'Não seremos intimidados': dispara Ramaphosa sobre política dos EUA para África do Sul
08:09 13.02.2025 (atualizado: 09:19 13.02.2025)
© AP Photo / Themba HadebeCyril Ramaphosa, presidente da África do Sul, faz declaração da 15ª Cúpula do BRICS em Joanesburgo, África do Sul, 24 de agosto de 2023
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O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, em discurso sobre o estado da nação na semana passada, embora não tenha citado nomes, deixou claro que seu país não será intimidado por Donald Trump que recentemente congelou a ajuda ao país, uma medida que tem sido interpretada por analistas como uma ferramenta de pressão geopolítica.
Poucos dias antes do discurso de Ramaphosa, o presidente dos EUA escreveu em sua rede social que a África do Sul estava "confiscando terras e tratando certas classes de pessoas MUITO MAL", afirmou que a liderança sul-africana estava "fazendo algumas coisas terríveis", sem qualquer prova, e emitiu uma ordem executiva congelando a ajuda ao país.
Elon Musk, cujas esperanças de levar a Starlink para a África do Sul estão sendo adiadas por uma legislação de empoderamento negro, também criticou sua terra natal, perguntando por que tinham "leis de propriedade abertamente racistas". A África do Sul foi pega de surpresa, especialmente porque as políticas do Congresso Nacional Africano vêm falhando há anos, forçando o partido a formar uma coalizão com a Aliança Democrática.
Apesar de sua reivindicação de superioridade moral, a política externa da África do Sul é irregular. Após os ataques do Hamas a Israel, o então ministro das Relações Exteriores conversou com o Hamas e voou para o Irã, reforçando um comportamento, visto por alguns analistas, como ambíguo especialmente quando todo o Ocidente pressionou Pretória a apoiar Kiev e Ramaphosa permaneceu amigável com Moscou.
Trump e Musk focaram na questão racial, criticando a nova lei de expropriação de terras. Muitos sul-africanos brancos não gostam das regras que tentam lutar contra o racismo estrutural. Segundo eles, a legislação é usada para enriquecer uma elite negra restrita, e temem o confisco de terras, embora poucos acreditem que isso ocorrerá em larga escala devido à força dos tribunais.
De acordo com um artigo do Financial Times, o ataque de Trump pode unir os sul-africanos, pois apenas uma leitura perversa da história do país poderia concluir que os brancos foram maltratados. Eles representam 8% da população, mas possuem 75% das terras. A dominação econômica contínua é um resultado direto do Apartheid, que suprimiu as perspectivas dos negros.
Mesmo os africâneres (termo para se referir a descendentes de colonos holandeses, franceses e alemães), a quem Trump ofereceu asilo, recusaram, afirmando que amam seu país. Alguns fazendeiros foram mortos, mas isso se deve à violência generalizada na África do Sul, não a um movimento específico contra os africâneres. O Movimento Solidariedade, que representa 600.000 famílias descendentes de colonos europeus, rejeitou a ideia de repatriação como refugiados.
Embora Trump fale sobre confisco de terras, Pretória acredita que a verdadeira ofensa foi levar Israel ao Tribunal Internacional de Justiça. Trump cortou US$ 453 milhões (cerca de R$ 2,6 bilhões) em ajuda, afetando principalmente pessoas com HIV e tuberculose, como sinal de descontentamento.
A África do Sul teme mais punições, como a ausência de Marco Rubio na cúpula do G20 e a perda de privilégios de acesso ao mercado sob a Lei de Crescimento e Oportunidades para a África, prejudicando suas indústrias automobilística e agrícola. Pretória deve tentar apaziguar os ânimos, mas a estrada à sua frente não parece tranquila.