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O que Temer foi fazer na Rússia?

© Foto / Beto Barata/PRTemer e Putin conversam durante apresentação do Balé Bolshoi, em Moscou, na Rússia
Temer e Putin conversam durante apresentação do Balé Bolshoi, em Moscou, na Rússia - Sputnik Brasil
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A indústria da carne é quase onipresente na agenda e rotina do presidente Michel Temer (PMDB). Pressionado pela delação da JBS em Brasília, o peemedebista foi à Rússia e um dos principais pontos de sua visita oficial foi justamente promover as exportações de carne para aquele país.

Ainda assim, a ida de Temer envolve outros assuntos. Sputnik explica quais são os pontos abordados no tour internacional do presidente.

Exportações e indústria da carne

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O Brasil exportou US$ 2,29 bilhões para a Rússia em 2016, enquanto importou US$ 2,02 bilhões de produtos russos no mesmo período. Apesar destes números, a Rússia não está entre os principais destinos dos produtos brasileiros. Ela é apenas o 20.° país na lista de maiores compradores das mercadorias brasileiras. A lista é liderada por China (US$ 37,4 bilhões), Estados Unidos (US$ 23,2 bilhões), Argentina (US$ 13,4 bilhões), Países Baixos (US$ 10,3 bilhões) e Alemanha (US$ 4,9 bilhões).

No último ano, a exportação de carnes (bovina, suína e de frango) para a Rússia somou nada menos que 43,7% de tudo que o Brasil vendeu para o país do presidente Vladimir Putin.

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Já os principais produtos russos comprados pelos brasileiros são adubos e fertilizantes.

A agenda comercial, entretanto, poderia ir além. Essa é a avaliação do professor de Relações Internacionais da Universidade do Vale dos Sinos (Unisinos), Diego Pautasso. Itens da área de defesa, o setor aeroespacial, a indústria naval e o setor de aviação poderiam contribuir com a economia dos dois países.

Pautasso avalia que um "desconhecimento recíproco" e o direcionamento político das relações internacionais de Temer travam as negociações.

Qual a direção da política externa do Governo Temer?
O diálogo entre Rússia e Brasil foi o responsável pela criação do BRICS — bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. Está é a avaliação de Paulo Nogueira Batista Júnior, vice-presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, o Banco do BRICS, em entrevista exclusiva à Sputnik.

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Todavia, hoje o BRICS não está entre as prioridades das relações internacionais do Governo Federal, avalia o professor Ricardo Pautasso. "A política externa brasileira está sem uma diretriz, sem saber quais são seus interlocutores fundamentais, suas prioridades. Isso ficou nítido nos últimos grandes encontros internacionais."

A relação entre Brasil e Rússia, na verdade, é fruto dos governos petistas, na avaliação do professor da Unisinos.

"[Foi uma] decisão estratégica do Governo brasileiro a partir da gestão do Governo Lula e do chanceler Celso Amorim. A partir dali, se observarmos os gráficos de comércio e de tratados, há uma sinergia crescente. Com o advento dos BRICS isso se intensifica, e as relações se tornam simbióticas depois de um longo período de afastamento entre Brasil e Rússia — sobretudo durante a Guerra Fria."

Temer está fugindo da crise política em Brasília?

Após um conturbado impeachment de Dilma Rousseff (PT), o Governo Michel Temer dava sinais de força em seus primeiros meses. Aprovou sem dificuldades a Proposta de Emenda Constitucional 55, conhecida como PEC do Teto, e indicava que conseguiria aprovar mudanças na legislação trabalhista e alterar as regras da Previdência Social.

Foi aberta, então, a temporada das delações premiadas — acordos entre a Justiça e criminosos buscando benefícios e reduções em suas penas.

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A delação da Odebrecht, em abril, sacudiu o Governo e diversos outros nomes da política nacional. Entretanto, o cenário para o Palácio do Planalto ainda piorou cerca de um mês depois. Com a delação da JBS, o próprio Temer foi gravado em um encontro com o empresário Joesley Batista em que foram discutidas medidas para barrar a Operação Lava Jato e o silêncio do ex-deputado Eduardo Cunha.

Pedidos de impeachment foram protocolados pela oposição, e o Governo balançou. Desde então, Temer está trabalhando para estancar a sangria aberta pelas revelações da JBS. Segundo o jornal Folha de S. Paulo, o peemedebista cogitou até mesmo cancelar sua ida a Moscou. Porém, mesmo com a profunda crise política, Temer optou por embarcar no avião presidencial.

"Alterar datas e compromissos seria um sinal de que ele [Temer] estaria em um estado extraordinário de governabilidade, então a tentativa dele é o contrário. Por isso ele mantém essa viagem", analisa a cientista política da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Clarice Gurgel.

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Mesmo distante, a situação política de Brasília não abandonou o horizonte de Temer. Na terça-feira, a Comissão de Assuntos Sociais do Senado rejeitou o parecer da reforma trabalhista, considerada um ponto chave pelo Palácio do Planalto. Em Moscou, Temer minimizou a votação e afirmou que "o que importa é o Plenário", em referência ao local onde será decidido, de fato, se a reforma será aprovada ou não.

A cientista política Clarice Gurgel avalia que a derrota da reforma trabalhista na comissão do Senado não sela o destino do tema: "Os que votaram contra a reforma trabalhista hoje não garantem que vão votar contra na segunda votação [no Plenário]. Então, é apenas fruto do jogo de forças entre um setor do empresariado que pretende a queda do Temer e aqueles que ainda servem de base de sustentação desse governo."

Para Clarice Gurgel, Temer está "perdendo o resto de força que tinha" e pode, sim, ser alvo de um processo de impeachment.

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