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Por que a invasão à região russa de Kursk foi um tiro no pé das Forças Armadas ucranianas?

© Sputnik / Ministério da Defesa da RússiaMilitar russo demonstra equipamento militar destruído de um comboio das Forças Armadas da Ucrânia parado na região de Kursk por fuzileiros navais da Frota do Mar Negro da Marinha da Rússia, em 20 de agosto de 2024
Militar russo demonstra equipamento militar destruído de um comboio das Forças Armadas da Ucrânia parado na região de Kursk por fuzileiros navais da Frota do Mar Negro da Marinha da Rússia, em 20 de agosto de 2024 - Sputnik Brasil, 1920, 28.08.2024
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No começo de agosto, as Forças Armadas ucranianas invadiram a região russa de Kursk. A ofensiva, segundo especialistas, além de não trazer resultados esperados, prejudicou os diálogos pela paz.
No dia 6 de agosto, as tropas ucranianas lançaram um ataque à região de Kursk, na Rússia. A ação marcou a agressão mais significativa da Ucrânia contra a Rússia desde fevereiro de 2022. Após a ofensiva, o presidente russo, Vladimir Putin, afirmou que a ação evidenciava o motivo de Kiev recusar as propostas de paz de Moscou.
"Aparentemente, o inimigo, com a ajuda de seus patrões ocidentais, está fazendo a vontade deles", disse Putin naquela oportunidade.
Em entrevista ao podcast Mundioka, da Sputnik Brasil, analistas explicam por que a ação trouxe prejuízos aos ucranianos, dificultando acordos de paz, tornando-se um verdadeiro tiro no pé para o governo da Ucrânia.

Ucranianos agiram sozinhos na ofensiva?

Para os analistas ouvidos pelo podcast, diante das circunstâncias, o Exército ucraniano não agiu sozinho quando rompeu as fronteiras e atacou a região de Kursk.
"Era impossível a Ucrânia sozinha realizar esse ataque a Kursk, porque precisou de uma análise de satélite muito apurada, que permitiu a penetração naquela região. Não é uma análise que pode ser feita do dia para a noite", explica João Cláudio Pitillo, professor de história e pesquisador do Núcleo de Estudos das Américas (Nucleas) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ).
Ainda conforme o analista, "as informações que confirmaram a possibilidade de penetração ali foram dadas pela OTAN".
Além disso, a Sputnik revelou que Kiev usou veículos blindados Roshel Senator (modelo Ford F-559 Senator APC) fornecidos por países da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) pouco antes da invasão no ataque terrorista à região de Kursk, baseados em documentos das Forças Armadas ucranianas encontrados por fuzileiros navais russos da 810ª brigada.

Ofensiva foi um tiro no pé?

De acordo com Ricardo Quiroga Vinhas, tradutor de russo, pesquisador do Grupo de Estudos 9 de Maio e um dos autores do livro "A grande guerra patriótica dos soviéticos", segundo a análise de militares ocidentais — aposentados ou não e que compuseram os quadros da OTAN —, o ataque à região de Kursk tem uma representação simbólica, com o intuito de "tentar continuar atraindo recursos da OTAN".
Ou seja, para continuar a atrair esses financiamentos, os ucranianos precisam "mostrar serviço", diz o analista.
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Pitillo, por sua vez, chama a operação em Kursk de "operação midiática". "Poucos canais mostram que a operação em Kursk não tinha uma tática definida e, na ausência de um objetivo, sua estratégia acabou sendo um fim em si mesma. Porque as forças que penetraram em Kursk não conseguiram nenhum grande objetivo."
Ao contrário disso, conforme o professor de história, a ofensiva causou retrocesso para as forças ucranianas, que sofrem com a perda de material e de homens.

"Hoje, nenhum desses jornais que propagandearam o ataque a Kursk têm coragem de revelar que esse ataque, além de ter falhado, custou tropas e equipamentos valiosíssimos para a Ucrânia e para a OTAN", afirma.

Quiroga acrescenta também que, ao passo que a mídia ocidental hegemônica dá a impressão de que os ucranianos estão chegando "às portas de Moscou", você vê, por outro lado, em outros canais, realidades bem diferentes, como "ucranianos que resistem a serem recrutados".
"Você já tem defesas bastante enfraquecidas, e aí você enfraquece ainda mais enviando tropas para Kursk, invadindo o território russo, enquanto os russos continuam avançando no que eles pretendem", analisa sobre a postura ucraniana.
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Soma-se ainda aos prejuízos do ataque a dificuldade de avançar neste momento por um acordo de paz, adiantam os analistas.

