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'Nos EUA, bilionários sempre levam a melhor', diz analista sobre debate Musk vs. Bannon

© AP Photo / Evan VucciO CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, discursa durante comício do então candidato republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, em Nova York, em 27 de outubro de 2024
O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, discursa durante comício do então candidato republicano à presidência dos EUA, Donald Trump, em Nova York, em 27 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
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Disputas públicas e ácidas entre o ideólogo de Trump, Steve Bannon, e o bilionário Elon Musk refletem correlação de forças entre classe trabalhadora e o grande capital, diz analista à Sputnik Brasil. Saiba quais os temas que dividem a direita norte-americana às vésperas da posse de Trump e quem levará a melhor nessa queda de braço.
Poucos dias antes da posse de Donald Trump como 47º presidente dos EUA, seus aliados Steve Bannon e Elon Musk dão a primeira amostra do tom e teor das disputas internas entre seu círculo mais próximo.
As divergências entre Bannon, considerado um típico apoiador do movimento MAGA ("Make America Great Again"), e o bilionário Elon Musk sobre a continuidade de um programa de vistos para imigrantes altamente qualificados se tornaram públicas e pessoais durante essa semana.
"Esse cara é realmente do mal. Bastante malvado. Eu coloquei como objetivo pessoal derrubar esse cara", disse Bannon sobre Elon Musk ao jornal italiano Corriere della Sera. "Ele não vai ter acesso total à Casa Branca. Vai ser como outra pessoa qualquer."
O programa norte-americanos de vistos H-1B fornece permissões temporárias para que estrangeiros com curso superior possam trabalhar nos EUA. O programa é bastante utilizado por empresas de tecnologia da informação, que recrutam engenheiros e programadores em todo o mundo.
© AP Photo / Alex BrandonO CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, durante comício do então candidato republicano à presidência, Donald Trump na cidade de Butler, Pensilvânia (EUA), em 5 de outubro de 2024
O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, durante comício do então candidato republicano à presidência, Donald Trump na cidade de Butler, Pensilvânia (EUA), em 5 de outubro de 2024  - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
O CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, durante comício do então candidato republicano à presidência, Donald Trump na cidade de Butler, Pensilvânia (EUA), em 5 de outubro de 2024
Recentemente, a empresa de carros elétricos de Elon Musk, Tesla, contratou cerca de 750 funcionários através do programa. O empresário de origem sul-africana Musk lembra que ele próprio chegou aos EUA graças a programas como o H-1B.
"A razão pela qual estou nos EUA, assim como tantas pessoas importantes que construíram a SpaceX, a Tesla e centenas de outras empresas que tornaram os EUA fortes, é por causa do H-1B", postou Musk.
No entanto, a opinião de Musk não é majoritária dentre a "ala ideológica" dos apoiadores de Trump, que querem banir essa categoria de vistos. Após a forte reação contra o programa por parte de apoiadores do MAGA, Musk teve que ceder, afirmando que o programa precisa ser reformado.
© AP Photo / Julia NikhinsonSteve Bannon se encontra com apoiadores após se apresentar à justiça, na cidade de Danbury, Connecticut (EUA), em 1º de julho de 2024
Steve Bannon se encontra com apoiadores após se apresentar à justiça, na cidade de Danbury, Connecticut (EUA), em 1º de julho de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
Steve Bannon se encontra com apoiadores após se apresentar à justiça, na cidade de Danbury, Connecticut (EUA), em 1º de julho de 2024
Em resposta, Bannon declarou vitória durante entrevista ao portal Politico, mas reconheceu que Musk "merece um lugar na mesa" de Trump, como recompensa pelo investimento de milhões de dólares em sua campanha.
"Estamos ganhando esse round. E ganhando com folga", disse Bannon sobre o debate em torno do visto H-1B. "Acho que vamos pegar Elon nessa. Assim que eu puder converter Musk de um tecno-feudalista à um populista nacionalista, aí sim vamos começar a progredir."
As palavras de Bannon sugerem que o embate entre os apoiadores de Trump está só começando. Mas, afinal, quais são os temas que dividem a direita trumpista norte-americana? O presidente terá o condão de manter seus aliados unificados durante o seu mandato? A Sputnik Brasil conversou com especialistas para entender os motivos e consequências dessas disputas.
"Acho que estamos começando a ver qual será o impacto dos grandes doadores na coalizão de Trump", disse o jornalista e apresentador do Break Through News, Eugene Puryear, à Sputnik Brasil.
Ideólogos como Bannon, que levantam a bandeira da deportação em massa de imigrantes, pressionarão para que grandes corporações não possam continuar contratando através do programa H-B1, considerado um esquema privilegiado para bilionários importarem mão de obra barata.
© AP Photo / Evan VucciO então presidente dos EUA, Donald Trump, à direita, conversa com o CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, na Casa Branca em Washington, em 3 de fevereiro de 2017 (foto de arquivo)
O então presidente dos EUA, Donald Trump, à direita, conversa com o CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, na Casa Branca em Washington, em 3 de fevereiro de 2017 (foto de arquivo) - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
O então presidente dos EUA, Donald Trump, à direita, conversa com o CEO da Tesla e da SpaceX, Elon Musk, na Casa Branca em Washington, em 3 de fevereiro de 2017 (foto de arquivo)
"Bannon está falando para a sua base. Esse grupo vai se perguntar, por que não podemos contratar, por exemplo, um pedreiro da Guatemala, se os empresários do Vale do Silício podem importar quantos trabalhadores quiserem através do H-B1?", explicou Puryear.
A disputa também deve se repetir em assuntos como redução de impostos, que historicamente tenderam a beneficiar as classes mais ricas dos EUA. Segundo Puryear, Bannon teme que a redução drástica das receitas do Estado leve a cortes em programas sociais.

