O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, já reforçou a importância da participação nacional no bloco, que fortalece o compromisso do governo com a integração regional e a agenda econômica e social do Mercosul.
Como já anunciado previamente pelo presidente, uma das prioridades da liderança brasileira será concluir o acordo entre
Mercosul e União Europeia. De acordo com
Flavia Loss, professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), a expectativa é de que a tratativa entre os blocos avance.
Neste momento, diz, o acordo é importante, sobretudo se o Brasil e os países do Mercosul pensarem nas oportunidades para as suas indústrias. Já que no que diz respeito às commodities, a negociação ainda divide opiniões.
A esperança, para a analista, é de que, com o acordo firmado,
o "Brasil se coloque um pouco mais no mundo" e consiga, "assim
como a Argentina, inserir suas indústrias em cadeias de valor".
Ao assumir a presidência pro tempore, Lula anunciou ao menos cinco tópicos que servirão como prioridade do mandato brasileiro. Além do acordo com a União Europeia (UE), estão em pauta as moedas locais, a ampliação do comércio com países asiáticos e o desenvolvimento tecnológico.
A discussão do uso de moedas locais já vem sendo trabalhada pelo ministro da Economia, Fernando Haddad, há algum tempo, embora ainda haja confusão sobre o que, de fato, se trata a iniciativa.
Para o governo, a importância da medida está justamente no fato de não depender de um banco central de outro país. "Não depender de uma política monetária de outro país que, no caso, acontece hoje em dia com o dólar", acrescenta Gonçalves.
Em relação às outras duas pautas, a parceria do bloco com Estados associados será crucial. No caso da ampliação do comércio com a Ásia, a conclusão da
Rota Bioceânica que liga o Brasil ao Peru através de linhas ferroviárias é imprescindível, do ponto de vista da analista. "Isso viabilizaria um encurtamento da viagem para a Ásia em até duas semanas."
Já no que diz respeito ao desenvolvimento tecnológico, Gonçalves aponta algumas frentes que podem estar sobre a mesa. Desde a necessidade de a região ser mais autônoma em determinadas tecnologias digitais — um exemplo citado é a parceria firmada com o Chile para desenvolver inteligência artificial que reflita a própria América Latina — até o desenvolvimento de tecnologias voltadas à saúde.
Além disso, o investimento em inteligência para conter o fluxo de armas e coibir o crime organizado na região,
bem como na Amazônia, deve estar na ordem do dia da presidência brasileira.
Os desafios para as tratativas avançarem em seis meses são vários, mas um em especial tem atingido o bloco, segundo as especialistas ouvidas pela Sputnik Brasil: a diferença entre os governos, que se sobrepõem, muitas vezes, aos interesses do bloco.
Loss ressalta que, a cada novo governo, o bloco recrudesce nos temas. "No fundo, isso só reflete a dificuldade que o Mercosul tem desde a sua formação de ter uma voz uníssona e que não seja tão dependente dos governos de ocasião", relata.
Com esse impasse, Gonçalves acredita que o que deve avançar efetivamente é o acordo com a UE, que
já está, de certa forma, encaminhado, e "o foco em viabilizar uma maior fiscalização com relação aos crimes organizados,
justamente porque são pautas que dialogam com todos os governos".