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Trump adota discurso mais brando na CNR, mas não deixa de radicalizar, avaliam especialistas

© AP Photo / Nam Y. HuhDonald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca em 2024, durante discurso na Convenção Nacional Republicana (CNR) 2024, em Milwaukee, em 18 de julho
Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca em 2024, durante discurso na Convenção Nacional Republicana (CNR) 2024, em Milwaukee, em 18 de julho - Sputnik Brasil, 1920, 19.07.2024
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Donald Trump discursou na quinta-feira (18) em Milwaukee, pela primeira vez após o atentado do último fim de semana. O republicano falou por pouco mais de 90 minutos no último dia da Convenção Nacional Republicana (CNR) 2024, que selou seu nome como candidato do partido à presidência dos EUA nas eleições deste ano.
Antes de entrar em cena para discursar, foi anunciado por Dana White, principal dirigente do Ultimate Fighting Championship (UFC), a maior organização de artes marciais mistas (MMA, na sigla em inglês) do mundo. White destacou o longo período de amizade com o republicano e destacou o "espírito lutador" do amigo.
Intervenções direcionadas ao atentado não faltaram: camisas com a imagem do ex-presidente com o punho erguido, bottons, bandeiras e até curativos na orelha tal qual Trump tem usado após o ferimento foram vistos.
Toda essa iconografia heroica que contorna o candidato republicano pode representar ganhos políticos, ainda que em um contexto eleitoral bipartidário e polarizado, como no caso dos EUA.

"Pode, sim, ajudá-lo [a iconografia], com alguns independentes, sobretudo os mais jovens. Essa é uma tendência que já estava em curso, sobretudo diante da fraqueza de [Joe] Biden", avalia Pablo Holmes, professor do Instituto de Ciência Política (Ipol), da Universidade de Brasília (UnB).

O evento de encerramento contou também com a participação de figuras como o ex-lutador de luta livre Hulk Hogan, o ex-âncora da Fox News Tucker Carlson e o músico Kid Rock, que fez um show.
Letreiro pomposo e iluminado para receber o ex-presidente em sua entrada, elogios e saudações como "leão americano" e outros simbolismos presentes na CNR 2024 representaram o candidato que passou do show business para a política de massas.
© AP Photo / Carolyn KasterDonald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca em 2024, durante a Convenção Nacional Republicana (CNR) 2024, em Milwaukee, em 18 de julho
Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca em 2024, durante a Convenção Nacional Republicana (CNR) 2024, em Milwaukee, em 18 de julho - Sputnik Brasil, 1920, 19.07.2024
Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano à Casa Branca em 2024, durante a Convenção Nacional Republicana (CNR) 2024, em Milwaukee, em 18 de julho
"Nessa trajetória, o Trump sempre buscou deixar uma ambiguidade entre ser aquele que quer se vender como verdadeiro, que fala a verdade, que é contra o establishment, e, por outro lado, alguém que é muito performático, que parece um personagem, uma caricatura", analisa Jorge Chaloub, professor de ciência política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Discurso de Trump: da união nacional aos ataques contra imigrantes

O ex-presidente e aliados haviam prometido um discurso menos agressivo para o encerramento da CNR. A avaliação era que o momento pedia união nacional nos EUA.
No início do discurso, Trump falou de sua trajetória, recontou passo a passo a experiência de quase morte vivida no último fim de semana e pregou a união no país.
"Estou concorrendo para ser presidente de toda a América, não de metade. Não há vitória em ganhar por metade da América", declarou ele. "A cada cidadão, seja jovem ou velho, homem ou mulher, democrata, republicano ou independente, negro ou branco, asiático ou hispânico, estendo a vocês uma mão de lealdade e amizade."
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A posição, entretanto, não durou muito. O ex-presidente voltou a imputar crimes a imigrantes e voltou a se dizer vítima de uma caça às bruxas por parte dos democratas, atacando inclusive o Judiciário.
Em determinado momento, durante os pouco mais de 90 minutos em que discursou, Trump chegou a dizer que os EUA vivem uma crise de imigração ilegal que espalhou "miséria, crime, pobreza, doença e destruição em comunidades em todo o nosso território".
Apesar da conciliação pretendida, o estilo convicto desse tipo de discurso "é parte de uma estratégia voltada ao eleitorado de base do Trump, que se vê contemplado por essa postura", afirma Matheus Pereira, pesquisador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Estudos sobre os Estados Unidos (INCT-INEU) e professor de relações internacionais do Centro Universitário Belas Artes.
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Para Holmes, o ex-presidente até tentou pregar a união, mas quando precisou improvisar, seu traquejo foi fiel ao estilo dele: "Radicalizou", pontuou.
Em toada semelhante, Chaloub avalia que o ex-presidente até adotou um tom mais brando, abrindo mão dos gritos, "mas a radicalidade do discurso continua lá".
A construção do imigrante como inimigo, o militarismo vinculado à defesa nacional e até a criminalização dos adversários políticos são retóricas "apreciadas por parte de seus apoiadores mais radicais", diz o professor da UFRJ.

