A derrubada de Zelaya chocou os países da América Latina e fez com que o mundo voltasse a acreditar na possibilidade de golpes militares. Para o próprio Zelaya, sua destituição em 28 de junho de 2009 deu início ao ciclo que continuou com Fernando Lugo no Paraguai (2012) e Dilma Rousseff no Brasil (2016).
Primeira vítima da reviravolta de direita
O líder do Equador, Rafael Correa, chamou o golpe nas Honduras de "reviravolta de direita" na América Latina e de ofensiva dos EUA e oligarquias locais contra autoridades. Passados oito anos, o ex-líder das Honduras concorda com essa avaliação.
"O retorno dos movimentos de direita agressivos e reacionários não aconteceu por acaso. Foi a resposta de Washington porque os EUA sentem que estão perdendo espaço na América Latina e as corporações querem deter as mudanças sociais. Hoje em dia estão cercando a Venezuela", diz Zelaya.
"Um grupo de militares, em conluio com as elites desasseadas e 'falcões' de Washington, derrubaram um presidente democraticamente eleito e o largaram em outro país", descreve Zelaya sua derrubada.
"EUA fazem a mesma coisa em todos os países que invadem"
Depois do golpe de 2009, Washington primeiro o condenou, mas depois apoiou os golpistas e as "eleições sob o assobio das balas".
"A mesma coisa fizeram eles [EUA] no Afeganistão, Iraque, Líbia, em todos os países que eles invadiram. […] Por isso, considero que o crescimento da influência da direita na América Latina é um processo planejado", afirmou o ex-presidente.
Ele lembra que, antes do fim do mandato, Obama emitiu um decreto em que chamou Venezuela de uma "ameaça extraordinária" para a segurança dos EUA.
"A agressão se virou para Nicolás Maduro. O império aperta o círculo em torno da Venezuela", considera o interlocutor da Sputnik Mundo.
Com Trump nada vai mudar
Logo depois de assumir a presidência, Trump mudou quase completamente sua posição em relação à Rússia e China. Manuel Zelaya afirma que sabe a resposta para essa reviravolta esperada: "O império é mais forte que seus presidentes."
"As pessoas pensam que eles escolhem os presidentes, acreditando que são os presidentes que têm plenos poderes. Eu estive no poder e eu sei que a você é permitido governar apenas se você se submete ao império, bem como à oligarquia mediática, econômica e militar. Se você está contra — todo mundo está contra você", confessou o ex-presidente.
Falando de Trump, Zelaya diz que ele [Trump] tinha seus próprios pontos de vista para a presidência, mas tudo mudou quando lhe explicaram as vantagens das guerras e invasões. Ele se tornou igual a qualquer outro presidente dos EUA.
O ex-líder das Honduras revelou que o primeiro documento que ele recebeu quando assumiu o cargo foi a "lista das pessoas para formar Governo" enviada e composta pela embaixada americana.
"É assim que eles governam nossos países. Quando eu o percebi, eu já não podia seguir a minha posição antiga [de direita], precisei de mudar", recorda Zelaya.
Ninguém dará à América Latina a liberdade, independência e soberania de presente, tudo precisa ser conquistado na luta, concluiu o ex-presidente.