A participação do primeiro-ministro indiano Narendra Modi na cúpula para paz na Ucrânia – apoiada pelo Ocidente e que acontecerá na Suíça nos dias 15 e 16 de junho – fica cada vez mais difícil devido à dinâmica pós-eleitoral indiana, de acordo com ex-diplomatas e acadêmicos.
Os resultados das eleições em curso de Lok Sabha, a câmara baixa do Parlamento indiano, estão programados para serem anunciados em 4 de junho.
O professor Swaran Singh, presidente do Centro de Política, Organização e Desarmamento Internacional (CIPOD, na sigla em inglês) disse que Modi se manteria ocupado com os eventos pós-eleitorais.
"A Índia definitivamente observaria como outras grandes potências estão respondendo à cúpula da paz na Suíça. Não estou muito esperançoso de que o primeiro-ministro se junte à conferência devido a considerações pós-eleitorais", disse Singh à Sputnik.
Opiniões semelhantes foram repetidas por diplomatas veteranos indianos em um evento na Universidade Jawaharlal Nehru (JNU) na semana passada, enfatizando que a presença de Modi na Índia após a eleição de Lok Sabha será mais importante do que a sua presença na Suíça.
O ex-secretário de Relações Exteriores, Kanwal Sibal, descreveu o plano de paz de Vladimir Zelensky no evento como "falho", uma vez que não envolvia a Rússia.
O ex-embaixador Bhaswati Mukherjee, antigo enviado indiano aos Países Baixos, advertiu que Nova Deli não deveria desperdiçar o seu acordo político sobre o plano de paz de Kiev até que a Rússia e a Ucrânia estivessem presentes na mesa de negociações.
A Índia tem afirmado consistentemente que é a favor de diálogos diretos entre a Rússia e a Ucrânia para resolver o conflito. O Ministério das Relações Exteriores disse que ainda não atendeu ao convite ucraniano para participar da cúpula.
Ao mesmo tempo, há um sentimento esmagador na comunidade estratégica da Índia de que qualquer acordo de paz na sem a participação da Rússia será necessariamente "inútil".
"Penso que qualquer tentativa de qualquer fórmula de paz será inútil sem a participação de todas as partes. Se a Rússia não for convidada, será uma perda de tempo. A Índia também afirmou que a participação da Rússia e da Ucrânia faz sentido", afirmou o ex-embaixador indiano, Anil Trigunayat, à Sputnik.
Os comentários surgem no contexto das tentativas ucranianas e ocidentais de fazer lobby junto aos países do Sul Global, incluindo os Estados do BRICS, para participarem na cúpula na Suíça.
Trigunayat afirmou que a presença de Moscou e Kiev é a chave para resolver o conflito na Ucrânia.
O ex-embaixador também observou a estreita coordenação das posições de Rússia e China sobre o caminho a seguir no conflito durante o encontro do presidente Vladimir Putin com seu homólogo chinês Xi Jinping em Pequim na quinta-feira (16).
"O presidente Putin estava na China e teria percebido a posição chinesa, uma vez que supostamente faziam parte de alguns preparativos. A Rússia achou o plano de paz chinês de 12 pontos mais palatável. Portanto, independentemente de quem participa ou não do encontro suíço, a chave é a participação de duas partes em conflito", sublinhou Trigunayat.
Uma declaração conjunta após as reuniões entre Xi e Putin afirmou que, para alcançar "uma solução sustentável para a crise ucraniana, é necessário eliminar as suas causas profundas", aparentemente uma referência à expansão da OTAN perto das fronteiras orientais russas.
Moscou disse que não é contra as negociações pela paz, mas mesmo que fosse convidada não participaria porque não considera Berna um ator neutro, uma vez que o país se uniu ao esforço unilateral ocidental nas sanções contra Moscou, descredibilizando seu papel como mediador em relação ao conflito.