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Guerra do Golfo, 35 anos: as cicatrizes da invasão do Iraque ao Kuwait
Guerra do Golfo, 35 anos: as cicatrizes da invasão do Iraque ao Kuwait
Sputnik Brasil
Iniciada em 2 de agosto de 1990, a ofensiva de Saddam Hussein ficou conhecida como o primeiro confronto televisionado ao vivo para todo o mundo e guarda muitas... 01.08.2025, Sputnik Brasil
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O Iraque invadiu o Kuwait em 2 de agosto de 1990 e tentou tomar o controle do país, dando início à Guerra do Golfo, que completa 35 anos no próximo sábado. Enquanto as tropas de Saddam Hussein lutavam sozinhas, uma coalizão internacional com dezenas de países, capitaneada pelos Estados Unidos, libertou o território kuwaitiano em pouco mais de seis meses.Estima-se que o Iraque tenha perdido entre 25 mil e 50 mil soldados, diante dos 292 mortos da coalizão, dos quais 147 foram assassinados por fogo amigo. A guerra ficaria conhecida como o primeiro grande confronto com cobertura ao vivo para todo o mundo, mas as cicatrizes dessa batalha são muito mais profundas.Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Amanda Marini, doutoranda em ciências militares e autora do livro "Quando a guerra não tem fim", explica que as duas nações ainda vivem reflexos do conflito, em especial o Iraque, submerso em uma enorme crise política há décadas.Marini acredita que o conflito poderia ter sido resolvido de um jeito diferente caso não houvesse tantas questões de imperialismo e colonialismo na região. Para a especialista, a instabilidade presente até hoje no Oriente Médio não é por acaso.Contexto do conflitoPara falar sobre a Guerra do Golfo, considerando a data de sua eclosão, é necessário voltar 11 anos, em 1979, quando Hussein assume a presidência do Iraque. À época, o mandatário era visto como "o grande líder do mundo árabe", explica Marini. O país, por sua vez, vivia uma época de prosperidade, amparada pelo petróleo, e se destacava como uma potência não apenas do Golfo, mas também do Oriente Médio.Quase que simultaneamente à ascensão de Hussein ao poder em Bagdá, acontecia a revolução islâmica no Irã. O mandatário, sunita, tinha a preocupação de que a insurgência dos vizinhos, de maioria xiita, estimulasse um evento parecido no território iraquiano.As tensões entre Iraque e Irã eclodiram em setembro de 1980, quando Bagdá atacou oito pontos do território controlado pelo governo de Teerã. A guerra, patrocinada em ambos os lados pelos Estados Unidos, duraria oito anos e terminaria com mais de 1 milhão de mortos, entre civis e militares.De acordo com a especialista, a Guerra Irã-Iraque gerou US$ 80 bilhões (R$ 443 bilhõoes) em dívidas para Bagdá, que passou de uma sociedade próspera e com índice de desenvolvimento humano alto para uma economia falida.Sem dinheiro, Hussein viu como solução para os problemas nacionais a invasão do Kuwait. O presidente tinha no vizinho, que já tinha feito parte do território iraquiano, o plano perfeito: englobar o país e retomar os poços de petróleo locais.O discurso usado pelo mandatário se justificava pela alta produção do "ouro negro" do Kuwait, o que derrubava o preço dos barris no mercado internacional e, consequentemente, a arrecadação iraquiana.Falta de leituraMarini explica que Hussein acreditava que teria, mais uma vez, o apoio dos Estados Unidos contra o Kuwait, assim como teve nas batalhas contra o Irã. Para a especialista, faltou ao presidente iraquiano entender que o contexto naquela época, pós-Guerra Fria, era diferente: os norte-americanos agora se colocavam como policiais do mundo e seguiam a Doutrina Carter.Em 1990, perder suprimento de petróleo ou ficar à mercê do Iraque era perigoso para os Estados Unidos. A convidada do Mundioka afirma que as Forças Armadas norte-americanas, por si só, utilizam mais combustível do que muitos países. Ou seja, qualquer interferência na commodity poderia desestabilizar a economia de Washington.É nesse cenário que, em 2 de agosto de 1990, o Iraque invade o Kuwait. Se, em um primeiro momento, a família real kuwaitiana fugiu do país e deixou até as joias, que acabaram nas mãos de parentes de Hussein, logo uma coalizão internacional formada sob a bandeira das Nações Unidas pousou no território.Condenado pelo Conselho de Segurança da organização, o Iraque viu mais de 30 países enviarem tropas e recursos para o Kuwait, em uma tentativa de expulsar os homens de Bagdá. Em um espaço de seis meses, a missão capitaneada pelos Estados Unidos foi um sucesso, e o controle do Kuwait foi retomado.O fimApesar de ser derrotado pela coalizão internacional, o evento não foi suficiente para derrubar Hussein do poder. Segundo Marini, os norte-americanos ficaram sem saber o que fazer após o fim do confronto e acreditaram que o presidente do Iraque não resistiria à pressão popular.Entretanto, assim como o mandatário iraquiano não avaliou o contexto de momento antes de se aventurar no Kuwait, Washington não conhecia tão bem a importância e o que a figura de Hussein significava para os iraquianos.O cerco ao presidente iraquiano começou a se fechar anos após o término da Guerra do Golfo. Uma série de operações organizadas por países e instituições internacionais, como as Nações Unidas, foram minando a soberania do Iraque. Uma das mais lembradas é a Raposa do Deserto, em dezembro de 1998, quando EUA e Inglaterra bombardearam Bagdá.Em 2003, cerca de dois anos após os ataques de 11 de Setembro, os Estados Unidos invadem definitivamente o Iraque em busca de armas de destruição em massa, em mais um episódio das ações de Washington que ficaram conhecidas como Guerra ao Terror.Com a ocupação norte-americana, as forças militares e policiais iraquianas são dissolvidas. A população do país, sem qualquer tipo de segurança, se vê vítima de grupos terroristas e milícias, como o Estado Islâmico (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), nos anos que se sucedem. Estima-se que apenas 60% de todo o território do Iraque esteja sob controle do Estado.Marini acredita que o Iraque só conseguirá voltar aos eixos quando restabelecer parâmetros básicos para a constituição de um país, como segurança, saúde, educação e defesa.
