Repartição global: por que cria China o exército mais poderoso do mundo?

© AP Photo / Ng Han GuanDesfile militar na China (foto de arquivo)
Desfile militar na China (foto de arquivo) - Sputnik Brasil
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De acordo com o líder chinês, Xi Jinping, no futuro próximo as Forças Armadas do seu país apresentarão uma frota oceânica bem desenvolvida para operações em qualquer ponto do mundo, aviões furtivos, armas hipersônicas e tropas de mísseis estratégicas, que serão capazes de desafiar os líderes reconhecidos do "clube nuclear".

No 19º Congresso Nacional do Partido Comunista da China, ele prometeu reequipar até 2035 o exército chinês com novo material militar, e até 2050 torná-lo na força militar mais poderosa do mundo. Os jornalistas da Sputnik analisaram os caminhos de desenvolvimento do Exército de Libertação Popular, e como isso, por sua vez, afetará o equilíbrio de forças global.

Nova doutrina

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Os ritmos de desenvolvimento militar da China impressionam. De acordo com os dados oficiais, neste ano seu orçamento de defesa aumentou 7% e somou 1,78 trilhões de yuanes (R$ 493 bilhões). Contudo, segundo previsões não oficiais de analistas, que levam em conta rubricas "secretas" do orçamento, o volume total de gastos militares da China já superou os 200 bilhões de dólares (R$ 634 bilhões). Mesmo assim, neste sentido a China ocupa o segundo lugar no mundo depois dos EUA, e o primeiro em termos do número de efetivos. Hoje em dia, no Exército de Libertação Popular prestam serviço mais de dois milhões de pessoas. E a tendência é que a quantidade se esteja transformando rapidamente em qualidade.

No início deste ano, na China foi fundado o Conselho Central para Desenvolvimento Militar e Civil Integrado, cujos objetivos incluem a realização de pesquisas para criação de novas tecnologias de defesa, a elaboração e implementação de concepções estratégicas e táticas, a análise da experiência estrangeira e, possivelmente, até a espionagem industrial. O Conselho é liderado por Xi Jinping.

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O especialista em assuntos da China Vasily Kashin disse à Sputnik que os EUA já estão realizando uma doutrina parecida que se chama Terceira Estratégia de Compensação.

"A essência dela é a concentração dos recursos nas principais direções: nanotecnologias e biotecnologias, inteligência artificial, robótica, armas hipersônicas, cibersegurança e assim por diante. O programa é destinado à criação de um arsenal de armamentos com capacidades revolucionárias, o que constituirá o ‘exército do futuro'."

O especialista frisou que a estratégia norte-americana visa conter o desenvolvimento militar da China, o que fica claro pelas publicações na mídia norte-americana, pelos discursos dos políticos dos EUA, bem como pelos trabalhos científicos sobre a nova estratégia. Por sua vez, Pequim não tem interesse em que no futuro próximo Washington obtenha uma supremacia tão evidente.

Se livrar das 'velharias'

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A chefia militar do país considera que uma das tarefas mais ambiciosas no âmbito da modernização do exército chinês é a renovação do conjunto de equipamentos militares das tropas terrestres. Hoje em dia, a China dispõe de cerca de oito mil tanques de guerra. Cerca de um terço de toda a quantidade são Type-59 que já ficaram velhos e obsoletos, sendo projetados na base dos tanques soviéticos T-55 no fim dos anos 50 do século passado. No quadro da modernização, estes “veteranos” serão substituídos gradualmente pelos Type-96 e Type-99 modernos. Além disso, neste ano se iniciou a produção em série de veículos VT-4, que os especialistas consideram como um equipamento intermédio entre os tanques de terceira e quarta geração.

O mesmo se passa com veículos blindados, artilharia, sistemas de defesa antiaérea e assim por diante. As "cópias" de veículos soviéticos dos anos 60-70 têm sido gradualmente substituídas por veículos modernos. O mesmo acontece no caso da Força Aérea chinesa. Em 2013, a China terminou a fabricação de caças J-7, uma cópia autorizada do MiG-21. Ao mesmo tempo, caças mais modernos J-10 e J-11 continuam completando a Força Aérea da China.

O futuro da aviação chinesa é o caça da quinta geração J-20, que será adotado ao serviço até 2019.

