a existência de contradições e padrões duplos em seu discurso.
"Ele [Erdogan] usurpou o direito a certa exclusividade ao declarar que se um avião turco for abatido no espaço aéreo sírio, o mesmo será tratado como um ato de agressão" – destacou Lavrov.
"Achei que havia apenas um país no mundo pretendendo à esse tipo de exclusividade no cenário mundial, mas agora são no mínimo dois" – acrescentou Lavrov.
Fim do regime de vistos com a Turquia
Lavrov disse que a Rússia se preocupa muito com o crescimento do terrorismo na Síria, pelo fato deste estar diretamente ligado à segurança da Rússia e seus cidadãos, e destacou a existência de um grande fluxo de combatentes de grupos terroristas através do território da Turquia. Mas, em vez de unir os esforços para combater esse problema, Lavrov disse que Ancara cria dificuldades para cooperações nesse sentido.
Além disso, ele disse que em 2015, apesar de todos os acordos bilaterais, a Rússia foi informada sobre apenas 7 dos mais de 200 casos de cidadaos russos deportados da Turquia por acusações de atividade ilegal. Além disso, na maioria dos casos, as deportações não foram feitas para a Rússia, mas para outros países, alguns dos quais, inclusive, pouco amigáveis à Rússia.
"Por conta disso, Moscou tomou a decisão de interromper o regime sem vistos entre a Rússia e a Turquia. O novo regime entrará em vigor a partir de 1º de janeiro de 2016" – disse Lavrov.