O objetivo, segundo o representante, é quadruplicar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035, como parte de um esforço para descarbonizar a economia e reduzir a dependência de combustíveis fósseis.
Durante participação na pré-COP30, Paes Leme explicou que a meta não é arbitrária.
Ela se baseia em um relatório da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), também divulgado hoje, que aponta como essa multiplicação pode acelerar a descarbonização de setores de difícil transformação, como as indústrias de cimento e aço, e os transportes aéreo e marítimo.
"Esses são setores onde a eletrificação não será suficiente para alcançar a descarbonização, então os combustíveis sustentáveis terão um papel crucial no curto e médio prazos", explicou.
O Brasil, mais outros países, como Itália, Japão e Índia, já se comprometeu formalmente com essa iniciativa.
"A reunião em Brasília teve uma boa receptividade, e a expectativa é que mais países se juntem até a cúpula de Belém", destacou o diretor, reforçando que o compromisso será formalizado na cúpula de líderes e poderá influenciar as discussões da conferência.
"Estamos menos preocupados com o documento formal da COP. O importante é enviar um sinal político forte para o setor econômico", afirmou Paes Leme.
A proposta, que é complementar a outras metas já estabelecidas, como a duplicação da energia renovável e a triplicação da eficiência energética, visa a um avanço mais rápido na transição energética, especialmente em áreas onde as tecnologias existentes não são suficientes.
Paes Leme explicou que o setor elétrico, com as fontes eólica e solar, já tem mostrado resultados, mas é preciso focar também combustíveis sustentáveis para os setores industriais e de transporte.
Ao ser questionado sobre a Aliança Global de Biocombustíveis (GBA, na sigla em inglês), lançada na cúpula do G20 de 2023, na Índia, Paes Leme afirmou que a nova iniciativa não é uma extensão da GBA, mas uma proposta mais ampla.
"A GBA continua válida e prioritária para o Brasil. Mas essa nova iniciativa busca o apoio do maior número possível de países, para criar um ambiente político que incentive a produção em escala dessas soluções sustentáveis", explicou.
A iniciativa também visa garantir que tecnologias viáveis, mas ainda de pequena escala, como o combustível sustentável para aviação (SAF, na sigla em inglês), sejam produzidas em volume suficiente para atender à demanda global. "Hoje a utilização é mínima, mas já sabemos como fazer. O desafio é produzir em larga escala, e é isso que buscamos acelerar", concluiu Paes Leme.
Enquanto isso, as tensões tarifárias entre grandes produtores, como o Brasil e os Estados Unidos, não parecem afetar diretamente a iniciativa. Paes Leme destacou que a produção de combustíveis sustentáveis não dependerá exclusivamente de países como Brasil, Índia e EUA.
"O objetivo é criar uma solução global para combater as mudanças climáticas, não um jogo de interesses entre países", afirmou, buscando desassociar a iniciativa de questões comerciais mais amplas.