"Essa ampla gama que apoia o Trump, que é diversa, heterogênea entre ela, vê no Trump uma capacidade de liderar essa coalizão, em parte pela sua capacidade de fazer performances públicas e de representar um símbolo de uma certa América, como eles diriam."

Candidatura efetivada: qual cenário político espera Trump?

A princípio, Joe Biden é o candidato democrata e principal adversário de Trump na corrida eleitoral. Apesar da forte pressão sofrida pelo atual presidente para que abandone a campanha, sobretudo pelo fraco desempenho no primeiro debate entre os dois, Biden se mantém na disputa.
Oficialmente candidato republicano à presidência dos EUA, Trump chega, neste momento, como favorito, na avaliação de Holmes.

"Os eleitores democratas estão desmobilizados, Biden não empolga, os eleitores o estão rejeitando fortemente e há também o problema da guerra, que, em alguns estados-chave, como a Geórgia e o Michigan, onde há um eleitorado substancial, aparentemente os eleitores não estão desejosos de votar."

Por outro lado, segundo Holmes, Trump, com a ajuda do voto latino masculino, "parece ter virado em Nevada", aponta, citando fatores que sustentam o favoritismo do republicano.
O debate de junho e o atentado da semana passada são elementos considerados cruciais pelos analistas. Para Pereira, por exemplo, o Trump que chegou na CNR 2024 é mais confiante.
"A escolha do vice, a postura dele, dos delegados, dos membros do partido, existe um otimismo indisfarçável na campanha republicana", comenta.
O atentado sofrido pelo ex-presidente o concede, conforme analisa Chaloub, a oportunidade de se descolar do discurso de que ele estimula a violência: "Eu quase fui morto. Quem quase foi morto fui eu, não foi o Biden". Além da possibilidade de se sobressair contra o adversário expondo sua ineficiência.

"Isso mostra assim: 'Biden não é capaz nem de me proteger'. Então essa ideia do Estado, da ineficiência e da fraqueza, um discurso que é meio ambíguo e que acaba se misturando com a fraqueza física do Biden, com a dificuldade do Biden de responder rapidamente, com todas as questões em torno da idade do Biden, eu acho que é mais uma oportunidade que isso [o atentado] permite."

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O que projetar para um eventual novo governo Trump?

À Sputnik Brasil, os especialistas pontuaram que previsões são sempre difíceis de fazer, mas, a partir dos discursos, das articulações feitas pelo candidato e também com gancho em seu último mandato, é possível pressupor alguns movimentos.
Nesse sentido, Holmes destaca algumas posições do republicano, como o isolacionismo global e o posicionamento anti-China.

"O foco da política de Trump é muito mais interno, e do ponto de vista externo, [o foco é] uma confrontação mais clara com a China e uma posição de menos presença dos Estados Unidos nas políticas regionais, tanto na Europa, nos conflitos europeus, como na América Latina, no Brasil", aponta.

Chaloub também analisa um governo Trump crítico ao intervencionismo global norte-americano e preocupado com um país militarizado, mas com suas forças "voltadas para dentro".

"Parece muito provável que o Trump vai reduzir algumas frentes de conflito. Por exemplo, ele se vincula a uma certa tradição da direita norte-americana, que não é uma tradição que surgiu agora, mas é uma tradição que mobiliza os paleoconservadores, que mobiliza as figuras que estavam organizadas em torno da candidatura do Patrick Buchanan [pré-candidato republicano derrotado nas primárias por George H. W. Bush] lá em 1992, que são figuras mais críticas desse intervencionismo global norte-americano."

O olhar militar "para dentro" pode ser descrito, segundo o professor da UFRJ, por medidas que o próprio Trump vêm defendendo em seus comícios, como a criação de um domo de ferro, inspirado em Israel, o endurecimento em relação à imigração e a continuidade na construção do muro na fronteira com o México, iniciada em seu mandato.
"Também é provável que ele aumente algo que está naquele mencionado plano 2025, mas que ele já começou mobilizando antes, que é uma certa ocupação do Estado", afirma.
A medida citada consiste, segundo Chaloub, em "nomear pessoas vinculadas, pessoas fiéis, avançar bastante sobre o Judiciário". Há ainda "chance de ele [Trump] nomear novos ministros. Então teríamos uma Suprema Corte ainda mais à direita do que a que ele já ajudou a construir", finaliza, descrevendo cenários possíveis.
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