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Sombra alçada pela Rússia motiva discussão da 'agenda zero' pelos EUA na Venezuela, dizem analistas

© Sputnik / Aleksei Nikolsky / Acessar o banco de imagensPresidente russo, Vladimir Putin, com seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro
Presidente russo, Vladimir Putin, com seu homólogo venezuelano, Nicolás Maduro - Sputnik Brasil, 1920, 11.02.2025
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Em uma reviravolta geopolítica, Venezuela e Estados Unidos estão discutindo um novo início para as relações diplomáticas. Chamado de "agenda zero", esse recomeço pode significar não só um novo horizonte para Caracas, mas para a América Latina inteira, apontam especialistas.
A "agenda zero", discutida pelo presidente venezuelano, Nicolás Maduro, e pelo enviado especial da Casa Branca Richard Grenell, foi o tema do episódio desta terça-feira (11) do Mundioka, podcast da Sputnik Brasil apresentado pelos jornalistas Melina Saad e Marcelo Castilho.
#551 Mundioka - Sputnik Brasil, 1920, 11.02.2025
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O que é a 'agenda zero'?

No final de janeiro, Richard Grenell visitou Caracas para se encontrar com o presidente Nicolás Maduro e o líder da Assembleia Nacional, Jorge Rodríguez, no Palácio de Miraflores. Na reunião foi proposto um recomeço para as relações diplomáticas entre os países.
A notícia foi bem recebida por Maduro, que abraçou a oportunidade para virar a página e esquecer o passado de sanções aplicadas ao país.
"E qual é a política que eu pratiquei com os Estados Unidos? Eu diria diálogo, respeito e entendimento […], sempre pronto para virar a página e estabelecer relações de respeito […]. Então espero que esse seja o rumo, o destino das nossas relações", disse durante entrevista ao jornalista espanhol Ignacio Ramonet.
O rei saudita, Salman bin Abdulaziz Al Saud, presenteia o presidente dos EUA, Donald Trump, com a mais alta honraria civil, o colar de Abdulaziz Al Saud, no Palácio da Corte Real, em Riad, Arábia Saudita, em 20 de maio de 2017 - Sputnik Brasil, 1920, 10.02.2025
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Ao programa, a professora de relações internacionais da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Carolina Pedroso destacou que, se o diálogo for bem-sucedido, a Venezuela pode ver o retorno de "alguns recursos vitais que foram tomados ao longo desses últimos anos".
É o caso do controle da Citgo, refinaria e distribuidora subsidiária da estatal Petróleos de Venezuela S.A. (PDVSA) localizada nos Estados Unidos. Em 2019, o governo norte-americano congelou os bens da empresa e impediu que o lucro fosse enviado a Caracas, retendo um total de US$ 10 bilhões até o ano passado.
O caso da empresa é ainda mais emblemático pois serve de exemplo para o maior rol de sanções aplicadas contra a economia do país sul-americano, que foram recrudescidas justamente sob o primeiro governo Trump.

"Então, se eventualmente essa agenda zero for bem-sucedida em pelo menos destravar o setor petroleiro, retirar o setor petroleiro desse cerco econômico, a expectativa da Venezuela é que haja um impulso importante para a recuperação econômica que o país tem visto."

Em que a 'agenda zero' interessa aos EUA?

Se por um lado as vantagens para a Venezuela são evidentes, as para os Estados Unidos são menos claras. Ao Mundioka, o professor de relações internacionais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) Williams Gonçalves elucidou essa questão.
O especialista sublinhou que logo antes da visita de Grenell ao Palácio de Miraflores, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, havia revogado a extensão do Estatuto de Proteção Temporária (TPS, na sigla em inglês), oferecido aos migrantes venezuelanos no país.
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A medida permitia que venezuelanos residissem e trabalhassem no país por mais 18 meses sem medo de serem deportados. Em resposta, a Venezuela concordou em receber voos de deportados, facilitando as políticas anti-imigração de Trump.
Mas esse avanço não é o único benefício que os Estados Unidos tiram da agenda zero. "São duas questões-chave: petróleo e imigração", diz Gonçalves.
A política estadunidense para a Venezuela está dividida em dois campos, dizem os analistas. O primeiro é o liderado por Marco Rubio, atual secretário de Estado e ex-senador do Partido Republicano pelo estado da Florida.
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O político, de origem cubana, representa os interesses latino-americanos contrários aos dos governos de esquerda no continente. No entanto, disse o professor, se por um lado costumam apoiar opositores — como foi o caso de Juan Guaidó e Edmundo González —, por outro também são ferrenhamente contra a imigração.
O segundo é liderado pelas petroleiras como a Chevron, que atuam na Venezuela através de joint ventures com a PDVSA. O país possui as maiores reservas comprovadas de petróleo, fazendo dele um ponto focal necessário nas conversas de segurança energética para todos os atores globais.

"Esse pessoal [empresariado norte-americano] diz: 'Olha, não podemos ficar privados do óleo da Venezuela, porque os chineses, os russos e os iranianos já negociam com eles'."

Um reposicionamento global dos EUA

Em seu segundo e último mandato, Trump retorna à Casa Branca com "ideias novas" e "mais atento às mudanças pelas quais passa o sistema internacional", aponta Gonçalves. Entre elas está o compromisso de Trump com reposicionar os EUA no tabuleiro geopolítico.
"Me parece que o Trump considera que não há como os Estados Unidos lutarem para se manter em posição hegemônica", diz o especialista ao programa, ressaltando que as manifestações do presidente norte-americano, até mesmo as mais "estapafúrdias", apontam para esse sentido.

"Dão a entender que ele considera que a multipolarização do sistema internacional de poder é irreversível."

Um soldado do Exército dos EUA caminha em um armazém onde suprimentos da USAID estão sendo armazenados na base aérea de Palmerola, a 140 km ao norte de Tegucigalpa. Honduras, 11 de fevereiro de 2002 - Sputnik Brasil, 1920, 04.02.2025
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Dentro desse novo contexto global de multipolaridade, Trump prepara os Estados Unidos para assumirem um novo papel dentro da sua área de influência: as Américas. "E isso ele deixou claro, do norte do Canadá e da Groenlândia até o Polo Sul."
Nesse sentido, o fechamento das portas para a Venezuela prejudicou justamente a posição dos norte-americanos no continente. E, em seu lugar, a Venezuela pôde construir relações com outros países, como Rússia, China, Irã e Turquia, em certo grau, conseguindo se manter autônoma em relação a Washington.
Hoje, diz Gonçalves, Maduro tem poder de barganha graças à sombra projetada pela Rússia e pela China. "Principalmente da Rússia."
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