"O governo russo já deixou bem claro que, diante do acontecido, não haverá negociação", recorda Quiroga.

"Se levar ao pé da letra o que disse o [vice-presidente do Conselho de Segurança russo] Dmitry Medvedev, por exemplo, eu acho que talvez não pare somente na libertação das repúblicas populares de Lugansk e Donetsk [RPD e RPL, respectivamente] e na região de Zaporozhie. Pode ser que avance um pouco mais, até porque existem regiões ali que estão também com uma forte presença da etnia russa e que sofreram muito na repressão pós-golpe de 2014 — por exemplo, cito Odessa", acrescentou o especialista.

Zelensky: agente contra a paz

"Se existem setores na Ucrânia hoje que desejam paz, não são os setores ligados ao Zelensky", afirma Pitillo, dizendo que o ex-presidente ucraniano é parte do problema, não da solução.
Como uma figura pró-Ocidente, o especialista afirma que Vladimir Zelensky é, a todo momento, chamado para intensificar as ações no campo de batalha, para que os países que investem no conflito possam justificar os aportes feitos.

"A transferência de dinheiro, material, treinamento para a Ucrânia, a partir das forças aliadas, também fomenta a economia desses países aliados. Essa 'ajuda' não é uma ajuda gratuita não. O Estado ucraniano está se endividando cada vez mais, e uma hora ele vai ter que começar a pagar essa dívida com a OTAN", explica o especialista.

Nesse âmbito, segundo o analista, Zelensky serve à elite ucraniana e ao Ocidente, e a ofensiva em Kursk pode ser vista como uma justificativa "para esses investidores da OTAN, para esses líderes dos países que compõem a OTAN terem o que negociar a nível doméstico, terem a satisfação para o seu público eleitor", acrescenta.
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Além disso, o ataque de Kursk mostra uma traição à própria fala de Zelensky, que apontava disposição em negociar. E essa não foi a primeira vez.

"Quando as forças russas chegaram em Kiev, eles afirmaram que estavam dispostos a negociar e pediram um sinal de boa vontade. A Turquia e a França pediram por parte do governo russo um sinal de boa vontade. O presidente russo, Vladimir Putin, evacuou o aeroporto tomado em Kiev, mostrando sinais de que queria negociar. A partir dali, os ucranianos se arvoraram em aumentar a sua presença no campo de batalha e partir para uma ofensiva", recorda Pitillo.

Dessa vez, pouco antes de atacar a região de Kursk, os ucranianos demonstraram o desejo de dialogar. Pouco depois, partiram para uma "penetração sorrateira".
"Isso tem sido um padrão da Ucrânia", salienta o professor de história.

Kursk, uma região histórica

A região de Kursk tem como capital e principal cidade o município que carrega o mesmo nome da região. Localizada no sudoeste da Rússia, além de ser um centro industrial, é um entroncamento também do ponto de vista ferroviário e rodoviário, e é uma fronteira importante com a própria Ucrânia.
O principal produto de Kursk é o minério de ferro, mas a região também possui um importante setor químico, além de indústria de processamento de alimentos e universidades.
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O conflito que emana na região atualmente pode ter sido motivado, inclusive, por um caráter simbólico e histórico: "Atacar Kursk, [local] por onde os soviéticos tinham sido atacados pelos alemães", resume Quiroga.
Em 1943 ocorreu a Batalha de Kursk, que era, segundo Pitillo, "o meio do caminho" entre as linhas de frente do Eixo e da União Soviética, que se estendeu após a Batalha de Stalingrado.

"Naquele momento, a região de Kursk passou a ser estratégica pela convergência de tropas soviéticas nesse saliente, que é chamado saliente de Kursk, que era uma bolsa, e que formou um tipo de bolsão de penetração, uma calosidade na linha alemã", acrescenta.

Conforme Quiroga, a batalha na região durante a Segunda Guerra Mundial foi a maior batalha de tanques da história do mundo. "Em torno de 6 mil veículos participaram desse combate", conta.
Os soviéticos levaram a melhor e, ao final, não só expulsaram os alemães da região que eles tentavam ocupar, como libertaram várias cidades no entorno.

"Depois disso, os alemães já foram diretamente para a defensiva, ou seja, dali foram rumo a Berlim. […] Foi uma derrota fragorosa dos alemães", sintetiza.

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