Panorama internacional

Rússia aposta em energia nuclear para ampliar cooperação com Sul Global, aponta especialista

Em um momento de redefinição das alianças geopolíticas e das cadeias energéticas globais, a Rússia intensifica sua estratégia de cooperação nuclear com os países do BRICS. A movimentação, anunciada mais uma vez pelo presidente Vladimir Putin, reforça a colaboração com parceiros fora do eixo ocidental.
Sputnik
Para a economista Astrid Cazalbón, trata-se de uma aproximação estratégica clara em direção ao Sul Global, com implicações profundas para a segurança energética e a soberania desses países.
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Segundo ela, a estatal nuclear russa Rosatom já atua de forma ativa na América Latina e na África, buscando acordos que envolvam desde a construção de reatores modulares até transferência de tecnologia.
"É a empresa mais importante no mundo inteiro em equipamentos de energia nuclear, inclusive domina todo o ciclo das tecnologias e tem plena autonomia", explicou Cazalbón, que é professora de geopolítica energética e membro do Observatório Latino-Americano da Geopolítica Energética, da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
Em 2024, o BRICS lançou uma plataforma para cooperação em energia nuclear — ainda incipiente, mas com potencial. Nesta quinta-feira (16), o presidente russo, Vladimir Putin, comentou, durante a plenária da oitava edição do fórum internacional Semana da Energia Russa, que o país pretende aprofundar a cooperação na área nuclear com os países do Sul Global pela linha do BRICS.
"A Rússia está procurando justamente parceiros energéticos […] no mundo que não estejam tão alinhados assim a países ocidentais ou à OTAN e aos Estados Unidos", afirmou a especialista, que participa do Grupo de Estudos sobre Segurança Energética (Gesene) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

"Espera-se que esse espaço de cooperação contribua para acelerar esse processo."

Segurança energética e autonomia como pilares

Para Cazalbón, a proposta russa atende a demandas urgentes do Sul Global: ampliar a diversidade da matriz energética, reduzir a dependência de combustíveis fósseis e garantir acesso estável e barato à energia.

"Segurança energética é um conceito bem amplo, que envolve preços acessíveis, suprimento contínuo e parceiros responsáveis que atendam aos interesses nacionais", pontuou.

A especialista reforça que a energia nuclear — por ser uma fonte de baixo carbono, estável e com aplicações que vão além da geração elétrica — oferece vantagens estratégicas a países em desenvolvimento. "Investir na cadeia energética da energia nuclear é também investir em outros conhecimentos que podem ser aplicados na indústria, agricultura, medicina", destacou.
A aposta russa na cooperação tecnológica em energia nuclear, segundo Cazalbón, é parte de uma tentativa mais ampla de mudar o centro de gravidade da geopolítica energética global. Nesse contexto, Moscou tem buscado reposicionar a Rosatom como ponte estratégica com países emergentes.

"Isso vai mudar a geopolítica energética, vai fazer com que esses países tenham um campo de decisão mais amplo, uma margem de decisão mais ampla, mais autonomia nas decisões", avaliou.

A plataforma do BRICS, segundo ela, é uma oportunidade não apenas energética, mas também política e econômica. "São várias janelas de oportunidade que abre a plataforma do BRICS", disse, mencionando também o potencial para redefinir rotas de fornecimento e padrões tecnológicos.
Cazalbón também criticou a forma como a transição energética é discutida no Ocidente, destacando que, na Rússia, o debate incorpora preocupações com pobreza energética e acesso a bens energéticos acessíveis. "Lá a pauta de transição energética é diferente, e a gente devia aprender com eles", disse, lembrando que o setor nuclear continua subvalorizado no Brasil.
A analista de energia e especialista em BRICS Milena Megre destacou à Sputnik Brasil os impactos dessa transição para Moscou e os caminhos que o país passou a trilhar em busca de novos parceiros e espaços de influência.
Segundo Megre, a compreensão do cenário atual exige uma retrospectiva. "Para falar do contexto da geopolítica energética russa atual, dos dias de hoje, é importante entender como ela se comportou nos últimos anos, nas últimas décadas", afirmou.
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Até 2022, a relação energética entre Rússia e Europa era caracterizada por forte interdependência, com o resto do continente importando gás, petróleo e carvão russos a partir de infraestruturas estratégicas.
"Foi uma relação que se deteriorou às custas de ambos. Ambos sofreram perdas muito grandes", destacou a especialista. Em resposta, a União Europeia avançou com suas sanções aos recursos energéticos russos, passando a importar de países como os Estados Unidos a preços mais elevados e com desafios logísticos.
O resultado é uma Rússia que busca, cada vez mais, integrar sua política energética com sua estratégia geopolítica, combinando temas como segurança, soberania e cooperação multilateral.
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