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'Zelensky não dormiu esta noite': debate de Trump e Biden revela liderança 'deprimente' nos EUA

© AP Photo / Vahid SalemiBandeira dos EUA improvisada é incendiada por manifestantes durante um comício em frente à antiga Embaixada dos EUA, em comemoração ao aniversário de sua apreensão em 1979 em Teerã. Irã, 4 de novembro de 2021
Bandeira dos EUA improvisada é incendiada por manifestantes durante um comício em frente à antiga Embaixada dos EUA, em comemoração ao aniversário de sua apreensão em 1979 em Teerã. Irã, 4 de novembro de 2021 - Sputnik Brasil, 1920, 28.06.2024
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Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas em política norte-americana analisaram o debate presidencial de ontem (27) à noite entre o ex-presidente Donald Trump e o atual presidente, Joe Biden. Apesar do embate entre os dois e do resultado final da eleição, dificilmente algo vai mudar na política externa dos Estados Unidos, afirmaram.
Observado por cidadãos comuns e líderes mundiais com o mesmo afinco, o debate presidencial dos Estados Unidos foi assistido nos quatro cantos do planeta. E não é à toa. Defendendo seus interesses políticos e econômicos, os EUA se intrometem nas políticas regionais, e a escolha do seu próximo líder pode implicar em mais ou menos consequências desse policiamento global feito pelo país norte-americano.
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Dito isso, os maiores jornais do mundo acordaram espantados com o desempenho do atual presidente, Joe Biden, do francês Le Monde e do polonês Onet ao finlandês Yle e ao italiano Corriere della Sera, todos concordaram que Biden teve uma péssima atuação.
"É a primeira vez em muito tempo, em termos de eleições americanas, que eu ouço falar e substituir um candidato a tão pouco tempo de eleição", afirma Lucas Leite, professor doutor de relações internacionais da Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP) e pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT/INEU).

"Joe Biden parecia estar muito abatido, muito apático, em alguns momentos falava muito baixo, falava de forma difícil, desentendida."

Seu opositor, Donald Trump, "inclusive utilizou disso o tempo todo para demonstrar como ele tem maior virilidade, mais força, mais vigor para ser presidente dos EUA".
Apesar dessas demonstrações, aponta Leite, isso não quer dizer que Trump seja mais adequado para a presidência. Uma checagem de fatos do jornal The New York Times "mostrou que Trump mentiu , ocultou ou desinformou de alguma forma pelo menos 14 vezes, enquanto Biden em torno de três vezes", sublinha.
Para Monica Hirst, colaboradora do Instituto de Estudos Sociais e Políticos da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (IESP/UERJ) e professora de política internacional na Universidade Torquato Di Tella na Argentina, o debate foi "deprimente".

"Um retrato de um momento extremamente delicado e frágil da liderança americana."

Ambos os candidatos "projetam uma imagem frágil, com pouca consistência", diz a analista. "Ficou claro que não há uma liderança neste momento no país capaz de assumir um papel [de protagonismo mundial]."
"É muito difícil, inclusive, avaliar a própria candidatura do Trump porque ela está extremamente beneficiada pelo enfraquecimento do seu competidor", afirma a professora.
Frente ao mau desempenho de Biden, muitos analistas e até membros de seu próprio partido estão pedindo por sua substituição enquanto candidato do Partido Democrata. Isso ocorre pois o debate da CNN se deu antes da data de fechamento das candidaturas. O próprio Biden, quando assumiu, se declarou um "presidente de transição", mas a ideia foi abandonada durante sua gestão na Casa Branca.
Em seu lugar, dois nomes são cotados: a vice-presidente, Kamala Harris e o governador da Califórnia, Gavin Newsom. O problema, diz Hisrt, é que há pouco tempo para "construir" essa candidatura até 5 de novembro, data das eleições norte-americanas.

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'Zelensky não dormiu esta noite'

O tema de política externa dos Estados Unidos dominou o primeiro bloco do debate presidencial e o tipo de enfrentamento à Rússia foi o foco no embate entre ambos os candidatos.
Biden se orgulhou de ter criado uma ampla frente de nações contra a Federação da Rússia como punição por sua operação especial, enquanto Trump criticou o democrata por ter, em primeiro lugar, permitido o conflito, e depois por financiar Kiev e ter arrastado os Estados Unidos para a situação.
Segundo Trump, isso não teria ocorrido sob sua gestão. De fato, lembra Hirst, Trump tinha um melhor diálogo com o presidente russo, Vladimir Putin.

