O professor de economia, adjunto do primeiro pró-reitor da Escola de Economia da Rússia, chegou à cidade russa de Vladivostok para participar de um dos eventos acadêmicos e empresariais mais importantes do país, do Fórum Econômico do Extremo Oriente. A Sputnik Brasil, que viajou para o local dos acontecimentos, fez questão de conversar com o especialista para saber sua opinião em relação às recentes perturbações na economia russa e brasileira.
Sputnik Brasil: Há dois anos, o senhor publicou um artigo no jornal RBK, analisando os desafios comuns que tanto o Brasil como a Rússia estavam enfrentando e destacando a conjuntura semelhante destas duas economias. A partir daí muita coisa aconteceu. Como está a situação hoje em dia?
O analista precisou que a principal divergência na luta contra a crise consistiu de um planejamento diferente das contramedidas e nas próprias ferramentas usadas no âmbito deste processo.
"Aqui [na Rússia] ela [a política monetária] foi bastante rígida, isto é, uma tentativa de combate à inflação e uma plena consciência, tomada tanto pelo Ministério das Finanças como pelo Banco Central, em relação às mudanças ocorridas. No Brasil, tentaram apagar o fogo com métodos, à primeira vista, bem tradicionais, que se pressupõem na política macroeconômica, ou seja, aumento das despesas do Estado, redução dos impostos e assim por diante, falando em traços largos. E, de repente, se revelou que o entendimento do problema foi um pouco melhor na Rússia do que no Brasil", explicou.
Shibanov também realçou que, no que se trata do setor privado, os brasileiros conseguiram dar maior liberdade às empresas nesse aspeto, ao contrário de Moscou. Neste caso, o Ministério da Fazenda, evidentemente, teve o melhor desempenho.
O economista relembrou que, segundo várias estimativas, por volta de 70% do PIB na Rússia tem a ver com o Estado, o que não quer dizer que todo este valor seja produzido por ele. De fato, isto significa que muitas companhias, inclusive petrolíferas, de gás e siderúrgicas, têm vínculos fortes com o governo.
"Do meu ponto de vista, estes elementos constituíram um movimento diametralmente oposto. Ou seja, por um lado, uma política monetária ponderada na Rússia, ao contrário daquilo que se passou no Brasil, mas, por outro lado, a nível da política no setor privado, as ações tiveram um caráter mais complexo e, talvez, no Brasil tenham sido até mais confortáveis para os empresários", assinalou.
Shibanov adiantou que ao longo dos últimos dois anos os países se encontraram com desafios, de fato, semelhantes. Contudo, Moscou teve mais dificuldades de acesso aos mercados financeiros devido a sanções e outros acontecimentos "bem tristes".
S: Pois, no Brasil houve outro fator importante: a mudança do governo, evidentemente, também contribuiu para desestabilização do sistema em geral?
OS: Sem dúvida. Que eu saiba, lá tudo está relacionado com a corrupção a nível muito alto. […] E neste caso a luta contra a corrupção se trava de modo bem ativo, o que, a propósito, faz lembrar da Coreia do Sul. Mas, por outro lado, na Rússia também evidenciamos um movimento do caráter parecido — ele ainda não toca os mais altos cargos oficiais, mas já atinge os ministros, o que, na verdade, não é muito próprio da Rússia, se olharmos para sua história. E, neste caso, acredito que […] o Brasil todavia é mais atraente para os investidores hoje em dia, pois não é objeto de sanções como a Rússia.
S: Se as nossas economias são tão parecidas, então, pela teoria de vantagens comparativas, temos poucas oportunidades para cooperação? Ou não será assim?
OS: Ela [esta teoria] não funciona. Há oportunidades excelentes. O que se passa é que nos especializamos em áreas um pouco diferentes. A Rússia, em geral, é um país muito específico, já que, do ponto de vista das exportações, o petróleo e o gás continuam desempenhando um papel importante — às vezes até 60%. Mas, mesmo assim, podemos comerciar um com outro, até de modo ativo. […]
Por exemplo, uma das características do Brasil é que este conseguiu avanços inéditos na agricultura, do ponto de vista russo. E se olharem para aquilo que se passou no Brasil, vão reparar que isto se tenta reproduzir na Rússia. […] Neste âmbito, sempre encontraremos o que trocar, pois trabalhamos em setores um pouco diferentes, poderemos sempre vender algo um ao outro e transferir tecnologias.
Em resumo, o especialista assinalou que o espetro de cooperação russo-brasileiro é bem grande, mas apenas o tempo mostrará se esta vai decorrer de modo "fácil e confortável".
"Porém, acho que temos muitas e muitas chances e variantes de trabalharmos juntos", sublinhou.