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'Chantagem': especialistas defendem resposta assertiva do Brasil contra investigação dos EUA ao Pix

© Foto / Marcelo Camargo/Agência BrasilO presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa. Brasília (DF), 18 de agosto de 2025
O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia de assinatura de atos e declaração à imprensa. Brasília (DF), 18 de agosto de 2025 - Sputnik Brasil, 1920, 18.08.2025
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O Itamaraty deve enviar resposta a norte-americanos nesta segunda-feira (18) a respeito da ação do USTR, que entre outros serviços e motivações tem como alvo o Pix. Especialistas afirmam à Sputnik Brasil que o Planalto deveria enviar uma resposta contundente a Washington.
O Itamaraty deve enviar, nesta segunda-feira (18), a resposta sobre a investigação aberta pelos Estados Unidos por práticas comerciais "desleais" no mês de julho pelo Escritório do Representante de Comércio (USTR, na sigla em inglês).
Embasada na Seção 301 da Lei de Comércio dos EUA, a investigação tem como alvo as áreas digitais, financeiras, de meio ambiente e propriedade intelectual. Popularmente, a ação ficou conhecida pelo foco estadunidense no Pix e no comércio popular da 25 de Março, em São Paulo.
A investigação foi aberta na esteira das ações do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que tarifou em 50% parte das exportações brasileiras. O contexto da apuração do USTR, portanto, ganhou tom turvo e gerou questionamento sobre ter cunho político.
Caso seja identificado que o Brasil, de fato, pratica tais relações comerciais desleais, a nação pode receber a imposição de tarifas ainda mais pesadas dos Estados Unidos e sofrer até com restrições à importação e suspensão de benefícios nas transações bilaterais.
Em entrevista à Sputnik Brasil, especialistas no campo da diplomacia e da economia acreditam que o Itamaraty precisa responder com assertividade às acusações, em um tom que misture tecnicidade com reafirmação da soberania nacional.
O doutor em relações internacionais e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Regionalismo e Política Externa (LERPE), da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Nathan Morais, acredita que se deve esperar uma resposta diplomática tradicional aos moldes brasileiros, mas com alinhamento próximo às falas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

"Espero ver a manutenção dessa linha de defesa muito forte da soberania, um discurso forte, porém, que não parta para um ataque direto. Muito provavelmente, o chanceler Mauro Vieira ou o presidente Lula vão continuar defendendo a negociação, mas ainda com aquele componente muito forte de defesa da soberania, com palavras duras, talvez, que o Brasil não vai aceitar provocações ou chantagens."

O professor de economia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Fábio Sobral ressalta que países como China e Índia possuem mecanismos eletrônicos de pagamento, como o Pix, mas não passaram por investigações ligadas a esses meios.
Segundo o especialista, essa é uma tentativa de oligopolização da economia em benefício às empresas de cartão de crédito norte-americanas.

"Não foi uma cópia, não foi uma quebra de patente. É uma simples disputa comercial entre dois produtos semelhantes, o que em economia se chama produtos substitutos. É uma chantagem para tentar dominar o mercado e controlar as operações financeiras."

Outro ponto a ser rebatido pelo Itamaraty é o comércio da 25 de Março, região da cidade de São Paulo conhecida pelo comércio popular. Segundo Sobral, a questão é um assunto interno relacionado ao fenômeno do trabalho informal, "que não absorve as pessoas em empregos regulares com carteira assinada".

"Então você não vai combater um fenômeno social com medidas retaliatórias. Isso é uma mera desculpa dos Estados Unidos para provocar conflito com o Brasil."

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Como contornar essa situação?

Ainda que a Seção 301 apresente forte caráter político ao ser aplicada contra o Brasil, os especialistas acreditam que o Itamaraty deve buscar maneiras de contornar futuras sanções, embora as negociações com a atual administração dos EUA sejam complicadas.
Para Nathan Morais, Lula pode usar a conexão próxima com o presidente Vladimir Putin para buscar dicas de como tratar Trump. Os líderes de Estados Unidos e Rússia estiveram juntos na última sexta-feira (15), em um encontro bilateral no Alasca.

"Talvez o Brasil e o presidente Lula passem a ser mais incisivos, de marcar mais em cima, para ver se conseguem chegar a uma saída negociada para a próxima crise. […] Talvez Putin possa ter dado algumas dicas para o presidente Lula sobre como lidar com o Trump."

O internacionalista também destaca que, até o momento, as sanções e as motivações norte-americanas são baseadas em pessoas, como a Lei Magnistsky contra o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, em detrimento do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Caso o USTR determine punições ao Brasil, seria um cenário diferente do tarifaço.

"O governo Trump está focado nessas punições a pessoas físicas, a indivíduos, e não ao Estado brasileiro como um todo. Então, por mais que haja confusão com o STF, essas punições estão mais concentradas nas pessoas, nos indivíduos, como o ministro Alexandre de Moraes."

Sobral, por sua vez, acredita que o verdadeiro alvo de Trump é o presidente Lula, e que ações como essa dos Estados Unidos devem ocorrer até as eleições presidenciais do Brasil em 2026.

"[Lula] precisa manter uma postura firme e identificada com seus princípios, e não há nada que o Brasil possa fazer que vá apaziguar os interesses americanos. Eles vão trabalhar para encontrar elementos de divergência, de conflito, e não só hoje, mas daqui provavelmente até as eleições de 2026."

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