"Eu não esperaria nenhuma mudança hoje. Eu acho que hoje a grande probabilidade — o mercado pensa assim — é de a gente confirmar o que foi prometido na última reunião", afirma Pedro Faria, economista e doutor em história pela Universidade de Cambridge.
"Não vejo que vai haver essa questão de turbulência entre os dois presidentes, fundamentalmente porque o Gabriel Galípolo foi escolhido para essa função pelo atual presidente", diz Silva.
Atual patamar da Selic e impacto na economia brasileira
"Isso dá quase 1% de aumento de dívida do PIB [produto interno bruto] por ano", atenta.
Quais outras medidas podem ser tomadas para controlar a inflação?
"Eu tenho advogado em várias colunas na política de fundos estabilizadores. Você tributa o exportador que está ganhando um lucro excepcional, por conta dos preços altos internacionais, e usa a tributação sobre esse lucro excepcional do exportador para dar algum tipo de subsídio para a cadeia local", explica.
"Mas não temos isso. Sem isso fica difícil. Vai ser nos juros, que é o remédio amargo que corre o risco de matar o paciente se ele for em dose muito alta. Seria melhor que o paciente tomasse um coquetel de remédio, não um remédio só", destaca.
"Já estamos no momento em que as taxas de juros já são bastante restritivas. Então o que eu quero mencionar é que, muito embora eu acredite que vamos ter aumento de taxas de juros nas próximas reuniões, conforme sinalizado, pode haver aumento na taxa de juros numa intensidade um pouco menor, especialmente se o câmbio ajudar, já que, creio que, do ponto de vista da política fiscal, não [teremos] grandes novidades nesse curto período de tempo", acrescenta.
Como o efeito Trump mexe com a situação fiscal brasileira?
"O acentuado protecionismo prometido pode fazer com que haja restrições à oferta de produtos dentro do território americano e, claro, se você reduz a oferta e a demanda permanece a mesma, provavelmente os preços tendem a aumentar lá, o que vai exigir do Federal Reserve — o FED, o Banco Central americano — maiores taxas de juros para manter a inflação comportada e dentro das metas estabelecidas", comenta.
"Quando o governo americano aumenta juros, há uma demanda maior e pressionada por títulos do governo americano, considerados os mais seguros do mundo. O dinheiro mundial vai para aquela região, falta em outros lugares, e isso exige claramente que os demais bancos centrais do mundo, para se proteger, para não ter uma fuga de dólares, acabem aumentando suas taxas de juros", explica.