Frota expedicionária

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Os ritmos de modernização da Marinha chinesa também surpreendem. Em 10 anos, as autoridades da China conseguiram incentivar o programa de construção de submarinos e navios de superfície de todas as classes, incluindo cruzadores e porta-aviões. Um grande interesse representa o fortalecimento pela China de seu potencial expedicionário. Uma atenção especial é dedicada à construção de navios para transporte de grandes contingentes militares com equipamento e armamento a distâncias longas.

Em julho deste ano, a nova plataforma de desembarque MLP 868 Donghaidao e o navio de desembarque do projeto 071 Jinggangshan foram enviados até ao litoral de Djibuti para iniciar a construção da primeira base militar chinesa. Um interesse especial representa o Donghaidao. Além da China, hoje em dia apenas os EUA possuem navios da classe MLP (Mobile Landing Platform em inglês, plataforma móvel de desembarque). O Pentágono qualifica os navios da classe MLP como bases expedicionárias móveis, destinadas a operações de desembarque de grande escala a grandes distâncias de infraestruturas litorais de aliados. Assim, o Donghaidao representa uma unidade naval autônoma, que é capaz de criar no litoral inimigo uma testa de ponte para posterior desembarque das forças principais.

Além disso, em 2017 foi lançado à água o segundo porta-aviões chinês Shandong que, tal como o primeiro, Liaoning, é um "parente" do Admiral Kuznetsov russo. A China tem planos para construir mais um navio do projeto semelhante.

O especialista Vasily Kashin aponta que depois do terceiro navio, os chineses iniciarão a elaboração de um navio completamente novo.

"Ainda não se sabe muito sobre ele [o navio], contudo, já é óbvio que este será nuclear e maior que o Liaoning e Shandong. Ele será capaz de transportar mais caças e aviões de apoio, bem como permanecer mais tempo em regime autônomo. Estes navios serão utilizados pelas autoridades da China a fim de projetar sua força em qualquer ponto do Oceano Global."

Espaço e tecnologias de ponta

No que se refere às tecnologias de ponta, a China continua alcançando os EUA. No ano passado, o Pentágono comunicou que a inteligência norte-americana registrou em 2014-2016 sete lançamentos de teste do veículo aéreo hipersônico chinês DF-ZF. Tais sistemas são capazes de atingir a velocidade de mais de 6.000 km/h e podem ser aplicados para transporte de ogivas até ao alvo. Acredita-se que essas munições são impossíveis de serem interceptadas pelos meios de defesa antiaérea e antimíssil.

Além disso, a China está desenvolvendo ativamente veículos aéreos não tripulados da nova geração. Em particular, em fevereiro deste ano, os chineses fabricaram um veículo aéreo não tripulado que funciona com energia solar. Os cientistas afirmam que, graças a esta tecnologia, o veículo poderá ficar no ar mais tempo que os drones tradicionais.

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Nas próximas décadas, a China continuará reforçando seu agrupamento orbital de sondas espaciais. Em termos de quantidade de satélites militares, a China ocupa o segundo lugar depois dos EUA. O Exército de Libertação Popular continua desenvolvendo seu sistema de satélites de posicionamento global Compass, que tem dupla finalidade. No fim de 2015, a China iniciou a formação do escalão espacial do sistema de alerta contra ataques de mísseis. Ela colocou em órbita o primeiro satélite experimental com sensor de infravermelho que permite registrar lançamentos de mísseis balísticos.

Em meio a uma "militarização" tão forte da China, a intensificação de laços militares entre a Rússia e a China provoca preocupações por parte dos EUA. Vale ressaltar que em junho o ministro da Defesa russo, Sergei Shoigu, e seu homologo chinês, Chang Wanquan, assinaram o acordo sobre a intensificação das relações mútuas no campo da defesa para 2017-2020. De fato, uma aliança entre os dois estados mais poderosos em termos militares da Eurásia poderia desafiar até as forças combinadas da OTAN. Mesmo que ainda seja cedo demais para afirmar isso, de acordo com especialistas trata-se de um nível sem precedentes de colaboração entre as forças armadas das duas partes. Rússia e China realizam regularmente manobras conjuntas, jogos militares e troca de experiência. A China não considera a Rússia como um inimigo potencial.

Vasily Kashin ressalta que depois do colapso da União Soviética a China não tem rivais na região, acrescentando que "a China tem relações marcadamente amistosas com a Rússia".

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