De acordo com Robert Blackwill, ex-embaixador dos EUA na Índia, e Richard Fontaine, CEO do Centro para uma Nova Segurança Americana (CNAS, na sigla em inglês), ambos autores do livro "Década Perdida: O Pivô dos EUA para a Ásia e a Ascensão do Poder Chinês", Washington falhou em sua política externa em mais dois pontos: a escalada no Vietnã, em 1965, e a invasão do Iraque, em 2003.
O conceito de pivô foi lançado pela primeira vez pela ex-secretária de Estado, Hillary Clinton, em 2011, mas na concepção dos autores, a estratégia de "pivô para a Ásia" até agora fracassou, ao ser distraída pelos conflitos na Europa e no Oriente Médio.
Os autores atribuem a culpa igualmente às três administrações mais recentes dos EUA.
Sob o presidente Barack Obama, o pivô perdeu força quando Clinton foi substituída por John Kerry, que se concentrou no processo de paz no Oriente Médio. A Ásia era "uma" prioridade, não "a" prioridade.
O governo de Donald Trump concentrou-se no déficit comercial com a China, mas questionou o valor das alianças.
A administração de Joe Biden inicialmente deu à região o devido foco, tornando a equipe Indo-Pacífico no Conselho de Segurança Nacional a maior. No entanto, o envolvimento da administração com a Ásia tem sido ofuscado pelo envolvimento com a Europa.
"As razões para o fracasso de mais de uma década vão desde objetivos pouco claros até à falta de benefícios políticos internos da política asiática. Este último tornou difícil para qualquer um dos três presidentes concentrar-se na região", afirmaram Blackwill e Fontaine ao jornal Nikkei Asia.
Na visão dos autores, a estratégia dos EUA não pode se basear na contenção da China – como acontece agora através de sanções e tarifas arbitrárias – visto que "nenhuma nação asiática se juntaria a Washington em tal política".
"Em vez disso, a mensagem aos aliados deveria ser a adesão a um bloco unificado, não para derrubar a China, mas para estabelecer um equilíbrio a longo prazo", disseram.
Poderia ser um equilíbrio em que Pequim não fosse capaz ou não quisesse alterar a ordem global.
Outro cenário poderia ser que "a China, um dia, decida que na verdade tem mais a ganhar com algumas das formas como as coisas já são e como as coisas são ordenadas. Que, ao derrubá-lo o [equilíbrio global], o seu poder poderia ser reduzido ou os EUA e o poder aliado poderiam ser tão grandes que torne isso impossível", afirmou Blackwill.
"Não creio que possamos convencer a China a não aspirar a ser o número 1 na Ásia. Em vez disso, nós, no Ocidente, e os nossos amigos e parceiros em todo o mundo, precisamos de tomar medidas que aumentem a dissuasão em relação à China e lhe dê desincentivos para perturbar a ordem global", acrescentou.
Os autores ainda consideram que uma guerra entre Washington e Pequim só poderia acontecer por causa de Taiwan, uma vez que "não pode haver estabilização das relações EUA-China sem abordar a questão de Taiwan".
Para reduzir as tensões, os autores propõem que os EUA sigam rigorosamente uma política de Uma Só China e rejeitem publicamente tanto a independência de Taiwan como a mudança de governança na China como objetivos políticos.
Por fim, os autores citaram o Japão, afirmando que "o aumento nos gastos com defesa do Japão, projetado para ser o terceiro maior do mundo em poucos anos, ocorre provavelmente após o crescimento do poder da China. Essa é a coisa mais significativa que está acontecendo na segurança asiática agora", concluíram.