"Havia ali uma capacidade de diálogo por trás da cortina que neste momento está suspensa, porque o Partido Democrata é mais intervencionista, mais movido por suas pregações normativas."

Para Hirst, apesar do discurso político de Trump na noite de ontem, seu histórico é de uma postura menos intervencionista, coerente com o segmento republicano que o candidato representa.

"Imagino que [Vladimir] Zelensky não dormiu esta noite, porque a opção de uma vitória do Trump é uma opção de, como se diz em inglês, hands-off [sem interferências]."

EUA e relações com a Rússia

Em entrevista dada a jornalistas de todo o mundo, Putin afirmou que não tem preferência sobre o vencedor das eleições estadunidenses, uma vez que o resultado não deve alterar a relação dos dois países.
"Putin, neste caso, estrategicamente, está certíssimo", diz Leite. De acordo com o pesquisador, as lideranças políticas dos EUA são incapazes de perceber "a Rússia enquanto um Estado que tem interesses, enquanto um Estado que também se sente ameaçado".

"Todos os lados nos Estados Unidos acham que a única forma de contenção de um conflito maior na Europa é justamente pela defesa intransigente da Ucrânia. Sem trazer a própria Rússia ao debate, coisa que não vai acontecer."

Segundo o pesquisador do INCT/INEU, "Putin sabe que independentemente de quem for, ele vai ter que colocar as cartas na mesa com os dois […]. "É muito improvável que, a depender de quem ganhe, mude o resultado."
Durante o debate, em certo momento, Trump afirmou que jamais aceitaria ceder os territórios de Donbass, Kherson e Zaporozhie para a Rússia, mas ao mesmo tempo afirmou também que encontraria uma solução para o conflito ucraniano antes mesmo de tomar posse.
Leite destaca que, independentemente de quem vença a eleição, o mais provável é que haja "um processo de negociação de uma posição estratégica que a Rússia sai ganhando e que a Ucrânia vai sair derrotada. Agora, eles não podem falar disso abertamente."
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Ausência da China no debate dos EUA

Um grande destaque da noite foi a ausência de perguntas sobre o enfrentamento à China. "O tema mais importante da projeção e do projeto de poder dos Estados Unidos hoje em dia", define Hirst.
Na opinião de Leite, isso pode ter acontecido porque, na prática, ambos os governos endureceram a política externa americana em relação à China. "Os dois consideram que a China ameaça a hegemonia americana, que os dois consideram a China como ameaça à ordem internacional e, portanto, vão fechar seus mercados, vão ser mais protecionistas."
Foi justamente essa "falta de divergência" que tornou a China um "não assunto", detalha Leite.

"Parecia uma coisa combinada pelos dois. É um bipartidarismo silencioso", crava Hirst.

Os afinamentos da política externa dos EUA

Seja do cansaço norte-americano com o financiamento ao regime de Kiev, a ambos os políticos terem a mesma ideia de enfrentamento à China, "as grandes bandeiras [da política externa] não vão ser alteradas", crava Hirst.
A primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni; o chanceler alemão, Olaf Scholz; o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel; o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Rishi Sunak; o primeiro-ministro do Canadá, Justin Trudeau; a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen; o presidente dos EUA, Joe Biden; o primeiro-ministro do Japão, Fumio Kishida; e o presidente francês, Emmanuel Macron, assistem a uma demonstração de paraquedismo durante a Cúpula do G7, em Borgo Egnazia. Itália, 13 de junho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 13.06.2024
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Isso se tornou óbvio durante o debate quando o tema de Oriente Médio veio à tona, na qual ambos os candidatos se orgulharam de suas políticas intervencionistas, como o assassinato do general iraniano do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica do Irã (IRGC, na sigla em inglês), Qassem Soleimani.
"Estamos falando de um funcionário de um Estado, o Estado iraniano, não de um terrorista. […] era alguém que entrava inclusive na linha sucessória, possivelmente, do governo do Irã […]. E eles falam daquilo de uma forma muito aberta, claramente se vangloriando de terem utilizado esse tipo de ataque."

"Isso mostra que a política que está nos Estados Unidos muito dificilmente vai mudar."

O que deve mudar, diz Leite, são os termos do "alinhamento estratégico". "Ou seja, nós temos um Biden que vai se apoiar nas suas alianças em relação, por exemplo, à OTAN, e do outro, nós temos um ator que vai se distanciar e agir de forma mais egoísta."
Os líderes da Europa, destaca Leite, devem estar "extremamente preocupados" após a visão de Biden no debate. "Especialmente porque eles sabem que, se Trump vencer, a pressão sobre eles em relação aos custos com a OTAN vai ser muito maior."
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