"A Venezuela só pode contar com si mesma, com decisões políticas razoáveis, com consenso com a oposição e, finalmente, com uma política econômica consistente no futuro. Por isso nós, verdadeiramente, fazemos tudo o que podemos, reestruturamos a dívida, acredito que esta questão também foi abordada pelos dois líderes durante as conversações", enfatizou.
O analista propôs manter um prognóstico otimista em relação à possível conciliação dentro do país, mas reconheceu que há certa pressão de fora, inclusive o efeito negativo das sanções estadunidenses.
Outro especialista econômico da empresa de investimentos Alpari, Roman Tkachuk, assinalou que a situação atual na Venezuela faz lembrar a crise financeira na Rússia em 1991, ou seja, os "dias negros" da economia pós-soviética.
Aliás, a recente visita de Maduro faz parte de uma campanha global com o fim de encontrar parceiros na trajetória de saída da crise interna, acredita o interlocutor do serviço russo da Rádio Sputnik. Dado que, nas vésperas do seu encontro com Putin, o líder venezuelano falou sobre uma possível reestruturação da dívida do país em relação a Moscou, o analista observa:
"Acredito que isso vai ser discutido, mas ao mesmo tempo não descarto a hipótese da Venezuela tomar o caminho da Argentina que declarou o default. A Venezuela tem uma dívida grande. Além disso, nos próximos anos não se esperam preços do petróleo altos. […] A meu ver, um default é algo incontornável, e isso sucederá, cedo ou tarde, se não houver ajuda externa."
Quanto à parceria entre os setores privados russo e venezuelano, Tkachuk frisa que a Rússia, através de suas companhias Gazprom e Rosneft, tem interesses na Venezuela e vai continuar cooperando com ela, porém, isto mal aliviará a crise, pois a dívida a Moscou é apenas uma pequena parte da dívida externa.
Outro entrevistado, o especialista do Instituto Russo das Pesquisas Estratégicas Dmitry Burykh, fez enfoque no nível elevado das relações russo-venezuelanas, destacando não só os contatos entre os líderes, mas também os canais interparlamentares e entre várias instituições.
Em relação às recentes medidas restritivas e ameaças de afetar o setor petroleiro expressas por Washington, o analista se mostrou bem cético:
"A meu ver, isso é mais parecido com blefe. Mesmo nos períodos mais duros nas relações entre os dois países, particularmente nos mandatos de George W. Bush e Hugo Chávez, e com troca de declarações muito duras, a cooperação petroleira nunca se sujeitou a quaisquer dúvidas. Acho que se trata de uma espécie de tentativa de assustar e não de sanções reais que se pretenda introduzir. Pois, a maior parte do complexo petroleiro dos EUA se foca na refinação do petróleo venezuelano", explicou.
Contudo, o especialista adiantou que tais crises não são uma novidade para a economia bolivariana, que tem sido muito dependente das suas matérias-primas, com "erupções" inclusive no início da década de 80, por exemplo.
"Hoje em dia, as negociações entre as autoridades venezuelanas e a oposição se travam sob condições novas. Primeiro, Maduro tomou uma postura forte, inclusivamente graças ao presidente estadunidense, Donald Trump. […] O senhor Trump tem muito cuidado nas suas declarações", manifestou o especialista, especificando que, após propor uma variante militar da resolução da crise na Venezuela, o líder americano, de fato, associou a oposição venezuelana com ideias de caráter agressivo e de possível intervenção militar.