Cúpula do G20 em Hamburgo refletiu 'inferno' do imperialismo?

© AP Photo / Evan VucciVladimir Putin e Donald Trump se reúnem pela primeira vez na cúpula do G20
Vladimir Putin e Donald Trump se reúnem pela primeira vez na cúpula do G20 - Sputnik Brasil
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Há pouco, já fizemos questão de analisar a crise de um grupo internacional como o G7. Hoje, a Sputnik explica como decorreu a recente cúpula de outro grupo, ainda mais prestigioso – o G20 – e por que, para muitos, esta reunião em Hamburgo acabou sendo uma cimeira do "G2".

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Inicialmente, quando o clube de países foi criado (em 1999), este visava combater as perturbações econômicas globais na sequência das grandes crises financeiras da década de 90. Vale ressaltar que os países do grupo (ou seja, as 20 maiores economias) contam com quase 90% do PIB mundial, 80% do comércio global e representam dois terços da população do planeta.

Porém, com a passagem do tempo, as questões econômicas acabaram por ceder lugar a uma agenda internacional mais ampla, sendo que hoje quase 100% da discussão é dedicada a questões meramente políticas.

Cúpula 'nas margens' da conversa Putin-Trump?

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O maior evento da cúpula, sem dúvida, foi o muito esperado encontro bilateral entre o presidente russo, Vladimir Putin, e seu homólogo norte-americano, Donald Trump. Vale relembrar que o líder americano está sendo envolvido em um escândalo por alegadas "ligações russas" e, talvez, tenha sido por isso que a reunião dos dois políticos demorou tanto tempo.

Em tais casos, se costuma dizer que um encontro de altos responsáveis oficiais decorre "nas margens" de um evento maior, porém, nesta ocasião houve uma impressão que toda a cimeira se estava dando "nas margens" de uma só conversa. Além disso, para muitos especialistas, estas duas horas de conversação (inicialmente a assessoria de imprensa americana anunciou 30 minutos) foram ainda mais produtivas que os dois dias completos da cúpula.

Parecia que toda a atenção da mídia internacional estava focada neste "histórico" aperto de mão que, tomando em conta a recente dinâmica extremamente negativa dos laços russo-americanos, já era apresentado como algo de inédito.

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Entre os avanços desta conversação se pode ressaltar a decisão de criar um grupo de trabalho para o combate ao ciberterrorismo, bem como o cessar-fogo no sul da Síria que entrou em vigor neste domingo (9). No contexto das relações, que durante os últimos anos se têm encontrado em um declínio cada vez maior, se pode dizer que a reunião dos presidentes foi frutífera ainda mais que o esperado, o que, certamente, provocará novas repercussões e críticas dentro do establishment americano e dos apoiantes da política antirrussa no Ocidente.

Muita parra, pouca uva: em que resultou a cúpula?

Hoje em dia, se cria uma impressão que o único tema que é realmente capaz de provocar unanimidade entre as grandes potências é a luta contra o terrorismo internacional. Neste aspeto, todos os países têm manifestado consenso – no entanto, há que tomar em consideração que cada um interpreta esta luta à sua própria maneira, inclusive os EUA, que parecem estar combatendo o regime de Assad muito mais ativamente do que o próprio jihadismo.

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No campo do comércio, surge um problema fulcral – isto é, a forte inclinação da nova administração americana para a política de forte protecionismo, ou seja, altíssimas taxas alfandegárias e pouca confiança em tratados comerciais de larga envergadura. Em resultado disso, os restantes 19 países do grupo ficaram obrigados a fazer concessão a um deles e incluíram no comunicado final a disposição que pressupõe a introdução de tarifas adicionais em certos casos. Para os globalistas, isto, sem dúvida, se considera como um retrocesso.

Além disso, é amplamente conhecida a postura cética de Trump em relação às mudanças climáticas. Desta vez, o líder americano não perdeu a oportunidade de a manifestar, faltando à respectiva discussão para… se encontrar com Vladimir Putin. Os outros países, por sua vez, ressaltaram que lamentavam a saída americana dos acordos de Paris, mas reiteraram seu empenho nessas obrigações. Deste modo, outro aspecto importantíssimo da agenda do G20 também acabou por ficar na mesma sem quaisquer avanços.

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Entre outras questões em destaque, especialmente no âmbito das reuniões bilaterais que sobravam, figuravam a crise coreana, o conflito no Leste da Ucrânia, o comércio internacional de petróleo e gás e muitos outros aspetos da agenda internacional. Entretanto, sobre nenhum desses temas foram alcançados quaisquer acordos concretos. O grupo G20, como muitos outros, inclusive o G7, parece cada vez mais apenas um "clube de discussão", no contexto do qual os maiores líderes mundiais se reúnem para fazer uma foto "de família" e reiterar as posições que, de fato, já são bem conhecidos por todos.

'Bem-vindos ao Inferno!'

Para vários especialistas, a atmosfera na qual se deu a recente cúpula do G20 pareceu um ambiente "de guerra". Até houve receios que todo o evento fosse cancelado devido ao elevado perigo de provocações e atentados. Apesar de tudo, os líderes mundiais acabaram por se reunir como planejado, enquanto os antiglobalistas ocupavam as ruas de Hamburgo, convidando os políticos a ir para o "inferno".

Para protestar contra o triunfo do imperialismo, dezenas de milhares de pessoas vieram a Hamburgo. Vale ressaltar que tais protestos já viraram uma tradição em eventos de tal escala. Porém, neste ano as manifestações acabaram por semear o caos e vandalismo, com os manifestantes assaltando lojas e queimando carros de cidadãos comuns. Na sequência deste "inferno" autoproclamado, a Polícia de Hamburgo deteve quase 300 pessoas e comunicou sobre cerca de 500 policiais feridos.

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O conceito de globalismo parece estar passando por uma profunda crise estrutural que se verifica tanto ao nível mais alto, pelo consenso cada vez menor entre vários Estados, como a nível social, com o descontentamento crescente entre a população comum. Para hoje, já ficou evidente que tais formatos de discussão perdem seu renome e terreno e precisam de uma modernização séria para não se tornarem completamente em um espetáculo ridículo de apertos de mão e sorrisos sem quaisquer objetivos claramente definidos.

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