"O pais utiliza bem uma estratégia, principalmente quando traz a China e a Rússia [como parceiras], o que contrapõe a política estadunidense [de domínio sob os demais países da América Latina]. Temos vários discursos tanto do Evo Morales [presidente entre 2006 e 2019] quanto do presidente Luis Arce, apesar de menos intenso, muito anti-imperialista e anticolonizador. Eles usam muito esses termos, principalmente por se colocarem como um Estado indígena. Então a política externa é pautada um pouco nisso também. E fazem muito um discurso pró-regional, que também aproxima esses outros dois países ao se contrapor à hegemonia regional dos EUA", resume.
Por que o Brasil importa gás natural da Bolívia?
"O Brasil é um parceiro estratégico quase natural, e já tem uma estrutura de gasodutos que trazem o gás ao país. Além disso, a Petrobras já participou desses investimentos. Tivemos aquele contratempo com a nacionalização dos hidrocarbonetos, mas eu diria que o Brasil é um candidato natural a ser um parceiro nessa exploração [do novo megacampo]. Também temos a presença da China, conversas da Bolívia com Irã, Rússia, então há uma competição. O leque de opções para o governo boliviano atualmente é um pouco maior", acrescenta.
Qual a maior reserva de lítio do mundo?
"O lítio é uma novidade, já que essas reservas foram descobertas há pouco tempo. Porém, a falta de infraestrutura, instabilidade política e acordos desfavoráveis prejudicam a redistribuição desses benefícios [econômicos conquistados com a exploração do mineral] para a população", enfatiza.
Instabilidade política na Bolívia
"A grande disputa realmente vai ficar no partido Movimento Alternativa Socialista [MAS] entre o [Luis] Arce, que tem uma visão mais moderada, mais pragmática, e o Evo Morales, que tem uma visão mais crítica em relação ao fundo da economia. Para o grupo político como um todo, o necessário era a tentativa de encontrar um consenso para que as forças da oposição não pudessem se aproveitar dessa fissura que tem no MAS", finalizou.