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Qual será a estratégia de Gabriel Galípolo à frente da presidência do Banco Central brasileiro?

O Comitê de Política Monetária (Copom) iniciou nesta terça-feira (28) a primeira reunião em 2025, chefiada pelo novo presidente do Banco do Central, Gabriel Galípolo. À Sputnik Brasil, especialistas falaram sobre as expectativas do encontro.
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Uma das projeções já esperadas, fundamentadas a partir da reunião do Copom no ano passado, é a elevação de 1 ponto percentual na taxa Selic nesse primeiro encontro, passando de 12,25% ao ano para 13,25% ao ano.
Segundo os economistas ouvidos pela Sputnik Brasil, a expectativa é de que a alta seja confirmada.
Embora Galípolo seja considerado um economista heterodoxo, nenhuma medida "fora do script" previsto deve ser tomada neste primeiro momento, uma vez que não trazer uma turbulência adicional para o mercado já pode ser considerada uma estratégia bastante apropriada.

"Eu não esperaria nenhuma mudança hoje. Eu acho que hoje a grande probabilidade — o mercado pensa assim — é de a gente confirmar o que foi prometido na última reunião", afirma Pedro Faria, economista e doutor em história pela Universidade de Cambridge.

"Imagino que o Galípolo não vai cometer nenhum tipo de excentricidade na condução da política monetária. Ele é extremamente preparado, mas creio que o aumento da taxa de juros que está previsto, pelo menos dois aumentos que estão previstos, devem ocorrer", explica Haroldo da Silva, economista e vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Estado de São Paulo (Corecon-SP).
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Apesar de a medida de aumentar a taxa de juros ter causado tensão entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente do Banco Central Roberto Campos Neto, a tendência é de que a relação com Galípolo não estremeça, sobretudo porque tal iniciativa já era prevista.

"Não vejo que vai haver essa questão de turbulência entre os dois presidentes, fundamentalmente porque o Gabriel Galípolo foi escolhido para essa função pelo atual presidente", diz Silva.

Atual patamar da Selic e impacto na economia brasileira

A projeção do mercado prevê a taxa básica de juros indo para o seu quinto aumento seguido —um patamar "absurdo", destaca Faria. Isso se deve, de acordo com o economista, ao tamanho desproporcional que o mercado de câmbio tem, "principalmente o seu lado especulativo no mercado de derivativos cambiais. Isso afeta a economia real, e as convenções deles são de que a gente tem que ter juros altíssimos".
Ou seja, temos juros altos "para agradar" o mercado financeiro, que é extremamente volátil, uma vez que "se você não coloca esses juros altíssimos, eles fazem movimentos especulativos", completa Faria, ressaltando a necessidade de uma medida para limitar esse poder.
O aumento da taxa de juros também pode impactar diversos setores na economia, salienta Silva:
Do ponto de vista da indústria, o aumento da taxa de juros significa aumento de custos e, consequentemente, redução dos resultados da indústria;
Nos segmentos de serviços, sobretudo nos serviços financeiros, os custos do crédito vão aumentar. Certamente vai sobrar menos recursos para a população investir em serviços e produtos também, o que reduz a atividade econômica desse segmento;
O próprio setor de agricultura pode ser afetado, embora tenha taxas de juros melhores do que de outros setores — com crédito, inclusive, subsidiado. Ainda assim, há incremento nos custos desse tipo de atividade e isso certamente vai impactar negativamente.
No segmento habitacional, o aumento da taxa de juros impacta, reduz a oferta e todos os outros itens relacionados à construção de casas, por exemplo, também são impactados.
Segundo Faria, cada ponto percentual a mais de Selic tem um efeito de, aproximadamente, R$ 40 bilhões ao ano no déficit nominal.

"Isso dá quase 1% de aumento de dívida do PIB [produto interno bruto] por ano", atenta.

Quais outras medidas podem ser tomadas para controlar a inflação?

O cenário de aperto monetário tem como justificativa controlar a inflação. Entretanto, os economistas salvaguardam que há outros caminhos para conter o câmbio, outras medidas que ajudam a conter o preço de alimentos.
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Faria sugere, por exemplo, medidas que limitem "a volatilidade do mercado derivativo de câmbio" e políticas que favoreçam a produção, sobretudo dos alimentos que sofreram aumento significativo nos preços.

"Eu tenho advogado em várias colunas na política de fundos estabilizadores. Você tributa o exportador que está ganhando um lucro excepcional, por conta dos preços altos internacionais, e usa a tributação sobre esse lucro excepcional do exportador para dar algum tipo de subsídio para a cadeia local", explica.

A proposta, segundo o economista, garantiria crédito tributário ou algum benefício a segmentos como varejo ou atacado, desde que se comprometessem a garantir um preço máximo definido pelo governo.

"Mas não temos isso. Sem isso fica difícil. Vai ser nos juros, que é o remédio amargo que corre o risco de matar o paciente se ele for em dose muito alta. Seria melhor que o paciente tomasse um coquetel de remédio, não um remédio só", destaca.

Silva também defende que não se pode buscar reduzir a taxa de inflação brasileira única e exclusivamente a partir da política monetária, ou seja, a partir da elevação da taxa de juros Selic.
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Ao analisar o atual cenário, o vice-presidente do Corecon-SP afirma que a melhor acomodação da taxa de câmbio que tem figurado após a posse do presidente dos EUA, Donald Trump, pode "ajudar a conter a taxa de inflação e evitar que nós tenhamos altas de juros muito mais fortes".

"Já estamos no momento em que as taxas de juros já são bastante restritivas. Então o que eu quero mencionar é que, muito embora eu acredite que vamos ter aumento de taxas de juros nas próximas reuniões, conforme sinalizado, pode haver aumento na taxa de juros numa intensidade um pouco menor, especialmente se o câmbio ajudar, já que, creio que, do ponto de vista da política fiscal, não [teremos] grandes novidades nesse curto período de tempo", acrescenta.

Como o efeito Trump mexe com a situação fiscal brasileira?

Os gestos do novo comandante da maior economia do mundo podem afetar de diversas formas os rumos da economia brasileira, de acordo com os analistas.
Para Silva, políticas como a expulsão em massa de imigrantes podem refletir na política interna norte-americana, baseada na escassez de mão de obra, o que consequentemente aumenta os preços em cadeia. Outro problema citado por ele é a questão do protecionismo.
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"O acentuado protecionismo prometido pode fazer com que haja restrições à oferta de produtos dentro do território americano e, claro, se você reduz a oferta e a demanda permanece a mesma, provavelmente os preços tendem a aumentar lá, o que vai exigir do Federal Reserve — o FED, o Banco Central americano — maiores taxas de juros para manter a inflação comportada e dentro das metas estabelecidas", comenta.

A decisão, portanto, impactaria o Brasil e outras nações mundiais da seguinte forma:

"Quando o governo americano aumenta juros, há uma demanda maior e pressionada por títulos do governo americano, considerados os mais seguros do mundo. O dinheiro mundial vai para aquela região, falta em outros lugares, e isso exige claramente que os demais bancos centrais do mundo, para se proteger, para não ter uma fuga de dólares, acabem aumentando suas taxas de juros", explica.

O professor afirma que, embora o Brasil não tenha uma perspectiva de fuga de capitais por nenhuma razão, já que conta com reservas internacionais necessárias e suficientes para fazer frente às suas demandas, "é impossível não termos algum reflexo em termos de juros aqui, se a inflação americana subir. O mundo todo se posiciona em um patamar de juros mais elevado", completa.
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