Panorama internacional

Ocidente usa mercenários contra a Rússia para 'aumentar as apostas' na Ucrânia, diz analista

Após a tentativa fracassada de um grupo de mercenários estrangeiros de se infiltrar na Rússia, analistas consultados pela Sputnik consideraram que o Ocidente — especialmente Washington — procura prolongar o conflito na Ucrânia para "defender interesses geopolíticos" e alimentar as suas "economias de guerra".
Sputnik
A participação de mercenários ocidentais nesta tentativa frustrada de ataque ao solo russo demonstra o que já se sabia desde o início do conflito em 2022: a "intervenção direta de agentes externos" na crise ucraniana, afirma Sandra Kanety, acadêmica do Centro de Relações Internacionais da UNAM à Sputnik.
A doutora em Ciência Política indicou que tanto Washington como outros países ocidentais procuram "alimentar este conflito", que passou de regional a internacional ao assumir uma dimensão "de grande escala", envolvendo mais de 30 Estados que integram a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), além de corporações do setor de defesa e mercenários de nações como a Polônia e o Canadá.

"Há um interesse do Ocidente, particularmente da América do Norte, em intervir e prolongar um conflito, no qual encontram importantes interesses geopolíticos para defender as suas economias de guerra e a sua posição no tabuleiro internacional. Se não fosse por isso, não haveria razão para existir o apoio que a OTAN presta a um país que não é membro", disse Kanety.

A acadêmica avaliou que a participação dos Estados Unidos tem como objetivo "diminuir o poder da Rússia, não só a nível regional, mas a nível global". Além disso, comentou que Washington mantém "grande parte do seu poder econômico" através da sua participação em conflitos armados em todo o mundo.
Entre os mercenários eliminados no último domingo (27) na região russa de Bryansk estavam cidadãos dos Estados Unidos, Polônia e Canadá, segundo a representante do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova.
Entre os pertences pessoais dos quatro mortos estavam uma bandeira canadense, um livro de orações em polonês e um caderno com anotações sobre treinamento tático em inglês. Na verdade, um dos mercenários assassinados tinha uma tatuagem indicando que pertencia ao 75º Regimento Ranger das Forças Especiais dos EUA.

Nesse sentido, Kanety considerou como um "discurso de dois pesos e duas medidas" o fato de Washington "lutar pela paz, pela democracia e pela soberania dos países", enquanto, na prática, intervém a favor da Ucrânia e lhe fornece apoio militar. "É o país mais beligerante do mundo, aquele que tem mais armas e que mais participa nos conflitos armados", sublinhou ela.

Panorama internacional
Tentativa de mercenários de violar fronteira russa expõe o nível da interferência dos EUA na Ucrânia

'Os EUA procuram provocar a Rússia'

Mauricio Alonso Estevez, mestre em relações internacionais da Universidade Autônoma Metropolitana do México, disse à Sputnik que, embora Washington tenha apoiado Kiev desde antes do início do conflito com as sanções impostas a Moscou e o "maior envio de armas" com maior tecnologia, a tentativa de incursão de mercenários ocidentais em território russo agrava a situação.

"Isso agrava a situação de conflito e evidência a participação dos países ocidentais. É provável que os governos destes países minimizem as notícias e tentem eliminá-las dos seus meios de comunicação, e os fóruns e organizações internacionais vão se desconectar [delas]", estimou o internacionalista.

O acadêmico considerou que o surgimento dos sabotadores é uma "provocação" do governo dos Estados Unidos dirigida contra o Kremlin, com o qual estaria a procurar uma "resposta maior e mais radical" de Moscou, para depois se desassociar destes grupos mercenários.

"A estratégia seguida pelo Ocidente, particularmente pelos Estados Unidos, é aumentar os riscos na medida em que no conflito também se veja mais claramente que a Ucrânia está perdendo [...] e ver até que ponto o governo russo está disposto a responder", disse Estevez.

No quadro eleitoral, Washington poderá estar tentando "desviar a atenção" de uma questão que está a ter um "impacto profundo" nos norte-americanos, como o apoio militar a Israel no conflito em Gaza, considerou o internacionalista. Washington "apoia abertamente um regime genocida" e isso pode servir como uma "cortina de fumaça", acrescentou.
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Mercenários estrangeiros 'escapam de todo o controle'

Para o analista internacional Carlos Pereyra Mele, mercenários como esses são úteis para as potências ocidentais porque "disfarçam a sua intervenção direta" nos conflitos. Desta forma, explicou, as potências podem intervir sem ter que explicar e "sem responsabilidade pelo que essas tropas mercenárias fazem nos territórios".

"Essas tropas mercenárias escapam de todo controle jurisdicional e de todos os códigos militares do país ao qual supostamente pertencem. Além disso, se essas tropas forem eliminadas, os países envolvidos não terão que arcar com o problema social causado pelas críticas ao número de vítimas", apontou Pereyra Mele.

Nesse sentido, o especialista destacou que as baixas de soldados são algo "muito desaprovado socialmente" nos Estados Unidos e lembrou os fortes protestos que eclodiram nos EUA "quando os aviões chegaram cheios de caixotes embrulhados em bandeiras durante a Guerra do Vietnã".
O especialista criticou ainda que o Ocidente esteja utilizando "essa ferramenta dos mercenários para travar uma guerra híbrida" com pessoal especializado que já serviu nas Forças Especiais dos EUA.

"Nos EUA, há muitos soldados desempregados que operaram no Irã, na Líbia, etc., e por um salário dedicam-se a cometer ultrajes em outros países porque essas tropas não são governadas por qualquer lei internacional de guerra", concluiu.

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