A questão de reformas monetárias é fundamental para a transformação do país e garantir sua soberania, declarou na quinta-feira (16) o primeiro-ministro senegalês, Ousmane Sonko, durante uma conferência perante os estudantes em Dakar com o ex-deputado francês Jean-Luc Mélenchon.
"A moeda, assim como os impostos, é uma poderosa alavanca econômica e um instrumento de soberania", declarou Sonko.
"Não podemos imaginar nem por um segundo que a França possa ter uma moeda que não lhe pertença verdadeiramente. Nenhum Estado digno deste nome deve subcontratar a sua moeda [...] Estamos caminhando para estas reformas", indicou, referindo-se ao franco CFA.
O franco CFA é uma moeda utilizada por diversos países que foram colonizados pela França, além de alguns outros que adotaram a moeda para combater a inflação.
Controlada por Paris, a moeda tem sido criticada por ser mais um instrumento de dominação neocolonial e não se adaptar às necessidades econômicas das economias em desenvolvimento da África.
O próprio general de Gaulle recusou-se a permitir que os Estados Unidos impusessem uma nova moeda para a França após a Segunda Guerra Mundial, lembrou o líder senegalês. Contudo, na África, "os Estados endividam-se em moedas estrangeiras e ficam, portanto, expostos às flutuações do mercado".
Existem dois francos CFA distintos, de mesmo valor porém não fungíveis: o ocidental, usado por países da União Econômica e Monetária do Oeste Africano, e o central, usado por países da Comunidade Econômica e Monetária da África Central.
Criação de uma 'moeda flexível'
"São poucos os países africanos que podem contrair débitos em moedas locais", detalha Sonko.
"E isso deve parar porque estamos sofrendo as repercussões. Queremos uma moeda flexível, indexada a pelo menos duas moedas, capaz de amortecer choques exógenos e fortalecer a nossa competitividade exportadora."
O político criticou ainda o silêncio em torno da soberania monetária e uma potencial saída do franco CFA do país. Segundo Sonko, esses assuntos não são discutidos livremente nos meios de comunicação do país ou no Parlamento senegalês.
"Toda vez que um político africano levanta a questão monetária, ele torna-se a encarnação do diabo. Não temos o direito de falar sobre a nossa própria moeda."
Ainda assim, certas condições, como uma balança comercial superavitária, são necessárias para que o país abandone o franco CFA, explicou recentemente o jornalista senegalês Babacar Dione à Spuntik. Os debates em torno da criação de uma moeda comum na sub-região poderiam, no entanto, acelerar o processo, sublinhou.