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saddam hussein, iraque, kuwait, estados unidos, onu, otan, organização do tratado do atlântico norte, oriente médio, organização das nações unidas, nações unidas, oriente médio e áfrica, américas, eua, guerra do golfo, exclusiva
O Iraque invadiu o Kuwait em 2 de agosto de 1990 e tentou tomar o controle do país, dando início à Guerra do Golfo, que completa 35 anos no próximo sábado. Enquanto as tropas de Saddam Hussein lutavam sozinhas, uma coalizão internacional com dezenas de países, capitaneada pelos Estados Unidos, libertou o território kuwaitiano em pouco mais de seis meses.
Estima-se que o Iraque tenha perdido entre 25 mil e 50 mil soldados, diante dos 292 mortos da coalizão, dos quais 147 foram assassinados por fogo amigo. A guerra ficaria conhecida como o primeiro grande confronto com cobertura ao vivo para todo o mundo, mas as cicatrizes dessa batalha são muito mais profundas.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, Amanda Marini, doutoranda em ciências militares e autora do livro "Quando a guerra não tem fim", explica que as duas nações ainda vivem reflexos do conflito, em especial o Iraque, submerso em uma enorme crise política há décadas.
"Hoje, 35 anos, o saldo não é positivo. Os dois ainda estão brigando por soberania, por fronteira, e têm marcas dos dois lados […]. O Iraque não fica satisfeito que o Kuwait é um aliado especial da OTAN [Organização do Tratado do Atlântico Norte] e está gastando o que tem e o que não tem para se armar e se defender. E o Kuwait acha que o Iraque, por todas as questões políticas e de vulnerabilidade vividas, vai fazer alguma ação contra ele."
Marini acredita que o conflito poderia ter sido resolvido de um jeito diferente caso não houvesse tantas questões de imperialismo e colonialismo na região. Para a especialista, a instabilidade presente até hoje no Oriente Médio não é por acaso.
"São vários episódios paralelos [de violência] que conversam de modo geral. Aquela região não é instável porque ela é instável. É um projeto para ela ser instável."
Para falar sobre a Guerra do Golfo, considerando a data de sua eclosão, é necessário voltar 11 anos, em 1979, quando Hussein assume a presidência do Iraque. À época, o mandatário era visto como "o grande líder do mundo árabe", explica Marini. O país, por sua vez, vivia uma época de prosperidade, amparada pelo petróleo, e se destacava como uma potência não apenas do Golfo, mas também do Oriente Médio.
Quase que simultaneamente à ascensão de Hussein ao poder em Bagdá, acontecia a
revolução islâmica no Irã. O mandatário, sunita, tinha a preocupação de que a insurgência dos vizinhos, de maioria xiita,
estimulasse um evento parecido no território iraquiano.
"O Iraque é composto pela maioria de população xiita, mas a elite, seja intelectual ou política, é sunita. O Saddam era sunita, apesar de não praticar muito a religião. E ele fazia atos, ações muito sérias contra a população xiita, chegando, em alguns casos, a ter limpeza étnica, que foi o que aconteceu em 1980, na região mais ao sul do país."
As tensões entre Iraque e Irã eclodiram em
setembro de 1980, quando Bagdá atacou oito pontos do território controlado pelo
governo de Teerã. A guerra,
patrocinada em ambos os lados pelos Estados Unidos, duraria oito anos e terminaria com
mais de 1 milhão de mortos, entre civis e militares.
"No liivro 'Lobby da morte', há uma fala do Saddam Hussein: 'Esta guerra só continua porque é de interesse dos Estados Unidos. No dia que Washington falar que é para acabar, essa guerra termina'."
De acordo com a especialista, a Guerra Irã-Iraque gerou US$ 80 bilhões (R$ 443 bilhõoes) em dívidas para Bagdá, que passou de uma sociedade próspera e com índice de desenvolvimento humano alto para uma economia falida.
