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Guerra de narrativas: réu, Bolsonaro reforça sua imagem como vítima e alimenta base, diz analista

© Foto / Lula Marques / Agência BrasilO ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante declaração à imprensa após virar réu no Supremo Tribunal Federal (STF), em 26 de março de 2025
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante declaração à imprensa após virar réu no Supremo Tribunal Federal (STF), em 26 de março de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 26.03.2025
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Após virar réu por tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) falou à imprensa cercado de apoiadores nesta quarta-feira (26), por cerca de 50 minutos. Na tentativa de se defender, negou as acusações da PGR e se disse vítima de perseguição. Para analistas, a tendência é que a narrativa seja inflamada daqui em diante.
O Supremo Tribunal Federal (STF) aceitou de forma unânime a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Bolsonaro e outros sete aliados — Alexandre Ramagem, ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e atualmente deputado federal; Almir Garnier Santos, ex-comandante da Marinha do Brasil; Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal; Augusto Heleno, ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência (GSI); Mauro Cid, ex-ajudante de ordens da Presidência; Paulo Sérgio Nogueira, ex-ministro da Defesa; e Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil —, que se tornaram réus por tentativa de golpe de Estado.
Bolsonaro, que esteve presente ontem (25) no STF para assistir ao julgamento, não compareceu hoje. Após a decisão dos ministros, ele falou à imprensa em frente ao Senado, em Brasília. Cercado de apoiadores, entre eles o filho e senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), o ex-presidente negou que tenha articulado com comandantes das Forças Armadas uma minuta para um golpe, conforme sustenta a denúncia da PGR.
Ao argumentar por que não esteve presente na etapa de hoje do julgamento, ele afirmou que já sabia o que aconteceria e se disse vítima de perseguição. A partir daí, Bolsonaro voltou a atacar o sistema eleitoral e defendeu o voto impresso.
"Não sou obrigado a confiar, a acreditar no programador [das urnas]. Confio na máquina, não sou obrigado a confiar no programador", disse.
Além disso, Bolsonaro fez questão de tratar o julgamento como uma perseguição: "Parece que tem algo pessoal contra mim, as acusações são muito graves".
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) durante conversa com jornalista na sede da Polícia Federal (PF). Brasília (DF), 18 de outubro de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 26.03.2025
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Ele também criticou a condução do caso pelo ministro Alexandre de Moraes, colocando as decisões do magistrado em xeque, e teceu críticas ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Tayná Paolino, doutoranda em ciências sociais da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e coordenadora do Laboratório de Partidos, Eleições e Política Comparada (Lappcom), a tendência é que "a crítica ao sistema eleitoral e aos ministros da Suprema Corte — especialmente Alexandre de Moraes — deve permanecer como eixo estruturante dessa narrativa" adotada pelo ex-presidente.
A analista aponta que Bolsonaro deve reforçar sua imagem como vítima diante do sistema com o objetivo de reforçar o vínculo com sua base mais fiel e alimentar a desconfiança com as instituições. "A construção do 'mártir' político tem efeitos mobilizadores, sobretudo em contextos de crise de confiança institucional", explica.
"Ainda que esse discurso tenha menos apelo junto a segmentos mais moderados da população, ele tende a manter coeso o núcleo duro de seus apoiadores", acrescenta.
O professor Paulo Baía, sociólogo e docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), enxerga um Brasil polarizado atualmente. Nesse sentido, "Bolsonaro sensibilizará aqueles que já acreditam em Bolsonaro e vai radicalizar aqueles que são contra Bolsonaro". Evidentemente, aqueles que veem o ex-presidente como vítima e acreditam que há uma ditadura em curso seguirão "uma narrativa dentro desse espectro dessa polarização calcificada do Brasil".
Como toda vítima tem seu algoz, o especialista também aposta em Moraes e nos demais ministros do STF como alvos de Bolsonaro e dos bolsonaristas.

"Essa radicalização vai aumentar à medida que o inquérito em que eles são indiciados como réus tem continuidade. Portanto essa estratégia não mudará e ganhará um escopo maior, tanto nacionalmente quanto internacionalmente", avalia.

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Fazer do ataque a defesa, o que resume a maior parte do tempo de Bolsonaro com a imprensa nesta tarde, ao criticar o sistema eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e o atual governo, ao passo que se coloca como vítima, é, para Baía, "uma estratégia combinada com seus advogados de defesa que ao mesmo tempo serve para alimentar seus aliados e apoiadores".
Os apoiadores de Bolsonaro seguem mobilizados na causa do ex-presidente. Nas redes sociais, o senador Ciro Nogueira (PP-PI) afirmou que a história inocentará o ex-chefe de Estado, enquanto o senador Marcos Rogério (PL-RO) classificou a denúncia como "vazia, frágil e teratológica", dizendo também que ela tenta "transformar palavras em crimes, ideias em ameaças".
Já do lado da oposição, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, afirmou que hoje a "Justiça falou" e chamou a decisão da Corte de "muito significativa". Já o presidente interino do PT, o senador Humberto Costa (PE), afirmou que tornar Bolsonaro réu é "o começo de um processo de justiça e reparação".
Se a mobilização na ala bolsonarista tende a seguir a tônica apontada pelos analistas, sob a ótica do ex-presidente como vítima, do lado da oposição progressista, Baía acredita que a maneira de lidar com o assunto se dará "dentro da lógica da polarização, radicalizando a sua posição e se colocando como lado oposto a este, como lado da democracia".
Já Paolino entende que o governo Lula, inserido em uma frente ampla com vertentes ideológicas diversas, deve seguir adotando uma postura de contenção frente à escalada discursiva bolsonarista.

"Embora haja pressão dos movimentos sociais e de setores da esquerda por uma resposta mais contundente — com ênfase na responsabilização jurídica e política dos envolvidos nos atos de 8 de Janeiro —, a orientação institucional do governo tem sido evitar a polarização direta com o ex-presidente e seu grupo. A leitura parece ser a de que o protagonismo das instituições, como o STF, deve se sobrepor a uma resposta política direta do Executivo, a fim de preservar a governabilidade. Inclusive o presidente Lula está em viagem institucional ao Japão e outros países asiáticos junto com os atuais presidentes da Câmara e do Senado", aponta.

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