"Se eles querem realmente manter a classe trabalhadora norte-americana no seu guarda-chuva, terão que encontrar maneiras de aumentar as receitas e evitar cortes dolorosos nos programas sociais", disse Puryear. "Hoje, a classe trabalhadora dos EUA é majoritariamente a favor de pautas que exigem participação do governo, como crédito tributário para [famílias com] crianças, redução do custo de vida e taxação de grandes fortunas, independente de filiação partidária."

A eleição de Trump foi creditada a um discurso mais afinado com os trabalhadores norte-americanos, capitaneados não só por Bannon, mas também pelo vice-presidente J. D. Vance. Apesar de não terem políticas abertamente favoráveis a organizações sindicais, políticos trumpistas marcaram presença em greves e manifestações operárias durante o processo eleitoral.
© AP Photo / Stephanie ScarbroughO presidente eleito Donald Trump, a partir da esquerda, o bilionário Elon Musk e o vice-presidente eleito JD Vance assistem a jogo de futebol americano universitário em Landover, Maryland, 14 de dezembro de 2024.
O presidente eleito Donald Trump, a partir da esquerda, o bilionário Elon Musk e o vice-presidente eleito JD Vance assistem a jogo de futebol americano universitário em Landover, Maryland, 14 de dezembro de 2024. - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
O presidente eleito Donald Trump, a partir da esquerda, o bilionário Elon Musk e o vice-presidente eleito JD Vance assistem a jogo de futebol americano universitário em Landover, Maryland, 14 de dezembro de 2024.
"Eles sabem que para se manter no poder, precisam do apoio dos trabalhadores. Mas, por outro lado, temos a influência de bilionários como Musk, que de fato financiaram a campanha. E, no fim do dia, esses bilionários apresentam as suas contrapartidas e o governo precisa acatá-las", disse Puryear. "Qualquer pessoa que conhece a política norte-americana sabe que, ao fim e ao cabo, quem leva a melhor são os bilionários como Musk."
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Ainda que agenda de Bannon e J.D Vance também seja abertamente pró-mercado, o grupo "ideológico" tem maior preocupação com a recepção dessas agendas pelas classes trabalhadoras.

"A ideologia trumpista se apresenta como favorável à classe trabalhadora no discurso, mas, na prática, segue com uma agenda majoritariamente alinhada com os interesses corporativos", disse Puryear. "Bannon acena para os trabalhadores não só de manter o seu apoio, mas também para evitar manifestações populares que possam desestabilizar o governo Trump."

Os debates acalorados entre figuras como Bannon e Musk, portanto, geram uma névoa retórica que camufla uma agenda bastante unificada entre os apoiadores de Trump, sugeriu Puryear.
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"A direita norte-americana está mais unificada hoje do que durante o primeiro mandato de Trump. Como colocou o próprio Bannon, hoje eles estão com um time mais coeso e experiente", disse Puryear. "A própria figura do presidente Trump hoje serve como um efeito unificador, uma força centrífuga que une seus apoiadores, tanto os bilionários quanto os chamados 'nacional-populistas'."

Unidade em política externa

Apesar das diferenças, Bannon afirmou apoiar declarações de Musk em apoio de movimentos de partidos de direita na Europa, em detrimento de governos de centro, dizendo que "o inimigo do meu inimigo é meu amigo".

"Bannon e Musk podem ter diferenças na política doméstica, mas não na política internacional", disse o professor titular de Relações Internacionais da UERJ, Williams Gonçalves, à Sputnik Brasil. "Quando se trata de fortalecer a perspectiva da direita mundo a fora, inclusive no Brasil, [Bannon e Musk] estão no mesmo barco."

De fato, Steve Bannon tem histórico de ligação com a família Bolsonaro, pelo menos desde as eleições presidenciais de 2018. Na ocasião, o filho do então candidato, Eduardo Bolsonaro, declarou que Bannon auxiliava a campanha do pai "com nada financeiro [...], mas com dica de Internet, de repente uma análise, interpretar dados, essas coisas", reportou a revista Época.
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Notícias do Brasil
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"A contenção da China é outra unanimidade nos EUA", lembrou o professor Gonçalves. "A promessa dele é intensificar o protecionismo e ser mais agressivo em relação às empresas chinesas que atuam nos EUA."
Segundo o professor, nem os interesses comerciais e empresariais de Trump na China poderão frear a política agressiva da Casa Branca. Cientes do "consenso norte-americano de que a guerra com a China é inevitável", as autoridades chinesas buscam reforçar suas alianças no Sul Global por meio do BRICS.
© AP Photo / Lynne SladkyDonald Trump com sua esposa Melania após a vitória nas eleições presidenciais nos EUA em 5 de novembro, na noite de apuração dos votos no Centro de Convenções do Condado de Palm Beach, na Flórida
Donald Trump com sua esposa Melania após a vitória nas eleições presidenciais nos EUA em 5 de novembro, na noite de apuração dos votos no Centro de Convenções do Condado de Palm Beach, na Flórida - Sputnik Brasil, 1920, 17.01.2025
Donald Trump com sua esposa Melania após a vitória nas eleições presidenciais nos EUA em 5 de novembro, na noite de apuração dos votos no Centro de Convenções do Condado de Palm Beach, na Flórida
A votação expressiva que a população norte-americana conferiu a Trump, que terá controle de ambas as casas do Congresso, sugerem que suas promessas de campanha na arena doméstica e internacional serão implementadas, acredita Gonçalves.
"Ele está legitimado para levar adiante o seu programa e agirá de maneira mais enérgica contra os imigrantes e contra a China. Conhecendo o seu jeito extravagante, acho que ele realmente pode ir muito longe nessas pautas", concluiu o professor.
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