Sem dinheiro, Hussein viu como solução para os problemas nacionais a invasão do Kuwait. O presidente tinha no vizinho, que já tinha feito parte do território iraquiano, o plano perfeito: englobar o país e retomar os poços de petróleo locais.
O discurso usado pelo mandatário se justificava pela alta produção do "ouro negro" do Kuwait, o que derrubava o preço dos barris no mercado internacional e, consequentemente, a arrecadação iraquiana.
"Quando mexe no bolso, aí que a gente começa a ver, porque dói mais. Ele viu a crise e falou: 'Preciso me reerguer, preciso elevar minha imagem internacional'. Então invadir o Kuwait, na lógica da estratégia militar das Forças Armadas e do Estado-maior iraquiano, que era comandado por Saddam, era a solução perfeita."
Marini explica que Hussein acreditava que teria, mais uma vez, o
apoio dos Estados Unidos contra o Kuwait, assim como teve nas batalhas contra o Irã. Para a especialista, faltou ao presidente iraquiano entender que
o contexto naquela época, pós-Guerra Fria, era diferente: os norte-americanos agora se colocavam como
policiais do mundo e seguiam a
Doutrina Carter.
"A Doutrina Carter é uma diretriz da política externa dos EUA de 1980 que vem como uma resposta à revolução islâmica do Irã. A doutrina fala claramente que as jazidas petrolíferas […] daquela região [do Oriente Médio] são de interesse dos EUA. Quem fizer alguma ameaça ou ação vai ter uma resposta militar."
Em 1990, perder suprimento de petróleo ou ficar à mercê do Iraque era perigoso para os Estados Unidos. A convidada do Mundioka afirma que as Forças Armadas norte-americanas, por si só, utilizam mais combustível do que muitos países. Ou seja, qualquer interferência na commodity poderia desestabilizar a economia de Washington.
"Se não tem petróleo, aquele carro de combate não anda. Se não tem petróleo, a indústria vai ter que fazer férias forçadas para todos os funcionários. Isso impacta em tecnologia, inovação, ciência. […] É como se aqui tivesse um dominó: vou dar um primeiro tapinha, e vão cair todas as outras peças."
É nesse cenário que, em 2 de agosto de 1990, o Iraque invade o Kuwait. Se, em um primeiro momento, a família real kuwaitiana fugiu do país e deixou até as joias, que acabaram nas mãos de parentes de Hussein, logo uma coalizão internacional formada sob a bandeira das Nações Unidas pousou no território.
Condenado pelo Conselho de Segurança da organização, o Iraque viu mais de 30 países enviarem tropas e recursos para o Kuwait, em uma tentativa de expulsar os homens de Bagdá. Em um espaço de seis meses, a missão capitaneada pelos Estados Unidos foi um sucesso, e o controle do Kuwait foi retomado.
Apesar de ser derrotado pela coalizão internacional, o evento não foi suficiente para derrubar Hussein do poder. Segundo Marini, os norte-americanos ficaram sem saber o que fazer após o fim do confronto e acreditaram que o presidente do Iraque não resistiria à pressão popular.
Entretanto, assim como o mandatário iraquiano não avaliou o contexto de momento antes de se aventurar no Kuwait, Washington não conhecia tão bem a importância e o que a figura de Hussein significava para os iraquianos.
"Os norte-americanos não entenderam esse papel estrutural e cultural de quem eram o Saddam, o partido e a sociedade iraquiana, do patriarcalismo, do tradicionalismo, dessa questão de imagem. Então o Saddam, mesmo com as várias sanções, continuava no poder. Por uma questão também de que ele era um ditador, ele tinha uma mão de ferro muito forte, e todas às vezes que tinha rebeliões, ele conseguia conter."
O cerco ao presidente iraquiano começou a se fechar anos após o término da Guerra do Golfo. Uma série de operações organizadas por países e instituições internacionais, como as Nações Unidas, foram minando a soberania do Iraque. Uma das mais lembradas é a Raposa do Deserto, em dezembro de 1998, quando EUA e Inglaterra bombardearam Bagdá.
Em 2003, cerca de dois anos após os ataques de 11 de Setembro, os
Estados Unidos invadem definitivamente o Iraque em busca de
armas de destruição em massa, em mais um episódio das
ações de Washington que ficaram conhecidas como
Guerra ao Terror.
Com a ocupação norte-americana, as forças militares e policiais iraquianas são dissolvidas. A população do país, sem qualquer tipo de segurança, se vê vítima de grupos terroristas e milícias, como o Estado Islâmico (organização terrorista proibida na Rússia e em vários outros países), nos anos que se sucedem. Estima-se que apenas 60% de todo o território do Iraque esteja sob controle do Estado.
Marini acredita que o Iraque só conseguirá voltar aos eixos quando restabelecer parâmetros básicos para a constituição de um país, como segurança, saúde, educação e defesa.
"Quando conseguir botar isso de uma maneira não só teórica, mas prática, o Estado vai voltar a caminhar. E com isso, consequentemente, vai ter o fortalecimento da economia, vai diminuir as taxas de desemprego e de desnutrição infantil, que ainda são muito altas."
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