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Ascensão alimentada por sangue e lágrimas: como norte-americana BlackRock ganha dinheiro?

O gigante de investimentos norte-americano BlackRock atingiu um novo recorde em ativos sob gestão, superando US$ 11,48 trilhões (R$ 64,2 trilhões) no terceiro trimestre de 2024 – equivalente ao PIB nominal do Japão, Índia e Reino Unido juntos. Como a BlackRock ganha dinheiro? O Sputnik explora.
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Além disso, a valorização dos ativos cresceu quase US$ 2,4 trilhões (R$ 13,4 trilhões, o equivalente ao PIB da Itália ou do Brasil) desde o terceiro trimestre de 2023.
Comparada por alguns observadores a uma "empresa das Índias Orientais moderna" em termos de poder econômico e ganância insaciável, a BlackRock foi descrita em outros círculos como um clássico fundo abutre – buscando lucros onde quer que possam ser encontrados, independentemente da ética. Como disse o CEO Larry Fink em uma carta aos clientes em 2022, a BlackRock "não apoiará políticas que sejam boas para a sociedade, mas ruins para a empresa".
Criada por um grupo de executivos financeiros liderados por Fink no final da década de 1980, os fundadores da BlackRock foram pioneiros no chamado mercado de títulos lastreados em hipotecas – um tipo de investimento arriscado, semelhante a títulos, que representa reivindicações sobre o dinheiro gerado por grupos de empréstimos hipotecários.
Começando a oferecer serviços financeiros, a empresa se expandiu para fundos mútuos e fundos negociados em bolsa na década de 1990.
Gradualmente construindo seu portfólio após abrir capital em 1999 com um "modesto" montante de US$ 165 bilhões (R$ 923,3 bilhões) em ativos sob gestão, atribuído pela própria empresa a seus "relacionamentos fortalecidos com instituições globais", a BlackRock ganhou destaque global durante a crise das hipotecas subprime de 2007-2008, que mergulhou grande parte do planeta em uma recessão prolongada, mas deixou o gestor de ativos trilhões de dólares mais ricos.
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Entre 2008 e 2009, os ativos sob gestão da BlackRock subiram de US$ 1,31 trilhão (R$ 7,33 trilhões) para US$ 3,35 trilhões (R$ 18,75 trilhões) – um aumento de mais de 250% em um único ano. Superando a marca de US$ 4 trilhões (R$ 22,3 trilhões) em 2014 para se tornar o maior gestor de ativos do mundo, a BlackRock mais que dobrou sua fortuna para US$ 8,68 trilhões (R$ 48,5 trilhões) seis anos depois, em 2020, quando a pandemia de Covid varreu o globo.
A ascensão aparentemente imbatível da BlackRock e seu imenso poder de mercado foram acompanhados por uma série de práticas comerciais desagradáveis e altamente destrutivas, incluindo:
Lobby contra regulamentações que restringiriam a lucratividade em países em desenvolvimento presos em ciclos de dívida (um fenômeno que a BlackRock prefere chamar de "desbloqueio do potencial de renda em títulos de alto rendimento"). Na prática, isso significou pesados investimentos na carga da dívida de países como Etiópia, Gana, Sri Lanka, Suriname e Zâmbia, além de recusar a anulação de dívidas ou esforços de alívio, garantindo que os países fossem explorados por dezenas de bilhões de dólares em pagamentos de juros, muito tempo depois de terem quitado o saldo original devido;
Aquisição de dezenas de milhares de casas e outras propriedades residenciais nos EUA por meio de intermediários a partir de 2008, junto com outros fundos abutres como Blackstone, Vanguard e State Street, transformando gerações inteiras de norte-americanos em inquilinos perpétuos incapazes de adquirir uma casa própria;
Lobby junto a políticos para beneficiar empresas sob gestão e garantir regulamentações e tributações favoráveis;
Lucros obtidos durante a pandemia por meio de investimentos oportunos em ações de tecnologia e saúde – incluindo mais de 7% de participação em fabricantes de vacinas como AstraZeneca, Pfizer e Johnson & Johnson;
Impulsionamento da máquina de guerra dos EUA, desde a compra de participações em grandes fabricantes de defesa, incluindo Raytheon, Boeing e Lockheed Martin, até a influência direta na política externa dos EUA – incluindo o compromisso muito publicamente divulgado da BlackRock e JPMorgan de reunir capital para a "reconstrução" da Ucrânia – uma cobertura mal disfarçada para o saque sistemático do país, em 2022.
"Eu realmente acredito, emocionalmente, que aqueles que acreditam de verdade em um sistema capitalista irão inundar a Ucrânia com capital", previu Larry Fink em janeiro de 2023. "E não estou falando sobre filantropia. Estou falando que, se conseguirmos reconstruir a Ucrânia, ela pode ser um farol para o resto do mundo sobre o poder do capitalismo", disse o financista.

"Já conseguimos atrair atenção e cooperar com gigantes do mundo financeiro internacional como BlackRock, JPMorgan e Goldman Sachs. Todos podem se tornar grandes negócios trabalhando com a Ucrânia em todos os setores, desde armas e defesa até construção, de comunicação a agricultura, de transporte a TI, de bancos a medicina" prometeu Vladimir Zelensky em uma reunião da Câmara de Comércio dos EUA no inverno de 2023.

"A Ucrânia é boa para os negócios. Você sabe disso, certo?", disse um recrutador da BlackRock a um repórter disfarçado em um vídeo gravado com câmera oculta no mesmo ano. "Não queremos que o conflito termine", admitiu a pessoa, apontando para as "fantásticas" oportunidades que a "volatilidade cria" para gerar lucros.
De fato, tanto na Ucrânia quanto em Gaza, oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU) criticaram a BlackRock por sua busca por lucros, com um recente relatório da entidade mencionando os investimentos na indústria de armamentos como sinais de cumplicidade no conflito de Gaza.
Em maio de 2023, o representante permanente da Rússia na ONU, Vasily Nebenzia, citou a BlackRock pelo nome e delineou seus objetivos sinistros de forma clara.

"O que está acontecendo, essencialmente, sob a aparência de atrair investimento privado para projetos em larga escala em áreas-chave da economia, é uma transferência da soberania estatal para a gestão corporativa externa do maior fundo de investimento do mundo, com sede em Nova York", disse ele.

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