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América Latina em perspectiva: quais são os cenários possíveis para a região em 2025?

© AP Photo / Eraldo PeresBandeira nacional brasileira junto a bandeira do Mercosul do lado de fora do Palácio do Planalto, em Brasília. Brasil, 29 de novembro de 2016
Bandeira nacional brasileira junto a bandeira do Mercosul do lado de fora do Palácio do Planalto, em Brasília. Brasil, 29 de novembro de 2016 - Sputnik Brasil, 1920, 07.01.2025
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Eleições à vista no Chile e no Equador, troca de comando nos EUA e na América Latina como ponto de disputa de influência com a China, futuro do Mercosul e os desdobramentos do acordo com a União Europeia. Quais as perspectivas para a América Latina em 2025?
Com mudanças à vista no cenário internacional, especialistas ouvidos pelo Mundioka, podcast da Sputnik Brasil, traçaram alguns panoramas sobre o andamento geopolítico na América Latina neste ano. Já previstas no calendário estão duas eleições em países da América do Sul, mais especificamente no Chile e no Equador.
Para especialistas, Daniel Noboa, o atual presidente equatoriano, carrega boas chances de reeleição.

"É um cara que tem uma imagem muito bem vista, como alguém de sucesso, alguém que conseguiu construir uma carreira", pondera Lucas Mendes, professor de geopolítica da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e cofundador da página Geopolítica Hoje.

Noboa é filho de um dos principais empresários exportadores de banana do Equador. Ele nasceu nos EUA, onde também se formou em administração, na Universidade de Nova York. O atual presidente, que se apresentou como de centro-esquerda, assumiu uma postura mais condizente com as pautas da direita ao longo do mandato.
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Já no Chile, o atual presidente Gabriel Boric não pode se candidatar a uma reeleição. Enquanto isso, a esquerda chilena aventa o nome da ex-presidente do país e ex-alta comissária de Direitos Humanos das Nações Unidas Michelle Bachelet para concorrer ao cargo.

"De outubro deste ano até agora, ela tem sido apresentada na mídia chilena como a grande representante do diálogo político, principalmente dentro da esquerda e com a oposição democrata cristã", diz João Paulo Arrais, bacharel em relações internacionais pela PUC Goiás e especialista em relações internacionais pela Universidade de Brasília (UnB).

Ambos os analistas avaliam como positiva a escolha do nome de Bachelet para substituir Boric, que não anda com boa popularidade entre o eleitorado. "É a grande figura desse diálogo e da força de negociação da esquerda chilena até hoje", comenta Arrais.
Entretanto, há alguns meses, após receber críticas da oposição, Bachelet declarou que não deseja ser candidata à presidência. Dona de uma carreira internacional promissora, conforme destacado por Mendes, a possibilidade de ocupar um cargo de maior expressão poderia também ser um impeditivo para a volta da líder chilena às eleições do país.

Possível efeito Trump na América Latina

Na segunda-feira (6), Donald Trump teve sua vitória oficializada pelo Congresso dos EUA. A posse do presidente eleito está prevista para 20 de janeiro.
Porém, antes mesmo de chegar ao poder, os ventos do efeito Trump já começam a agitar as diretrizes da América Latina. Segundo Mendes, um dos motivos do avanço do acordo entre Mercosul e União Europeia pode ter sido a eleição do republicano.

"Trump já disse que vai criar barreiras alfandegárias, taxações. Alguns produtos ali do mercado europeu realmente correm risco de serem taxados nos Estados Unidos. O Trump está focando muito essa questão do superávit comercial. Então se o país faz comércio com os Estados Unidos e mais vende do que compra, o Trump tá tentando reverter isso", pontua.

Dessa forma, o especialista afirma que o acordo "tem tudo pra andar agora". "A tendência é que, de fato, a gente chegue nos próximos meses, por conta justamente da eleição do Trump, na tentativa de resoluções envolvendo esse acordo", acrescenta.
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Apesar desse fator, Mendes ressalta que se trata de um acordo amplo e, como envolve uma série de produtos a estarem aptos ao livre comércio entre os continentes, há arestas que precisam ser acertadas. "Para que o acordo seja fechado e que haja pacificação, por exemplo, no Parlamento Europeu, algumas coisas vão ter que ser retiradas", aponta.

"De modo geral, a tendência é que o acordo realmente vá para frente e consiga funcionar. Mas esses detalhes vão pegar, e aí envolve os lobbies, lobbies de setores da sociedade europeia, da sociedade brasileira, para poder aparar as arestas. Mas como eu disse, a questão do Trump eu acho que vai ser o empurrão final para que esse acordo possa, de fato, entrar em vigor", conclui.

Petro é alvo número 1 do 'trumpismo', diz analista

"Quando a gente vai pensar em geopolítica, na estrutura da América Latina, […] o Trump é um fator desagregador para a América Latina", nota Mendes.

De acordo com o especialista, um dos principais alvos de Trump é o presidente colombiano, Gustavo Petro.
Petro "é um ambientalista, e o Trump tem posições muito anti-ambientalistas, pró-mercado do petróleo, a favor do fracking, que é superpoluidor".

"Além disso, a Colômbia tem muitas bases americanas, soldados americanos ali, vez ou outra, que estão direto. Então é um país no qual os Estados Unidos têm os dois pés lá dentro. E gerar caos, gerar ruído, gerar desestabilização nesse cenário não é tão difícil assim", alerta o especialista sobre eventuais efeitos que poderiam surgir na Colômbia.

Queda de braço com a China afasta Brasil da Rota da Seda?

A atuação chinesa na América Latina já é um acontecimento constatado. Não à toa, os chineses ultrapassaram os EUA e se tornaram o maior parceiro comercial do Brasil, por exemplo, além de assumirem papel importante na economia de vários países vizinhos.
"O governo Trump terá uma postura em relação à América Latina diferente da postura do Biden", acredita Mendes, reafirmando a importância da região para a administração do republicano.
A dimensão dessa importância pode ser medida, por exemplo, pela escolha de Marco Rubio como secretário de Estado do próximo governo norte-americano.
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Segundo Arrais, pode haver mobilização político-econômica do governo Trump de apoio a todos esses grupos que fazem defesa do Trump e defesa da direita liberal na América Latina — como o caso de Javier Milei, presidente da Argentina — "para tentar reconquistar esse mercado latino-americano que está sendo perdido, que já foi perdido para a hegemonia chinesa".
Ou seja, o analista acredita que podem acontecer intervenções econômicas que possibilitam influenciar o jogo político por aqui.
Mendes também aposta em uma postura incisiva dos EUA, por meio de "sanções, tarifas, barreiras", que "cria dificuldades para a economia do outro país".
Os efeitos dessa queda de braço influenciam, inclusive, no Brasil aceitar ou não integrar a Iniciativa Cinturão e Rota, de origem chinesa, também chamada de Nova Rota da Seda, conforme os especialistas.

"A avaliação que se tem dentro do governo é que essa escolha está baseada, primeiro, [no fato de] que a China já é o maior investidor no mercado brasileiro, o maior investidor internacional. É um país que, como eu disse, tem uma relação comercial muito profunda com o Brasil. A China já tem uma série de investimentos no PAC [Programa de Aceleração do Crescimento]", diz Mendes, apresentando o cenário.

Portanto, segundo ele, se o Brasil "entrar na Rota da Seda, vai ser uma sinalização muito evidente de que nós estamos pulando para o lado da China". O que, por sua vez, "poderia soar muito mal para os Estados Unidos" e poderia, inclusive, afetar a estabilidade política brasileira, finaliza.
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