Panorama internacional

'Declínio evidenciado na cúpula do G7' amplia caminho ao 'G2 de Rússia e China', diz especialista

O G7 realizou a sua cúpula na Itália não só com uma liderança enfraquecida, mas "obsoleta e em declínio", sem qualquer autoridade moral, pelas suas ações em relação à guerra na Faixa de Gaza, disseram analistas consultados pela Sputnik.
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Para o doutor colombiano em Ciência Política, formado pela Universidade de Toulouse, Jaramillo Jassir, os membros do grupo de países mais industrializados do mundo, especialmente os Estados Unidos, chegaram à cúpula em um "mau momento", uma vez que Washington "tem sido demasiado tolerante com as violações sistemáticas de Israel" em relação às decisões do Conselho de Segurança da ONU, do Corte Internacional de Justiça (CIJ) e até muito crítico do Tribunal Penal Internacional (TPI).

"Com o duplo padrão em relação à questão de Gaza e outros casos de violações dos direitos humanos, como a Líbia, o Iraque ou o Afeganistão [...] vejo como muito complexo que surja algo do G7 que possa ter impacto", analisou Jassir em entrevista à Sputnik.

Na sua resolução, os membros do G7 apoiaram um cessar-fogo imediato no enclave palestino, a libertação de todos os reféns e um "caminho credível" para a paz que conduza a uma solução de dois Estados.
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No entanto, para Jassir, é difícil que o grupo recupere a sua legitimidade após a sua posição sobre a ofensiva militar de Israel, que já custou a vida a mais de 38 mil pessoas, muitas delas mulheres e crianças.

"Estamos sem dúvida caminhando para uma multipolaridade do G7; é, se quiserem, a melhor forma para os países mais poderosos, as maiores economias, se agarrarem ao poder e à hegemonia que têm exercido ininterruptamente desde o pós-guerra, mas a minha impressão é que está muito enfraquecido, insisto, com a guerra em Gaza, com a ofensiva israelense, não acredito que a legitimidade do G7 possa ser restaurada", disse o professor colombiano.

Na visão de Eduardo Rosales Herrera, internacionalista e acadêmico de Relações Internacionais da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM), o "G7 está em claro declínio".

"A influência e o poder do G7 diminuíram bastante, entre outras coisas, devido à ascensão de outros polos de poder, como é evidentemente o caso da China", disse o especialista em entrevista à Sputnik.

Segundo o acadêmico, desde a crise econômica de 2008 o Ocidente "já não é o mesmo" e a partir desse momento inicia-se "uma fase de enfraquecimento muito pronunciada".
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"Devemos ter em conta que o G7 foi fundado há mais de 50 anos e, francamente, já parece obsoleto, ultrapassado e já se vê em declínio", analisou.
Para ilustrar o que Rosales destaca, no passado, o G7 representava perto de 70% do PIB mundial, hoje, apenas um pouco mais de 40%, o que, de fato, fala de um declínio na sua importância econômica global.
Além disso, o especialista ressalta que outro assunto no qual o grupo chega a muitos acordos, mas dificilmente os cumpre, é em relação à promoção de energia verde ou a sua intenção de expandi-la, algo que praticamente não sai do papel.
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Uma das resoluções aprovadas na cúpula desta semana foi disponibilizar ao governo ucraniano US$ 50 bilhões (R$ 268 bilhões) provenientes de ativos russos congelados em países europeus para enviar uma mensagem inequívoca ao presidente russo, Vladimir Putin.
Roi López Rivas, analista político, comentarista e ativista venezuelano, garante que o G7 está "cumprindo a agenda dos Estados Unidos no que diz respeito à sua política internacional e especialmente no que tem a ver com o conflito Rússia-Ucrânia".
"Eles são os principais países aliados dos Estados Unidos no mundo, e obviamente cumprem os seus pedidos, solicitações ou talvez mandato porque no final se pensava que talvez os países que são países fortes como estes fossem mais soberanos, mas realmente o que o que fazem é cumprir uma agenda pró-americana, e tudo o que ordenarem, sempre cumprirão", afirmou Rivas.
Para Rosales da UNAM, a questão da Ucrânia foi praticamente a única sobre a qual os líderes do G7 concordaram, mas para continuar alimentando o conflito militar.
"Isso continua na lógica da Guerra Fria e longe de tentar buscar o diálogo, o acordo, a negociação, nada mais é colocar lenha na fogueira. O que teriam que fazer é tentar encontrar uma solução negociada, o que não é nada difícil, mas recusam-se a reconhecê-la", afirmou Rosales.
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Crises internas

Os analistas consultados concordam que praticamente todos os líderes dos países do G7 enfrentam graves crises internas nos seus próprios países, com índices de popularidade que atingem mínimos históricos e com eleições no horizonte em que os seus partidos políticos não têm a maioria das preferências eleitorais.
Rosales Herrera sublinha o caso do chanceler Olaf Scholz, da Alemanha, que vive não só o avanço dos grupos de direita nas eleições para o Parlamento Europeu, mas um crescimento econômico baixo.
Também é o caso do primeiro-ministro britânico Rishi Sunak, o qual, tudo indica que perderá as eleições de 4 de julho, assim como o caso do presidente francês Emmanuel Macron, que sofreu um revés com o avanço de direita no Parlamento Europeu e convocou eleições.
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Enquanto o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, e os primeiros-ministros do Japão e do Canadá, Fumio Kishida e Justin Trudeau, respectivamente, apresentam níveis de desaprovação que não eram vistos desde o início das respectivas administrações.
"Estamos vendo com esses países, que eram os líderes, o avanço substancial da extrema direita; a situação está se tornando muito, muito complicada […] e é uma deterioração muito perceptível do G7", Herrera.
Segundo o analista, as sanções impostas à Rússia, bem como as dirigidas aos produtos chineses, apenas provocam o fortalecimento e a aproximação entre Moscou e Pequim, algo que continuará a crescer.
"A China continua a fortalecer-se com essa aliança com a Rússia e a Rússia também se fortalece com a sua proximidade com a China; então tudo o que fazem é consolidar outro G2 à frente do G7. Um G2 que evidentemente, se torna cada vez mais relevante, [com] mais presença, mais poder. Do lado da China temos um membro economicamente poderoso e do lado da Rússia temos um membro militarmente poderoso – não devemos esquecer que é a principal potência mundial em termos de arsenal nuclear", concluiu o analista.
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