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Como os EUA invadem América Latina?

© AP Photo / Eduardo VerdugoEx-presidente de Honduras, Manuel Zelaya, em maio de 2009
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Em uma entrevista exclusiva para a Sputnik Mundo, o ex-presidente das Honduras, Manuel Zelaya, conta sobre o golpe de Estado realizado no seu país, reflete sobre o imperialismo e sublinha o papel que os EUA desempenham na região.

A derrubada de Zelaya chocou os países da América Latina e fez com que o mundo voltasse a acreditar na possibilidade de golpes militares. Para o próprio Zelaya, sua destituição em 28 de junho de 2009 deu início ao ciclo que continuou com Fernando Lugo no Paraguai (2012) e Dilma Rousseff no Brasil (2016).

Primeira vítima da reviravolta de direita

O líder do Equador, Rafael Correa, chamou o golpe nas Honduras de "reviravolta de direita" na América Latina e de ofensiva dos EUA e oligarquias locais contra autoridades. Passados oito anos, o ex-líder das Honduras concorda com essa avaliação.

"O retorno dos movimentos de direita agressivos e reacionários não aconteceu por acaso. Foi a resposta de Washington porque os EUA sentem que estão perdendo espaço na América Latina e as corporações querem deter as mudanças sociais. Hoje em dia estão cercando a Venezuela", diz Zelaya.

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No caso de Zelaya, os soldados invadiram sua casa sem ordens, destruíram tudo e o levaram de casa.

"Um grupo de militares, em conluio com as elites desasseadas e 'falcões' de Washington, derrubaram um presidente democraticamente eleito e o largaram em outro país", descreve Zelaya sua derrubada.

"EUA fazem a mesma coisa em todos os países que invadem"

Depois do golpe de 2009, Washington primeiro o condenou, mas depois apoiou os golpistas e as "eleições sob o assobio das balas".

"A mesma coisa fizeram eles [EUA] no Afeganistão, Iraque, Líbia, em todos os países que eles invadiram. […] Por isso, considero que o crescimento da influência da direita na América Latina é um processo planejado", afirmou o ex-presidente.

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Em todos os casos destacados (Honduras, Paraguai, Brasil), "o processo foi acompanhado pelos ataques na mídia, mentira e violações nas eleições" e o retorno da direita foi imposto à força. Como frisou o ex-líder das Honduras, nestas condições de pressão as eleições não podem ser consideradas legais.

Ele lembra que, antes do fim do mandato, Obama emitiu um decreto em que chamou Venezuela de uma "ameaça extraordinária" para a segurança dos EUA.

"A agressão se virou para Nicolás Maduro. O império aperta o círculo em torno da Venezuela", considera o interlocutor da Sputnik Mundo.

Com Trump nada vai mudar

Logo depois de assumir a presidência, Trump mudou quase completamente sua posição em relação à Rússia e China. Manuel Zelaya afirma que sabe a resposta para essa reviravolta esperada: "O império é mais forte que seus presidentes."

"As pessoas pensam que eles escolhem os presidentes, acreditando que são os presidentes que têm plenos poderes. Eu estive no poder e eu sei que a você é permitido governar apenas se você se submete ao império, bem como à oligarquia mediática, econômica e militar. Se você está contra — todo mundo está contra você", confessou o ex-presidente.

Falando de Trump, Zelaya diz que ele [Trump] tinha seus próprios pontos de vista para a presidência, mas tudo mudou quando lhe explicaram as vantagens das guerras e invasões. Ele se tornou igual a qualquer outro presidente dos EUA.

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"A ideia que ele pode se opor ao império é um mito. Ele pode ser destituído em qualquer momento", afirma Zelaya.

O ex-líder das Honduras revelou que o primeiro documento que ele recebeu quando assumiu o cargo foi a "lista das pessoas para formar Governo" enviada e composta pela embaixada americana.

"É assim que eles governam nossos países. Quando eu o percebi, eu já não podia seguir a minha posição antiga [de direita], precisei de mudar", recorda Zelaya.

Ninguém dará à América Latina a liberdade, independência e soberania de presente, tudo precisa ser conquistado na luta, concluiu o ex-presidente.

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