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Especialista: Brasil à frente do BRICS é 'grande oportunidade' para fortalecer a América Latina

A presidência do BRICS que o Brasil exercerá durante 2025 é uma oportunidade para a América Latina fortalecer seus laços com o grupo, disse o analista Daniel Prieto à Sputnik. No entanto, ele alerta que "cabe ao Brasil" mostrar aos outros países latino-americanos os benefícios econômicos concretos da aproximação ao bloco.
Sputnik
O gigante sul-americano assumiu no dia 1º de janeiro o comando do grupo fundado junto com Rússia, Índia, China e África do Sul sob o lema "Fortalecendo a cooperação no Sul Global por uma governança mais inclusiva e sustentável". Além de enfrentar o desafio de consolidar um novo sistema de pagamentos alternativo ao dólar baseado em moedas locais, o mandato brasileiro encontra o bloco em clara expansão, com a recente incorporação de "Estados parceiros": Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Tailândia, Cuba, Uganda, Malásia e Uzbequistão.
Assim, o período em que Luiz Inácio Lula da Silva esteja à frente do BRICS poderia ser, juntamente com a incorporação da Bolívia e de Cuba como os primeiros latino-americanos fora do Brasil a aderir, uma oportunidade fundamental para o BRICS ter mais ressonância no mundo e na região latino-americana.

"É preciso dizer que a presidência pro tempore do Brasil é uma grande oportunidade para fortalecer a base do BRICS na América Latina e no Caribe e é muito boa para a política externa e as relações comerciais do governo Lula", disse Prieto, acadêmico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O especialista lembrou que a fracassada incorporação da Argentina, que havia iniciado negociações sob o governo de Alberto Fernández (2019-2023), mas que as descartou após a vitória de Javier Milei, permitiu "alimentar a discussão sobre a importância da participação de outros países da América Latina e do Caribe".
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Somado a isso, Prieto destacou que o BRICS passou por um processo de "reformulação de critérios" nos últimos anos que facilitou, primeiro, a entrada de países como Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia e Irã no dia 1º de janeiro de 2024 e os outros nove um ano depois. Da mesma forma, outros Estados como a Argélia, a Nigéria, a Turquia e o Vietnã estão em processo de adesão.
Prieto sustenta que as novas incorporações ocorrem em um contexto em que "a importância da expansão das bases regionais" do BRICS começa a ficar evidente. Assim, destacou que o grupo está apostando fortemente no Sudeste Asiático com a adesão de uma potência demográfica como a Indonésia e marca presença em África com o Egito, a Etiópia e a possível adesão da Nigéria.

Assim, Prieto entende que "é o Brasil que tem que trabalhar na expansão da base regional na América Latina, através do governo Lula e também através de Dilma Rousseff da presidência do Banco do BRICS [Novo Banco de Desenvolvimento]". Nessa linha, o analista identificou Colômbia e Chile como dois países sul-americanos que poderiam aproveitar este ano para ingressar no grupo.

O caso mais claro é o da Colômbia, já que o presidente colombiano, Gustavo Petro, deixou explícita sua intenção de ingressar no BRICS durante reunião que teve com Lula em abril de 2024. O caso chileno parece menos próximo, já que nem o presidente, Gabriel Boric, nem seu chanceler, Alberto van Klaveren, comentaram o assunto. Em qualquer caso, ter acordos de livre comércio com o Brasil e a China, por exemplo, poderia facilitar a gestão.
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"Se o Brasil conseguir, ao final do seu mandato, chegar a acordos ou pelo menos uma intenção clara da Colômbia e do Chile de participarem do BRICS, seria uma conquista importante para a expansão da base regional do grupo, bem como para a sua participação na política externa", avaliou Prieto.

Para atingir esse objetivo, o analista considera fundamental que o Brasil consiga apresentar "uma diferenciação entre o político, o diplomático e o econômico-comercial" no bloco, fazendo com que os novos membros latino-americanos vejam as vantagens econômicas da adesão ao BRICS, especialmente no que diz respeito a investimentos em infraestrutura.
Prieto enfatizou que caberá ao governo Lula poder apresentar "essas questões mais concretas" aos governos latino-americanos, para explicar as oportunidades de investimento multilateral que a América Latina pode receber através do Banco do BRICS. "O Brasil tem que ser mais proativo na identificação de projetos que possam ser financiados pelo Banco e que possam contribuir para a competitividade dos processos produtivos nacionais", afirmou.
Para o analista, os investimentos para estimular cadeias de valor, no setor energético ou na extração de recursos naturais em áreas-chave para a região como a Amazônia, são campos que podem ser fundamentais "em um processo de fortalecimento da base regional do BRICS".
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